Crítica | Pabllo Vittar, “Não Para Não”

Com o seu segundo disco, Pabllo Vittar continua a brilhar em uma coleção de faixas dançantes e repletas de um calor único.

É totalmente normal esperar de um artista que ele reluza cada vez mais no seu segundo trabalho. Hoje, esperamos bastante disso de pessoas dentro do ramo musical, aonde com um primeiro álbum incrível, o que vem a seguir deve não ser melhor, mas sim a altura. E com a carreira se firmando muito bem após o “Vai Passar Mal”, Pabllo Vittar retorna em 4 de outubro de 2018, pouco mais de um ano após o debut, com o “Não Para Não”, que pode se consagrar como o melhor trunfo até agora na discografia da cantora.

São 10 canções que não dão nem 30 minutos juntas, mas ainda assim, proporcionam ao ouvinte uma viagem extremamente dançante com produção bem abrasileirada com o tempero que só a drag queen consegue proporcionar. E isso é exposto logo de cara com “Buzina”, um tecnobrega louco digno de abertura que permeia por toda a tracklist.

Seu Crime” pode facilmente entrar para a lista de melhores músicas da carreira. O acerto maior foi tornar a canção em single, onde toda a sua potência de forró eletrônico ganhou uma relevância ainda maior. A construção pegajosa dessa aqui é certeira e o refrão canta alto na cabeça.

O lead single, “Problema Seu”, com um dos melhores clipes da vídeografia, é um pagode baiano que captura quem ouve de primeira e com um ato finalzinho delicioso. Depois de agitar a pista, o trabalho de estúdio segue para “Disk Me”, que entrega a vulnerabilidade da artista em uma letra que em um ritmo único, expõe uma balada dolorosa e natural. É um dos ápices do disco.

Não Vou Deitar” ecoa em sua breve duração, um hino empoderador que funciona com todos os seus caprichos e um refrão cativante, que tem a missão de fazermos cantar e gritar ao mesmo tempo. Funciona muito bem na proposta, e dentre todas as outras é a que infelizmente possui uma diagramação básica, mas ainda sim, boa. O primeiro featuring do registro chega em “Ouro”, a faixa com participação de Urias, que é encaixada na faixa com primor, reforça mais uma vez o poder da drag em fazer refrões chicletes mesmo em faixas que não são totalmente puxadas para só mexer o corpo.

Nossa ligação perdeu o sinal

Você me usou e me deixou

Disk me, disk me, disk me

Verso de “Disk Me“.

Trago Seu Amor de Volta” conta com Dilsinho e é a segunda balada do álbum. Toda trabalhada para lembrar um axé romântico e que no final se resplandece por camadas de estilo que lembram músicas do carnaval. É super gostosa de se escutar até o seu final. Para fechar as colaborações, surge “Vai Embora”, com Ludmilla; essa é a canção mais bem produzida e que lembra as raízes do primeiro trabalho de estúdio da drag, além de se refletir o tempo todo pelo funk, estilo da convidada para a música.

Com um swing latino e toques de tango, na sexy “No Hablo Espanõl” as mudanças de tons na voz da Pabllo com a coloquial mixagem da música funcionam extremamente bem e provoca perto do fim do disco uma ótima surpresa em portunhol. Para finalizar, “Miragem” é delirante desde o primeiro segundo e com batidas e versos simples que encantam quem escuta desde a primeira faixa, finda toda a trajetória com um calor único.

É curioso relatar que a sistemática de todas as músicas do “Não Para Não” são super simples e não abocanham em sua pequena duração produções engenhosas ou coisas assim, e é justamente nesse ponto que o disco entrega o melhor. Já que as composições feitas para levar qualquer um para a pista de dança e só com esse propósito, poderiam soar genéricas.

Mas o caminho que o álbum inteiro trilha, é justamente o contrário, onde sim, as refrescantes faixas são feitas com o maior objetivo de fazer dançar, mas abraçam uma autenticidade incomum de uma artista que poderia somente prezar por cair na boca do povo, mas que decidiu mostrar-se genuinamente brasileira em todas as composições e que sem dúvida, vai ecoar em trabalhos de artistas aí afora.

Nota do autor: 80/100

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