Crítica | Griff, “One Foot In Front of The Other”

Em ‘On Foot In Front of The Other’, cantora inglesa Griff mostra que sua habilidade como musicista foi a essência principal para um trabalho tão competente.

Não existe uma super história sobre como Griff surgiu na indústria. A garota de vinte anos simplesmente sempre se interessou por música, assinou um contrato com a Warner Records em 2019, lançou o EP ‘The Mirror Talk’ no mesmo ano, algumas músicas após e agora uma mixtape chamada ‘One Foot In Front of The Other’. A história sobre sua escalada na indústria não tem muita graça, e nem foi feita para fazer rir ou entreter, mas é que sempre estamos tão acostumados com artistas surgindo de forma gigante que às vezes esquecemos que para alguns não existe uma forma mágica de ser apresentado ao público.

E isso não é um problema, em alguns casos pode até favorecer alguns… fazer com que eles apareçam bem devagar e nos deixar acompanhando suas músicas crescendo em paradas dá uma sensação de sucesso ‘natural’, onde parece que a carreira flui apenas por culpa de um som agradável. Apesar disso tudo, a cantora vem se tornando uma queridinha de premiações importantes para aqueles que querem definir os novos atos do momento. Ganhadora do prêmio Rising Star no Brit Awards em 2021 e quinto lugar no badalado Sound of… da BBC, Griff começa realmente a colher os frutos do foco que colocou na música, fazendo com que este ano seja um divisor de águas em sua vida.

O maior diferencial e acerto da (curiosamente definida como) mixtape é justamente o fato da cantora produzir a maioria de suas canções. A definição parece estranha pois o material tem uma qualidade incrivelmente elevada, mas realmente se encaixa no conceito vide atingir dois focos necessários: servir para apresentar a artista oficialmente e em larga escala e mostrar que ela sabe se virar muito bem como cantora e produtora ao mesmo tempo. ‘Black Hole’ é sua faixa mais forte, e abrir o projeto com ela é um acerto pois está é apenas uma das melhores músicas pop deste ano. O melodrama em cantar sobre um término de relacionamento acaba se tornando algo até dançante pela produção maravilhosa assinada por LOSTBOY. E a influência na letra pode facilmente ser traçada até uma de suas maiores inspirações, já que uma de suas memórias mais fortes de despertar musical foi ganhar um iPod contendo o disco ‘Fearless’, de Taylor Swift.

Na faixa homônima ao disco é perceptível o quanto ela soa como uma continuação da primeira – algo que a própria cantora confirmou realmente parecer, mas que mal seria necessário… já que o tom de sair de um lugar para outro devagar, colocando um pé à frente do outro parece realmente ser o necessário após o fim de relacionamento conturbado contado anteriormente. Se na abertura termos a maior força musical, é no meio com ‘Shades of Yellow’ e ‘Heart of Gold’ que temos as maiores surpresas.

Ambas são produções assinadas totalmente pela cantora e dão um show de pop apoiado por sintetizadores leves, algo como um encontro entre Robyn e Ellie Goulding sem que pareçam cópias baratas. Isso é justamente uma das melhores coisas durante os vinte minutos do trabalho, a artista pode até soar parecida com outras inglesas e suas inspirações, mas ela nunca parece uma cópia de qualquer outra pessoa consolidada. Griff já transborda personalidade como poucas, e por ir além da voz e se envolver mais do que como apenas uma intérprete é o que a faz brilhar tanto.

Após apenas um pico mediano com ‘Remembering My Dreams’, em ‘Earl Grey Tea’ é hora de um momento de reflexão, e na letra sobre dar muita importância para algo específico e consequentemente esquecer do resto definimos o ponto de calmaria do disco. É sua composição (e produção) mais sútil, mas que passa exatamente o ponto de vista cantado de forma mágica. A sutileza continua até o fim em ‘Walk’ e o resultado é algo redondo, onde o resultado foram melodias em um clima de nostalgia, apoio ao próximo e realização pessoal contadas honestamente.

A sensação após ouvir a mixtape é perceber que seu trabalho foi feito com capricho… não apenas relacionado as músicas, mas também na forma como ela foi montada. Desde sua capa totalmente condizente com seu título até a escolha e ordem da tracklist, o crescendo de suas faixas e as diversas formas de definir temas em suas letras. Griff não só sabe ser uma ótima cantora, mas reforça que é tão boa quanto sendo uma musicista, sua poucas idade não é empecilho algum para a execução de uma obra perfeita para apresentá-la oficialmente ao mundo. ‘One Foot In Front of The Other’ é uma das maiores forças da música pop atual, e se qualquer projeto tivesse um pouco de sua essência esse gênero seria mais imbatível do que nunca.

Nota do autor: 87/100

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