Crítica | The Black Keys, “Dropout Boogie”

The Black Keys entre um disco maçante e pouco criativo em seu décimo primeiro trabalho de estúdio

Não há como negar que os Black Keys fazem parte do grupo seleto de artistas “modern rock” que ajudaram a manter o alto nível técnico no estilo nos anos 2000, ainda que em uma vertente inspirada e influenciada pelo folk e pelo blues, incomum para as rádios e as grandes audiências; até por isso eles não se consideram parte do mainstream – não lotam arenas de shows, nem estão nos charts da Billboard, por exemplo. Os estadunidenses exploram sonoridades características de referências interioranas dos Estados Unidos, mas estão bem longe de terem que lidar com o anonimato ou a desconfiança de quem é denominado indie por aí.

Se o “rock” entrou em decadência no início do século, faz sentido colocar o exímio guitarrista e produtor Dan Auerbach e o excelente baterista Patrick Carney como referências para nomes promissores da nova geração como Royal Blood e Nothing But Thieves. A impressão que o ouvinte tem, numa perspectiva de análise geral, pelo menos por agora, é que o duo de Ohio era uma das raras exceções do gênero que não havia entrado em crise como a maioria das outras bandas rockeiras de norte a sul do globo. Era.

Na última década, os parceiros lançaram nada mais nada menos que quatro trabalhos de estúdio: o maravilhoso e psicodélico “Turn Blue” (2014), o regular “Let’s Rock” (2019), o ótimo disco de covers “Delta Kream” (2021) e, agora, “Dropout Boogie”, divulgado no início de maio, com dez faixas e quase trinta e cinco minutos de duração.

O problema com “Dropout Boogie” se dá, em grande parte, à falta de criatividade de dois músicos talentosíssimos, de enorme potencial para cada vez mais enriquecerem a própria discografia e catálogo musical.

O décimo primeiro álbum dos Black Keys soa como uma terceira ou quarta visita a tempos áureos da banda entre 2008 e 2014, sem entregar canções que se justifiquem sozinhas. A sensação que fica durante a experiência de ouvir o disco é que, de alguma forma, a dupla precisava cumprir contrato com a Warner e resolveu lançar o trabalho mais sem brilho de toda a carreira apenas pelo comodismo de tentar se manter relevante.

Diferente do álbum de covers Delta Kream, excelente por apresentar novos arranjos e diferentes leituras de grandes faixas da música contemporânea, em Dropout Boogie Dan e Patrick parecem descompromissados, na pior das intenções. Se o intuito era divulgar material novo para sair em turnê após alguns anos de pandemia, até que se justifica, mas uma discografia tão brilhante quanto a dos donos de Brothers e El Camin” era digna de algo pelo menos regular.

Em Turn Blue eles eram psicodélicos, melódicos e até corajosos em suas composições, entretanto, aqui, não há senso de direção. Ainda que toda obra deva ser validada pelo sentimento e expressão de quem a produz, o décimo primeiro álbum de estúdio do The Black Keys é um amontoado de buracos que não conversam entre si e nem agradam até os mais fãs enquanto únicos.

Há uma leve esperança no trabalho que chega com o single “It Ain’t Over”: performático, com potencial para agradar nas apresentações ao vivo. A colaboração com o lendário membro do ZZ Top, Billy F. Gibbons, “Good Love” também funciona. Talvez sejam os dois únicos respiros de um disco monótono, sem vibração e com approach bluesy e folk já revisitado pela banda em, no mínimo, outros três álbuns.

Aqui, a preocupação com o futuro da dupla se faz presente, afinal, o play recente que mais agrada é justamente um disco de covers, onde os músicos criam releituras de clássicos folk/blues rock que conseguem com facilidade superar quaisquer expectativas de supostas “novidades”. E, no significado literal do termo, estas canções até podem ser novas por conta do desconhecimento público, mas soam exatamente como as faixas mais esquecíveis de “Magic Potion”, de 2006.

É importante que bandas e artistas se sintam confortáveis no processo de composição e produção de um álbum, é verdade, mas em Dropout Boogie os Black Keys enfatizam a importância de também não se deixar cair no marasmo e tentar, ao menos, criar um trabalho que vá além da zona de conforto. O catálogo brilhante do duo de Ohio, definitivamente, merecia muito mais.

Nota: 34/100

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