Crítica | Calls é marcada por suspense e calafrios que mexem com o imaginário

Calls apresenta um universo com regras próprias onde a imaginação é a única responsável por seu desempenho

Aqui vai uma dica incrível de série: Calls, nova minissérie semi-antológica original da AppleTV+ que apresenta um formato já explorado de mídia sonora mas consegue se sai muito bem no quesito inovação.

Com um tom bastante sinistro e fictício, a série composta por 9 episódios apresenta viagens no tempo de uma forma diferente e dá um grande destaque para atuações impecáveis e emocionais. O roteiro acompanha um evento apocalíptico que ocorre às vésperas do ano novo, onde cada episódio tem sua própria narrativa e personagens, mas que estão co-ligados entre si por esse evento – e aparentemente acontecendo simultaneamente.

Criada pelo diretor Fede Alvarezresponsável por filmes como Homem das Trevas e A Morte do Demônio -, Calls apresenta um universo com regras próprias onde a imaginação é a única responsável por seu desempenho. Com vozes de Nick Jonas, Pedro Pascal, Lily Colins, Rosario Dawson, Jaden Martell, Aaron Johson, Aubrey Plaza e mais, o espectro envolto da série é um tanto curioso. Estamos acostumados a visualizar e ouvir na mesma medida e ao ter uma parte dessa experiência retirada, ficamos à deriva de nossa própria interpretação.

A série inteira é desenvolvida apenas por ligações que os personagens trocam entre si no decorrer do enredo, das quais são todas ilustradas com grafismos incríveis, hipnotizantes e propositalmente psicodélicos. No primeiro momento, isso soa demais como algo que a gente já conhece: os queridos podcasts, ou as famigeradas radionovelas. E são, de certa forma. Mas a imersão que o projeto provoca é uma grata surpresa a quem se entrega à proposta.

Apesar de casar muito com o momento em que vivemos de pandemia, a produção do projeto se iniciou em 2018 quando Alvarez trabalhava em algo parecido com esse formato para uma tv francesa, segundo sua entrevista para o Splash. Na conversa, o diretor contou que os atores curtiram muito a ideia pois os libertava de todas as regras de um set de filmagens regular, além de terem mais liberdade criativa em suas expressões sonoras. Ele ainda disse que seu intuito foi justamente brincar com a imaginação de quem iria assistir (ou ouvir) a série, e por isso, nem ele mesmo viu os atores gravando, apenas os ouviu.

Mesmo com o sucesso massivo que podcasts criminais e ficcionais ganharam nos últimos meses, o diretor afirmou que a série até poderia se tornar um, mas perderia boa parte de seu charme criativo, que são os efeitos psicológicos que os grafismos apresentados na tela de acordo que o roteiro se desenvolve a cada episódio. É notável que eles te prendem a cada minuto e instigam sua imaginação a criar cenários, personagens, expressões e situações que não são mostradas, apenas ouvidas.

Brincar com o subconsciente é sempre uma surpresa, e em Calls temos exatamente esse confronto. Os episódios de aproximadamente 15 minutos prendem e exigem que quem está assistindo se desprenda dos métodos tradicionais – onde a imagem faz a maior parte do trabalho de explicação – e embarque em algo abstrato, decidindo criativamente como e o que vai acontecer de acordo com o que o roteiro vai te apresentar.

Similaridades com recursos existentes são óbvias, mas a inovação do combo proposto pelo projeto se mostrou bastante segura e isso transparece para quem o consome. Sem dúvidas, uma das apostas mais ousadas da Apple trazendo o brilhantismo da mente psicodélica de Alvarez.

Assista ‘Calls’ na AppleTV+.

Nota do autor: 91/100

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