“Despertares”: MUBI estreia sessão adolescente repleta de sensibilidade

Stephen Cone enriquece cinema adolescente ao abordar amadurecimentos, despertares, sexualidades, famílias e religião

A adolescência é um período conturbado. A juventude contemporânea ainda enfrenta os mesmos e tradicionais dilemas que suas gerações anteriores. Este processo de descoberta e autoaceitação são abordados de forma sensível e pungente nos filmes do diretor Stephen Cone, que estão disponíveis no MUBI até 2022, no especial Despertares

A sessão Despertares está disponível no MUBI.

Cone cresceu na Carolina do Sul, uma das regiões mais conservadores dos Estados Unidos. O cineasta queer, hoje com 40 anos, quebra os padrões industrializados do cinema norte-americano para adolescentes. Mais sensível, mais humano e mais autoral, os filmes do diretor abordam a dificuldade de adolescentes aceitarem a sua sexualidade e, consequentemente, a sua própria existência. Intrínseco a essas questões, o diretor insere dramas familiares e dilemas religiosos na narrativa de seus jovens protagonistas.

Cone define seus filmes como “cerca de 47% gays“. A definição se encaixa perfeitamente nas essências e peculiaridades de cada uma de suas histórias. Os jovens de Cone ainda não tem suas personalidades traçadas ou definidas. Eles estão juntando cada peça de um quebra-cabeças interminável e definindo quais peças fazem parte do que realmente são e quais as outras que foram forjadas e moldadas por perspectivas alheias.

Os três títulos do especial Despertares, que além de dirigidos também são escritos por Cone, são retratos universais do amadurecimento. As histórias são repletas de sensibilidade e empatia. Em nenhum momento o diretor define antagonistas para seus personagens. Muito pelo contrário, busca levantar motivações e interpretações compreensíveis para cada um dos adultos que, muitas vezes, têm visões de mundo e de realidade diferentes daquelas dos adolescentes abordados.

The Wise Kids (2011), Henry Gamble’s Birthday Party (2015) e Princess Cyd (2013) são presentes para jovens em evolução e para cinéfilos que se empolgam com sentimentalidade e verossimilhança. Eles também consagram Stephen Cone como um nome que traz coisas novas em um mercado audiovisual marcado por padrões estéticos e narrativos.

The Wise Kids (2011)

Este é o mais pessoal dos três filmes da sessão. Baseado na infância do diretor no Sul conservador, o longa se passa entre o colegial e a faculdade e narra a história de três personagens principais. Brea, filha de um pastor batista, sua amiga Laura e Tim, que está descobrindo sua sexualidade. Unidos por anseios e expectativas, o filme tem uma carga dramática acentuada que cresce e se torna ainda mais interessante quando coloca na mesa discussões sobre fé e identidade sexual .

Henry Gamble’s Birthday Party (2015)

O melhor dos três filmes do diretor, o filme se passa em apenas um dia. É o aniversário de Henry Gamble, um jovem evangélico que está secretamente explorando possibilidades e desejos sexuais. Na festa estão reunidos amigos de Gamble, da igreja e da escola, além de vários adultos da comunidade religiosa. A construção dos personagens é impecável e, embora a trama se passe em poucas horas, é possível ver a evolução do protagonista que se torna narrativamente rico através de gestos sutis e romances imprecisos. Quase todo em tons de azul, onde a piscina da casa tem a força de um personagem, o filme conta também com a atuação de Joe Keery, o Steve de Stranger Things.

Princess Cyd (2017)

Diferente dos outros dois, Princess Cyd é protagonizado por uma garota. Filha de uma pai depressivo, a jovem vai passar o verão em Chicago com sua tia, uma escritora de sucesso da literatura estadunidense.  Durante as férias, Cyd se apaixona por uma garota da vizinhança, a barista Katie. Mais do que o romance, o filme foca nos conflitos de Cyd consigo mesmo e na relação que constroi aos poucos com a sua tia. 

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