Crítica | 25 anos de “Homework” do Daft Punk

Embora a dupla francesa de música eletrônica tenha declarado hiato indefinido na carreira, seu legado é alicerçado em “Homework”.
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“Homework” é o começo de tudo – não apenas dos trabalhos do duo francês Daft Punk, como também do reconhecimento da música pop francófona e do sub gênero de música eletrônica house music. Criado em um quarto que os amigos Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter dividiam, o nome do álbum de estreia do Daft Punk pode ter dois significados. O primeiro, como conta Bangalter, é de que estudantes costumam fazer suas tarefas de casa (tradução do nome do disco) em seus quartos. Além disso, de forma complementar ao primeiro motivo, a decisão do nome Homework partiu da ideia de ser o primeiro trabalho da dupla. Se o Daft Punk fizesse bem a tarefa de casa, os trabalhos seguintes teriam uma boa base para deslanchar.

Bangalter e Homem-Christo

Há vinte e cinco anos atrás, a indústria musical apostou suas fichas na comercialização da cultura das raves. Nesse mesmo contexto, a música francesa (em especial a música eletrônica) começou a ser apresentada ao mundo. Nenhum dos trabalhos exportados deste gênero pareciam com o som que o Daft Punk desenvolveu – e talvez aí esteja a particularidade de Homework. Incorporando diversos subgêneros musicais, Homem-Christo e Bangalter dedicavam oito horas semanais para desenvolver seu trabalho primogênito, que ficaria pronto em cinco meses. As faixas foram ordenadas de forma que o resultado final do disco fosse um LP duplo:

“Tivemos muitas faixas e tínhamos que colocá-las em quatro lados… não houve tema planejado, porque todas as faixas foram gravadas antes de arrumarmos a sequência do álbum. A ideia era fazer as melhores canções serem mais agradáveis aos ouvidos, organizando-as a forma como a fizemos para torná-lo mais do que um álbum”.

– conta Homem-Christo.

Mas a ligação com o vinil não para por aí: Daft Punk pensava que a maior parte das cópias de Homework deveriam ser impressas em vinil. Apenas cinquenta mil cópias foram gravadas – inicialmente – em CD. Depois de seu lançamento, o disco recebeu excelentes repercussões, e por isso mais cópias foram impressas. Mais de dois milhões de cópias foram vendidas em poucos meses após seu lançamento. Seu sucesso não foi apenas em números, mas também em resultados menos exatos. Homework foi um marco significativo para o cenário da house music mundial (um salve caloroso para “Da Funk” e “Around the World”). Além disso, o disco aparece no livro “1001 Albums You Must Hear Before You Die” (1001 álbuns que você deve ouvir antes de morrer), do crítico musical Alex Rayner

Homework serviu como uma ponte entre os mais estabelecidos estilos de eletrônica e o crescente ecletismo de big beat. E ele provou a muitos seguidores do clube que havia mais na dance music do que pílulas e predefinições de teclado”.

– afirma o jornalista.

Os equipamentos usados pela dupla eram comuns para os anos 90, mas mesmo assim ainda eram um pouco primitivos. A tecnologia ia se desenvolvendo, todavia os sequenciadores, samplers, sintetizadores e demais apetrechos utilizados pelo Daft Punk eram simples. Talvez aí esteja o charme de Homework: enquanto os produtores musicais se empenharam em conseguir os melhores e mais modernos equipamentos para seus projetos, a dupla francesa fez a tarefa de casa com o que tinham ao seu alcance.

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A dupla Daft Punk com seus icônicos “capacetes”

Vinte e cinco anos depois, Homework não perdeu sua pose de sucesso (massivo, podemos dizer). A nostalgia que o disco causou aos ouvintes no final da década de 90 foi reciclada em uma obra atemporal. A house music nunca foi a mesma depois de seu lançamento, uma vez que Daft Punk passou a ser uma dupla “temida” por todo o potencial que tinham em desenvolver trabalhos surpreendentes e inconcebíveis a uma primeira vista.

Nota da autora: 95/100

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