Crítica | Grace and Frankie se despede apresentando novos começos

Após 7 temporadas, Grace and Frankie termina, honrando todo o legado de sua construção de forma madura, delicada e cômica.

Uma das nossas comfort series de 2021, mais uma queridinha da Netflix concluiu sua jornada, Grace and Frankie chega ao fim após 7 temporadas deliciosas. A última parte da produção, que precisou ser interrompida depois do lançamento de apenas 4 episódios por conta da pandemia, chegou ao streaming com mais 12 episódios, que mantém o alto padrão de qualidade do show com ótimo humor e abordando com muita consciência diversos assuntos importantes que permeiam a maturidade da vida.

Na reta final, a série continua seu trabalho primoroso em expor a vida na velhice, suas possibilidades e obstáculos. Agora, ela também entra em territórios que vão muito além dos recomeços, da vida sexual e de redescobertas pessoais e coletivas, começa também a explorar limitações naturais, como a memória, coordenação motora e até mesmo o medo de ser esquecido pelos outros, além da compreensão sobre vida e morte.

Imagem: Netflix/Grace And Frankie (reprodução)

Sem perder o bom humor e a ternura no roteiro, a série entra em campos mais sérios em seus 12 últimos episódios, que modificam a dinâmica da dupla principal, mas que conseguem ainda assim, tornar Grace (Jane Fonda) e Frankie (Lily Tomlin) ainda mais parceiras e conscientes da importância que uma tem para outra no aprendizado e na vivência juntas.

Após 7 temporadas moldando a relação entre as personagens principais, a série ainda não deixa de lado a dinâmica da amizade que permeia alguns ressentimentos, nostalgia e até crises existenciais. Isso a torna ainda mais cativante, a dupla central se completa em diversos aspectos, mas são nas diferenças que elas se complementam e ensinam uma a outra como lidar com suas próprias limitações.

É surreal como estas gigantes da atuação se entrelaçam na tela, Jane e Lily, que já são amigas de longa data, trazem um frescor para as cenas e uma parceria tão intensa que os momentos em que elas não estão juntas na tela, dão a sensação de que falta algo (e isso é parte importante da construção da série). Chega a ser preocupante para o espectador não ter as duas juntas em alguns momentos que o show nos apresenta em alguns episódios.

Um elenco brilhante…

A história de duas ex-inimigas que se transformam em companheiras inseparáveis, após seus respectivos maridos terminarem os casamentos de anos para ficar juntos, não cativou a crítica logo de início, mas encantou o público rapidamente com seu jeito doce, cômico e sútil de abordar o recomeço da vida na terceira idade.

No elenco, tanto o duo entre Lily Tomlin e Jane Fonda, quanto a dupla formada por Sam Waterston e Martin Sheen merecem as honrarias por suas atuações brilhantes e química inegável em cena. Em ambos os arcos, os personagens se sustentam de forma única e – mesmo que no fim das contas as maiores estrelas da produção sigam sendo Fonda e Tomlin – entregam histórias paralelas que se encaixam lindamente e constroem uma dinâmica muito bem estruturada, que os transforma de um ex-casal em um grupo de amigos.

E uma direção certeira

Com um elenco brilhante de veteranos, fica difícil dar espaço para os demais membros da produção, mas esta missão foi dominada com maestria pelos criadores da série, Marta Kauffman e Howard J. Morris e pelos diretores Tate Taylor e Scott Winant. Todos os arcos de Grace and Frankie funcionam bem e seus respectivos personagens são protagonistas de suas narrativas de forma equilibrada e muito bem-feita.

Imagem: Netflix/Grace And Frankie (reprodução)

Ainda que o foco seja as duas mulheres, as narrativas dos filhos – Bud (Baron Vaughn), Coyote (Ethan Embry), Mallory (Brooklyn Decker) e Brianna (June Diane Raphael) – tem um espaço muito bem definido e seus personagens apresentam individualmente um crescimento notável se comparados à temporada 1. Há sim, algumas inflexões e escolhas que tem pouco a agregar ao fim da série perto dos demais temas, mas isso não reduz em nada o brilho da produção.

Grace and Frankie termina sua história exatamente como começou: cativante, especial e necessária, deixando um gosto de quero mais e concluindo suas histórias com um ar de novos recomeços para os personagens, um sentimento que inclusive, dá ao espectador um desejo simples de rever a série no mesmo instante em que ela termina. A finitude da vida pode até ser um dos temas principais da última temporada, mas a série, sem sombra de dúvidas, conseguiu se consolidar como uma obra imortal.

Assista a temporada final de Grace and Frankie na Netflix.

Nota: 100/100

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