Crítica | Duda Beat, “Te Amo Lá Fora”

“Te Amo Lá Fora” é o 2º álbum da Duda que vem para marcá-la como uma das melhores jóias da música brasileira atual.

No dia 27 de abril de 2018, Duda Beat colocava na pista o seu disco de estreia. O “Sinto Muito” mostrou o quanto a artista sabe prezar suas raízes e trabalhar com isso. 3 anos depois, na mesma data (essa terça-feira), ela decide então lançar o seu segundo projeto de estúdio. Intitulado “Te Amo Lá Fora“, o disco inteiramente assinado por ela e Lux & Tróia conta com 11 faixas e explora com pura autenticidade que Duda Beat definitivamente sabe como elaborar mundos através da música.

Curiosamente, lançar o novo álbum nessa data, é apenas uma dica subjetiva do quanto Duda evoluiu ricamente para com seus projetos. Porque se o ouvinte precisa compreender isso de uma maneira mais complexa, basta apenas escutar ao registro de estúdio atentamente, ou não, já que se a intenção é apenas ouvir sem maiores compromissos, a potência das faixas é a mesma.

E a gente já havia visto esse crescimento com “Meu Pisêro“, o primeiro single exemplifica como a artista aqui possui uma progressão maior diante de sua composição. A letra é novamente sobre um tema recorrente e real da vida da Duda, o amor que despedaça; mas que desde o começo mostra que a partir desse novo caminho iríamos ter letras mais sobre o ato de deixar alguém ir por não ter culpa em não amar da mesma forma.

De maneira técnica, é uma das que se sobressai diante de toda a coleção por andar entre um retrô ligado ao forró e um pop dançante. Tudo isso se reflete ainda mais em “Tu e Eu“, faixa de abertura com Cila do Coco, onde tem a união de coco de roda com maracatu sendo marcante desde o primeiro segundo, e com um andar da carruagem grandioso e viciante.

Pra mim tá tudo perdoado
Ninguém é obrigado a me amar assim
Morri, eu fiquei aos pedaços
Mas tu não é culpado de não me amar assim

Verso final de “Meu Pisêro”.

Com “Mais Ninguém“, processamos um amor infinito e as dores que chegam com isso, é uma reflexão sobre como o casal funciona de maneira genuína e com o maior dos ecos quanto a um amor romântico. Mas a protagonista dessa narrativa acata que tudo não passava de uma ilusão e repensa nas entrelinhas a ideia de seguir em frente e procurar um outro alguém. Ato esse que é fornecido em todos os cantos da faixa pop convencional que dura quase 4 minutos.

Se as três canções anteriores remediavam de maneira abreviada sobre seguir em frente, tanto líricamente quanto tecnicamente, a solução mais clara vem com “Nem um Pouquinho“, parceria com o rapper baiano Trevo, onde a sofrência é uma aposta resultante para essa questão em um som espetacular que inflama e ainda possui um terceiro ato refrescante. Sem contar que a colaboração aqui é muito bem encaixada em uma letra sobre prazer mútuo e solidão.

Após a mixagem de sentimentos, batidas, ritmos e apresentação de um leque rico de influências, Duda segue para “Melô de ilusão“, que é talvez a melhor de todo o projeto. É uma canção que segue linear em seus quase 4 minutos e mostra como a artista sabe produzir uma balada romântica condizente com a exposição de uma melancolia já conhecida que se fragmenta diante da nova atmosfera e nuances do álbum.

É extremamente prazeroso ver como o disco inteiro se julga e se modela com todas as canções a partir de uma nova roupagem, que mostra como a artista de fato se encontrou no seu melhor momento, não só sonoramente, mas de maneira visual também. A direção artística (do Marcelo Jarosz) desse álbum cria um contato imersivo com tudo que é contado.

A predominância de tons sóbrios e camadas dramáticas nas fotos, capa e materiais visuais vistos aí afora, replicam com clamor uma narrativa de uma “bruxa moderna que acredita na sua força, não em poções do amor“. E dá pra sentir muito disso com a carapaça mais eletrônica de “GAME“, que possui uma aura forte que nunca se cansa, vindo exaltada através da programação e os muitos instrumentos da faixa que exprimem força.

O amor que tanto te cura
É o mesmo que me maltrata
/
Me perguntei por que o amor não conquista o amor
Me perguntei por que o desprezo conquista o amor

Verso inicial e final, respectivamente, de “GAME”.

Agora, partindo para um novo ritmo dentro do trabalho, a gente entende com “50 meninas” como a produção do disco sabe manusear o reprocessamento de gêneros e desencadear diferentes reações. O começo aqui maneja a ideia de uma balada romântica que se reverbera através de um reggae gostoso.

A gente parte então, para a parte final da jornada, que até a penúltima faixa, se mantém com uma calmaria, e isso incia-se com “Decisão de Te Amar“, que é leve e delicada dentro do que o projeto como um todo demanda. Todo o tema do amor que machuca e corrói deixa de se alardar para todos os lados e a gente tem uma declaração intimista que se resplandece por uma letra linda e que é muito bem conduzida harmonicamente, ainda mais depois da metade.

Começando com a melodia vista na canção anterior, se “≈(♡ω♡)” não fosse pensada talvez como uma vinheta, seria ainda mais perfeita, mas obviamente não funcionaria para regar o que vem a seguir: a penúltima música, “Meu Coração“. Trabalhada mais para mostrar melodia e ajustes sonoros, ela é uma balada orgânica que carrega um valor imenso através da letra. Usando uma narrativa masculina, funciona como um ápice para se refletir sobre tudo que o projeto mostrou.

É com um pop mais sintético que Duda Beat encerra o registro de estúdio. “Tocar Você” se encaixaria perfeitamente na discografia da Clarice Falcão. A resolução vista aqui para o álbum é agitada e claramente referencia um ambiente de pura dança para se libertar e entender que no fim de tudo, o amor mais importante é aquele que se carrega consigo mesmo: “Meu amor ficou comigo / Nosso amor ficou só comigo”, canta Duda finalizando os trabalhos.

A viagem sonora, lírica, técnica e narrativa vista diante de todas as músicas do “Te Amo Lá Fora” mostram diferentes mundos que refletem sobre diferentes jornadas e só solidificam ainda mais o quanto Duda Beat sabe tornar um único momento em algo singular e universal ao mesmo tempo. Afinal, quem não sofre por amor?

Nota do autor: 95/100

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