Crítica | BLACKPINK se manifesta de forma honesta e pessoal em Light Up The Sky

De trainee, incertezas, amizades desfeitas e muita esperança, podemos ver pelo olhar das quatro integrantes como foi chegar ao ápice do girl group

A Coreia do Sul tem se destacado em vários ramos culturais antes dominados puramente pelos Estados Unidos, como o filme Parasite ganhando o Oscar de ‘Melhor Filme’ e o BTS levando o primeiro #1 por um ato coreano na história. Comparado com BTS, outro grupo que tem se saído muito bem nas vendas americanas – inclusive batendo recordes de visualizações no YouTube – é o BLACKPINK.

Entretanto, vários descasos da empresa coreana (YG Entertainment) fazem elas não cresçam tanto quanto deveriam. Quem é fã de BLACKPINK deve idolatrar o mês de outubro de 2020. Depois de lançar o primeiro full álbum da carreira depois de 4 anos do debut com ‘Boombayah’ e entre longos períodos de hiatos, o grupo coreano lançou, no dia 14, seu documentário global em uma parceria com a Netflix, ‘Light Up The Sky’.

Para muita gente que não as conhecia, o documentário serve como um bom pontapé inicial para entender não apenas o grupo, mas também a cultura midiática coreana.

Nos seus minutos iniciais, o documentário, que recebeu o nome de BLACKPINK: Light Up The Sky, se ocupa de mostrar um pouco o hallyu, nome dado por estudiosos à “onda coreana” que dominou o mundo majoritariamente com a música ‘Gangnam Style’, do solista PSY. Entretanto, apesar do viral, é importante salientar que outros grupos vieram antes de BLACKPINK e BTS, e que possibilitaram o acesso mais facilitado da música coreana no nosso cotidiano.

O maior girl group da Coreia

Quem acompanhava a MTV em 2010 lembra de um grupo coreano feminino que fez bastante sucesso por aqui. Girls Generation é considerado por muitos o maior girl group (como é chamado) mais famoso da Coreia, tendo recebido por lá o título de grupo da nação. A música debut do grupo, ‘Into The New World’, é sempre tocada em protestos na Coreia do Sul, representando quase um hino para a sua cultura.

Além de Girls Generation, outro grupo da mesma empresa de BLACKPINK era concorrente delas, e teve tanto sucesso quanto o primeiro grupo em termos de Ocidente. 2NE1 contava com quatro membros, assim como o BLACKPINK, com músicas que mistura o conceito girl crush – coisa que o BLACKPINK também segue -, com um rap forte e vozes únicas. Sem o debut e investimento desses grupos no Ocidente, considero que a cultura do hallyu não teria se expandido tanto quanto foi, e muito menos que grupos em 2020 de pop coreano tivessem acesso ao topo dos charts americanos.

Apesar de falarem da onda do hallyu, o documentário foca majoritariamente nas componentes do BLACKPINK, Jisoo, Jennie, Rosé e Lisa. Cada uma delas conta um pouco das suas vidas individuais e das suas experiências em grupo, que nos levam a entender o porquê BLACKPINK ser o girl group de maior sucesso atualmente.

Inicialmente, o fato do grupo ter uma estrangeira – Lalisa Manoban, a dançarina principal e uma das rappers do grupo é tailandesa – e ter mais duas membros que moraram fora da Coreia contam bastante para a montagem rica de BLACKPINK. Park Chaeyoung, ou Rosé, seu stage name, é neozelandesa e morou na Austrália, e Jennie Kim, coreana que morou boa parte da sua infância e adolescência na Nova Zelândia, são fluentes em inglês e ajudam bastante na comunicação do grupo no exterior. Apesar disso, Kim Jisoo, naturalmente coreana e não-fluente em inglês, tenta aprender o idioma e evoluir para que consiga acompanhar suas membros.

Dentre os momentos tocantes que mostram a vida particular de cada uma, fica explícito o tom de superação do documentário.

Para ser trainee, as meninas tiveram que abandonar completamente sua vida pessoal em detrimento da possibilidade (já que não é assegurado) de debutar. Jennie, a que teve mais tempo dentro da empresa, em certa parte do documentário fala que teve de dar adeus a várias amigas que criou lá dentro, mas que não entrariam em um grupo e foram dispensadas das atividades de trainee.

Além disso, as próprias histórias pessoais e individuais mostram que elas também passaram por alguns perrengues na carreira. Entre Jisoo ser hostilizada pela própria família e ser chamada de feia (e sendo hoje considerada uma das mulheres mais bonitas da Coreia), Jennie tendo dores crônicas e sofrendo de machucados péssimos, Lisa indo para a Coreia na esperança de debutar sabendo somente uma palavra em coreano, Rosé sofrendo por estar longe e sem contato pessoal com a família que mora em outro país… São diversas possibilidades que mostram a real dinâmica da vida das quatro.

As transições entre as histórias também são muito interessantes. Duas se destacam, nas pontes entre Jennie-Lisa e Jisoo-Rosé. Para quem conhece o grupo, percebe que existem duas pessoas que são as mais artísticas – e compõem as únicas posições principais definidas, a de vocal e a de dançarina. Lisa e Rosé são vistas pelas meninas como as que realmente nasceram para ser artistas, e as que elas viam com maior possibilidade de ingressarem na indústria.

Ao longo do documentário vemos uma série de acontecimentos especiais e marcantes para o grupo: a estreia com a música ‘Boombayah’; as séries de gravações em estúdio com o produtor de todos os seus singles, Teddy; a explosão mundial e a crescente popularização, percebidos majoritariamente depois da música viral ‘DDU-DU DDU-DU’, que as rendeu apresentações nos EUA e assinatura com a Interscope; a estreia do penúltimo lead single delas, ‘Kill This Love’, que trouxe o Coachella de brinde; e ‘How You Like That’, trazendo o recorde temporário de Music Video mais visto em 24 horas, mostrando o início até o real ápice mundial.

O fim do documentário traz uma visão agridoce, e é assim que irei também terminar esse artigo.

BLACKPINK é sim o maior girl group em atividade hoje. Entretanto, até quando? Para quem acompanha o k-pop, sabe que principalmente os grupos femininos tem prazo de validade: após certa idade e tempo de atividade, elas são simplesmente esquecidas na Coreia e substituídas por um grupo mais novo. E o fim é justamente esse: uma conversa casual entre as quatro, com elas se projetando em 10 anos, se perguntando se ainda “serão BLACKPINK em 10 anos”.

E, acostumados como estamos em ver grupos de anos voltando e fazendo turnê – como Pussycat Dolls -, é desanimador pensar nisso. Por isso, blinks, ouçam, deem stream, votem nas premiações coreanas, porque o futuro não é otimista e nos espera logo logo. Em uma expressão usada muito na Coreia: FIGHTING BLACKPINK e blinks!

Nota da autora: 97/100

Assista ‘Light Up The Sky’ na Netflix.

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