Crítica | Videodrome e o sombrio mundo de David Cronenberg

“O que quer que aconteça na tela da televisão emerge como realidade”

Chegou a hora alternativa para quem adora um filme diferente. Alguns consideram o mais bizarro, já outros, uma alucinação gigantesca. Em 4 de Fevereiro de 1983, David Cronenberg lançava seu novo longa metragem, o inquietante Videodrome. Um filme tecno-surrealista carregando uma crítica social grandiosa se parar para observar os mínimos detalhes.

Na trama, Max Renn (James Woods), é dono de uma pequena emissora de televisão a cabo, capta imagens de uma “snuff”, que seriam cenas de pessoas que eram realmente torturadas e mortas. Inicialmente os sinais pareciam vir da Malásia, mas depois descobre-se que eram gerados em Pittsburgh. Gradativamente Max fica sabendo que esta transmissão se chama Videodrome, que na verdade é muito mais que um mórbido show de televisão. Max começa a sofrer efeitos bizarros e alucinógenos destas transmissões, se vendo no meio das forças que criaram e querem controlar o Videodrome. Mas Max descobre que seu corpo pode ser a última arma que poderá usar contra seus inimigos.

“Videodrome” pôster oficial

Em meio a temas de super estimulação e transmigração através da tecnologia, Cronenberg emprega um arsenal de efeitos grotescos de maquiagem que se alinham à narrativa alucinatória e constrói uma experiência inesquecível onde a dor e o desejo são intercambiáveis, obscurecendo as linhas entre horror e erotismo a limites perturbadores. Parece Cronenberg adivinhou o futuro da TV aberta, com atrocidades humanas, exploração da pobreza, telejornais com crimes bárbaros, fazendo o público ficar colado diante das telas enfeitiçado com a violência e claro, o sensacionalismo, fazendo uma lavagem cerebral em sua mente.

Como costuma dizer meu professor de Mídias Digitais; “Temos que tomar cuidado, não devemos nos prender apenas ao que a TV aberta nos fala”. Por outro lado, o filme também toca na questão das imagens, hoje em dia tudo é questão de imagens, quando paramos para observar ao nosso redor, projeções de tela grande (TV), para a tela média (Computadores, Notebooks e Tablet), além das telas pequenas (Celulares). Pessoas que se tornam celebridades no youtube, ou simplesmente vídeos de 15 segundos no stories do instagram, assim como no seu IGTV, se tornando algo viral e uma febre, só observar nossos consumos compulsivos por esse material imagético.

 

Voltando aqui para a trama, o personagem Max tem sua vida virada de cabeça pra baixo ao experimentar e viver essa nova era do videodrome, isso porque esses vídeos não meche apenas com a psique dos telespectadores, mas também daqueles que estão por traz operando o serviço. Como Max não é mais capaz de dizer a diferença entre ficção e realidade, ele se torna um peão em um jogo de poder entre a empresa de Convex e Bianca, filha de Brian O’Blivion, e conforme sua vida vai alterando para um pesadelo sem saída, ele ainda é capaz de vingar seus atormentadores antes que o filme chegue ao seu clímax sombrio e ambíguo.

Videodrome é uma obra prima de David Cronenberg que merece ser visto e apreciado por todos, ainda mais nos dias atuais, incrível como ele conseguiu criar toda essa alegoria numa época distante, onde se encaixa perfeitamente com a atualidade.

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