Crítica | Lana Del Rey, “Chemtrails Over The Country Club”

Aproveitando o momento alto da carreira, Lana Del Rey aperfeiçoa seus acertos em Chemtrails Over The Country Club.

Quando Lana Del Rey anunciou que estava preparando seu sétimo álbum de estúdio, não havia dado um dia do lançamento de seu sexto, o tão bem reverenciado ‘Norman Fucking Rockwell!’. Essa disposição para trabalhar logo em um novo projeto acabou despertando muita curiosidade, principalmente em razão deste desprendimento sobre algo que mal acabara de vir ao mundo oficialmente, e que em alguns dias já seria denominado como o grande pico musical da artista. Caminhar com velocidade para uma nova fase pode significar muitas coisas, mas no caso de Lana isso representa algo que ela vem fazendo desde sempre; que é tratar cada disco que lança como algo simples, muito longe de todo o endeusamento que seus fãs praticam sobre qualquer lançamento seu.

O problema de Lana nunca esteve em sua música, já que desde seus primeiros hits já era notável sua delicadeza em relação a composições, além de sua forma única de contar histórias em melodias tão estranhas que até a própria encontrava dificuldades em apresentações ao vivo. O difícil de engolir era sua personalidade, que parecia feita a partir de retalhos de estrelas da era de ouro de Hollywood e fabricada de uma forma tão forçada que qualquer desconfiança sobre o boom repentino de ‘Video Games’ levava a desconfiança sobre uma nova artista plantada pela indústria. Enquanto esses comentários se tornavam mais tímidos ela continuava a fazer música boa, e entre alguns tropeços e acertos o saldo se mostrava muito positivo, o que já era uma surpresa. 

Em Chemtrails Over The Country Club ela poderia ter feito qualquer coisa, justamente por ter acertado tanto dois anos atrás. Lana havia ganhado uma espécie de ‘passe livre invisível’, já que ninguém esperaria que este superasse o disco anterior, e aquele ainda soava tão atual que as cobranças em um novo trabalho não seriam tão altas assim. Aqui ela aproveitou para maximizar a própria sonoridade, entregando onze músicas que são mais provas de que não adianta ficar reclamando da persona ou da musicalidade, porque não vão existir mudanças drásticas. O que a cantora vai prover será apenas uma extensão do que ela tem feito durante todos esses anos, com cada vez menos daquele glamour de quando ela surgiu e cada vez mais uma simplicidade que ela adquiriu ao longo do seu amadurecimento.

Um dos melhores momentos do álbum é logo no seu início. ‘White Dress’ é como uma faixa coringa, que pode ser absorvida sem qualquer conhecimento sobre toda a história da cantora, mas que deixa uma sensação melhor na cabeça quando lembramos de sua quase que turbulenta ascensão na música após trocas e trocas de nome artístico. É como um flashback para ela mesma, até na forma de cantar que soa estranha a princípio, depois dando um tom perfeito de melancolia enquanto a produção parece ir a caminho de um crescendo, mas que se poda… como se evitando soar maior que os vocais que martelam sobre os tempos que a artista era desconhecida.

Essa mesma natureza crua é o que vai reverberar sobre todos os quarenta e cinco minutos totais, não existe um momento em que as produções de Jack Antonoff se tornem maiores do que a voz ouvida, em ‘Dark But Just A Game’ e na faixa-título isso quase acontece, mas seus refrões deixam claro que o objetivo do produtor foi preparar o som de uma forma que ele seja sempre coadjuvante. Não é a primeira vez que ouvimos Lana em um tom mais contido, porém o álbum mostra que ela pode sim sustentar um projeto inteiro sem que seja necessário qualquer momento explosivo.

Outras canções dessa forma que elevam o disco são a sequência ‘Yosemite’ e ‘Breaking Up Slowly’. A primeira, que originalmente foi escrita para ser incluída em Lust For Life, possui uma melodia tão graciosa que é impossível não imaginar como seria uma versão acústica, e seu refrão também é o dos mais belos e envolventes que ouvimos aqui. A segunda tem vocais (curiosamente não creditados) pela cantora e co-autora Nikki Lane, o clima de balada ‘velho oeste’ é algo recorrente no estilo de Lana, e o dueto é também a surpresa mais agradável da tracklist. Em seu encerramento temos o momento mais charmoso, já que o cover de ‘For Free’ com a presença de Zella Day e Weyes Blood soa como um canto ritualístico, parte em decorrência da personalidade das três cantoras e parte em sua estrutura em piano ser tão hipnotizante.

O resultado final é bom o bastante para perceber que Lana Del Rey alcançou outro patamar pessoal, em que ela já sabe exatamente como sua carreira deve soar. Para que chegasse nisso foram necessárias algumas experimentações aqui e ali, o suficiente para que ficasse claro que não se deve esperar nada tão diferente do que ela sempre trás, e sim um aperfeiçoamento do que ela já sabe fazer. Para alguns isso pode parecer uma limitação, mas a pergunta que deve ser feita é: se a artista funciona dessa forma (e funciona muito bem segundo os fãs) por qual razão ela deveria abandonar uma construção que levou anos e fazer algo inesperado?.

Ouvir suas músicas em 2021 é saber exatamente onde vai se meter, tudo vem seguindo uma linha reta onde os acertos são sempre os mesmos e os erros também, mas de uns tempos pra cá é notável que a cantora vem acertando muito mais do que erra. A grande vitória de Lana é ter se provado com uma voz doce e a habilidade de fazer tantos se relacionarem com suas letras, mas sua maior escalada pessoal foi ter finalmente deixado sua música moldar sua personalidade, e não o contrário.

Nota do autor: 74/100

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