A artista que sou: Lizandra

Conversamos um pouco com Lizandra, cantora mineira que encantou a tantos na pandemia.

Entender o que forma o artista em um artista é essencial para conhecer melhor seu trabalho. Como criadores, sabemos o papel importante que as pequenas coisas diárias tem e como elas influenciam diretamente no que criamos e fazemos com nossa arte. Com isso, queremos entender como essas pessoas com sensibilidade aflorada são moldadas, quais são seus gostos, o que fazem, escutam, assistem.

Lizandra é natural do interior de Minas Gerais, de uma cidade chamada Guimarânia e atualmente mora em Patos de Minas. Conseguiu visibilidade através de seus covers no Tiktok, onde um dos mais populares é “Coisas que eu sei” — música original de Danni Carlos. No total, a mineira já acumula milhões de visualizações na rede social.

“Em poucos dias ganhei mais de 50 mil seguidores e logo o vídeo bateu 1 milhão de views. Algumas pessoas foram me seguir na minha conta do Instagram e compartilhar por lá”, conta em entrevista. Recentemente lançou o álbum “O medo vira poesia”. Nele, ela traz uma retrospectiva de suas melhores músicas, feita especialmente para esses novos ouvintes e para encantar qualquer um que decida conhecer o seu trabalho.

Recentemente você fez seu primeiro show em São Paulo. Como foi a experiência e a recepção do público paulista?

Foi o meu primeiro show em São Paulo e nossa! Teve um show de abertura da Luana Mascari e logo que ela pisou no palco, eu senti lá do camarim essa energia do público. Ela me disse que as pessoas estavam muito receptivas, até brinquei com isso. Tanto que apareceu no aftermovie que eu estava tão ansiosa que parecia que era o meu primeiro show, assim, porque muita gente me conheceu pela internet, recentemente. Mas é diferente quando você vê a galera no ao vivo, não é? É você sentir, de fato, como as pessoas estão e nossa! Foi a coisa mais linda do mundo, porque a galera realmente foi de coração aberto. Cantaram praticamente todas as músicas comigo. Foi muito, muito especial.

Eu tenho isso… esse carinho e proximidade. Faço questão e já é uma marca que estava presente em meu show aqui em Passos (Minas Gerais), que é a minha cidade. No primeiro show de lançamento do meu LP, a gente distribuía alguns balões em um momento mais animado, e dentro deles tinham alguns recadinhos. Aí, no show que deu origem ao álbum ao vivo que lancei, penduramos algumas poesias para o pessoal pegar. Então, pensei em trazer isso também para São Paulo e eu me lasquei porque agora todo o show o pessoal vai esperar algo assim (risos).

Você lançou o “O medo vira poesia” bem recentemente. Em suas palavras o descreveu como simbólico e que vinha para fechar ciclos. O que podemos esperar desse novo ciclo que começa?

Sinto que, como compositora, eu funciono com ciclos. Aí tenho períodos muito férteis e depois dou umas travadas. Acho que até pra viver mesmo… para sentir as coisas de outras formas. O DVD é composto por 9 faixas, eh, de todas que lancei esse ano, e peguei as melhores músicas, trouxe uma retrospectivas mesmo, mostrando o que acertei e o que errei. Sinto que essa fase que vai vir agora será mais madura artisticamente, na composição, na produção e nas músicas. É uma coisa que estou buscando trabalhar esse ano, esse amadurecimento como artista. Planejo lançar um álbum de estúdio com inéditas ano que vem e pretendo fazer isso com uma cabeça mais madura, me conectando com artistas e compositores, vivendo coisas novas. Esses dois anos de pandemia ajudaram a trazer esse bloqueio criativo.

Quem é a Lizandra compositora e quais são suas referências?

Essa coisa de compor eu comecei dos 15 para os 16 anos e foi no período que comecei a procurar músicas e artistas para escutar, por conta própria… acho que, até então, meio que ouvia de tabela. Lembro de ficar muito encantada com a música brasileira nessa época… de achar uns cds, uns discos lá em casa que o meu pai tinha. Lembro de achar um da Marisa…e lembro que nessa época conheci muito Ana Carolina. Tinha um DVD dela chamado “dois quartos” que eu ficava escutando todo dia para conseguir tocar e tal. Lembro de ouvir Chico Buarque também e de não entender nada, eu não conseguia digerir muitas das coisas que ouvia e quando chegava da escola e ia pegar o violão para poder tocar o que eu escutava, e como eram coisas difíceis, não conseguia tocar. Eu falei “é, e se eu fizer aqui as minhas coisas, não é? E se eu criar a minha música?” e então foi isso que me despertou.

Ana Carolina, na época, a Maria Gadú também tinha estourado com “Shimbalaiê”, e lembro de ver a Mallu Magalhães, e da coincidência de termos a mesma idade. Eu lembro de ficar assim, muito deslumbrada de ver. “Pô, ela tem 15 anos e a menina faz as músicas dela?!” Isso me chamou muito a atenção e acho que a principal força motora da Lizandra compositora é a timidez. Quando a gente é adolescente tem muita coisa na cabeça e a gente não consegue se encontrar direito. É uma fase muito estranha na vida da gente. Eu era muito tímida, tinha dificuldade de socializar, tinha poucos amigos e a música foi o jeito de mostrar o que eu estava sentindo. Tenho certeza que nesse período a música me salvou. Fiquei imersa nesse mundo de compor, de procurar os artistas que eu gostava e acabei criando um mundo na minha cabeça que era bom de se habitar.

Como é seu processo de compor?

Tenho tomado mais cuidado porque às vezes surgem ideias no momento que a gente não poderia ter. Hoje mesmo eu tava até revisitando a galeria de voz do meu celular e ela tá cheia de coisa com som do eco do banheiro, com o barulho da pia da cozinha e é um pouco isso. Eu comecei a ter um bloqueio criativo no final do ano passado… quase o segundo semestre inteiro do ano passado. Aí eu precisava fazer um negócio diferente e que ainda não fiz. Fui ler o “Caminho do Artista”. É um livro muito, muito legal.

Tem um curso que a autora dava presencialmente e o livro conta uma história e depois dá algumas atividades pra você ir fazendo e destravando. Estou indo muito na pegada dele e compor é uma coisa que gosto muito e tenho tentado fazer todos os dias. Quando vem as ideias eu anoto, mas tiro um pedaço do dia “ok, Lizandra… esse momento é seu” e sem ficar me cobrando muito. No período da pandemia, quando estava com bloqueio, qualquer ideia que aparecia eu já considerava ruim. Então, agora, mesmo que sejam coisas bobas, tento sempre concluir, sem ficar deixando coisas pela metade. Depois vejo se vou gravar e como vai ser, mas fico muito focada em simplesmente criar sem muitas amarras, que é a parte mais legal.

Como você define sua arte?

Acredito muito que é um grande propósito na minha vida. Fiz faculdade numa outra área e até trabalhei em outro seguimento, onde era tudo muito sofrido. A partir do momento que falei “ok, agora vai ser a música e vou fazer isso direito” é o que realmente dá sentido à minha existência. Acho que tenho uma missão com a música e encaro isso de uma forma muito profissional e muito bonita. Acho que sou um veículo para levar essa arte e amor para as pessoas, me cercando de todos os artifícios possíveis para fazer isso do melhor jeito que eu consigo.

Qual o lugar mais bonito que sua arte já alcançou?

Tem acontecido muito de usarem minhas músicas em casamentos e muito bonito quando pedem para entrar com alguma música minha. Fico muito feliz com esses momentos.

Qual artista você gosta de ouvir?

Gosto de tanta coisa… Dos brasileiros: Céu, sou muito apaixonado por ela… quando tava descobrindo minha voz ela foi uma pessoa que me ajudou muito e acho muito bonito como ela coloca a voz. Gosto muito da Marisa, Ana Carolina e Gadu, como falei. Também tem Anavitória. Gosto muito de Alabama Shakes… a vocalista (Brittany Howard) é sensacional. É muita coisa.

Me fala dois covers: um que você fez e tem um carinho especial e outro que você ainda quer muito fazer?

Uma que gosto muito é “Coisas que Eu Sei” (da Danny Carlos). Foi uma das primeiras que viralizou e estou trabalhando para lançar ela nas plataformas, com um vídeo bonitão… porque todo dia alguém me pede ela. Uma outra que quero muito gravar é — fiquei surpresa que em São Paulo cantaram — uma do Leandro e Leonardo que chama “Um Sonhador”. Gosto muito de pegar músicas que não são comuns na MPB e trazer para esse lado… quando cantei no show, fiquei surpresa com a recepção do público com essa música.

Uma música que não sai do teu repeat.

“Best of You” do Foo Fighters.

5 músicas do seu trabalho que você apresentaria para alguém que ainda não conhece sua música.

Vamos em ordem: “De Casa”, “Peleja”, “Ponto de Luz”, “Quero cuidar mais de mim” e “Varanda”.

Aproveite para acompanhar Lizandra em suas redes sociais como Instagram e TikTok, e também seguir a artista no Spotify.

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