Crítica | Midsommar: onde o mal não espera anoitecer

Longa da renomada distribuidora A24 mostra na trama central um relacionamento complicado, mas a coisa é ainda mais profunda.

Assim que chegou aos cinemas em 2018, “Hereditário” logo foi creditado por muitos como um dos melhores filmes do ano e, instantaneamente com o apelo da crítica, começou a carregar nas costas o título de longa mais aterrorizante feito em décadas, e de fato, pra muitos ele é.

Deixando de forma breve mas forte a sua marca com o filme, o público mal esperava para assistir mais uma produção do diretor responsável pela obra que fez muita gente passar mal. Com isso, em 2019 o Ari Aster retorna e o mundo conhece “Midsommar – O Mal Não Espera a Noite“, um longa que para quem gostou do anterior do cineasta, acaba sendo mais uma vez um prato cheio de símbolos e misticismo.

O conceito de realizar um filme de terror que se passa inteiramente durante o dia, não é algo novo. Tanto é que Aster toma como inspiração o gênero folk horror, que mostra uma narrativa girando em torno de rituais pagãos. Seguindo essa premissa básica, a gente conhece Dani e Christian, que possuem um relacionamente complicado, que por falta de comunicação parece nunca se resolver. E após Dani passar por um enorme trauma, o namorado decide então “convidá-la” para uma viagem já toda montada para ele e seus amigos com destino ao vilarejo de Harga, no interior da Suécia. A intenção: participar da celebração de verão Midsommar.

Olhando assim, de longe, parece ser um coisa bem banal, mas na verdade todas as simbologias e conceitos que são aplicados no filme têm por objetivo nos fazer refletir, seja essa reflexão sobre as loucas ações culturais do festival (que são bem árduas de digerir), ou sobre o quanto pessoas e relações podem ser complexas.

As muitas camadas

Acima de tudo, a história busca mostrar as mais diferentes visões de luto, amor, traumas e sanidade, mas acima de tudo, quer assustar quem assiste não através de jumpscares ou outros artíficios comuns usados em longas de terror, mas sim pelas muitas mensagens transmitidas de maneiras minuciosas.

Não espere algo fácil de absorver ou simplesmente captar de primeira, o filme possui diversas camadas que vão evidenciar excessivamente como a vida pode ser dolorosa, e por que incrível que pareça, isso nos é mostrado até que de uma maneira simples, mas é preciso atenção para enxergar toda a complexidade da obra.

Como se já não bastasse nos guiar a uma viajem insana somente com o tema e o desenrolar da história, Ari Aster merece ser contemplado (e muito!) pelo tecnicismo com “Midsommar: O Mal Não Espera a Noite“. Desde o seu primeiro momento até o seu fim, que é todo composto por uma áurea lotada de emoções, que pode ser percebida justamente devido a direção, trilha e atuação genial da Florence Pugh.

São movimentos de câmera capazes de contar novas histórias por si só e uma trilha vibrante criada por Bobby Krlic. A composição sonora é um artefato de suma importância para o filme, que quando escutada a parte nos faz ver a grandiosidade das músicas densas, vivas e que logo despertam um efeito de estranheza. Destaque para “Fire Temple“, uma das 12 faixas da tracklist que possui 9 minutos e é sufocante e ao mesmo tempo, revitalizadora.

Florence. Pugh.

Incorporar em uma perfomance tudo que a gente vê nesse filme é algo complicado, mas se teve a pessoa certa para fazer isso, foi a Florence Pugh, ela é, sem a menor sombra de dúvidas, uma das melhores coisas que se pode ver em tela durante os quase 150 minutos de duração.

Sem a força que Pugh (e aquele sorriso tenebroso na conclusão) nos oferece no longa, a experiência provavelmente não seria a mesma. Os semblantes da mais pura incerteza diante de todos os assustadores atos que vê diante de si, o medo e o caos são apenas algumas coisas que a atriz consegue transmitir com muito peso em uma personagem que está fraturada, mas que acha um propósito para todo o desgate que vinha corrompendo-a.

Para um filme como esse, onde há uma conclusão melancólica e chocante, a Pugh nos entrega uma atuação que é quase como o andar de uma música se tornando crescente, sempre evoluindo, chegando então, no esperado ápice.

Arte de Louis Picard.

Onde assistir?

Você pode assistir “Midsommar – O Mal Não Espera a Noite” no catálogo do Prime Video, serviço de streaming da Amazon que pode ser assinado por apenas R$9,90 mensalmente.

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