Crítica | The Boys introduz super-heróis mais atuais do que nunca

A nova série da Amazon veio para entreter, satirizar e causar várias reflexões no público usando um cenário muito amado na cultura pop.

Numa sociedade onde os influencers tem seus assessores e lideram boa parte das campanhas de marketing das empresas, por que não aplicar isso aos super heróis também?

Filmes e séries de super heróis é algo que conquistou seu espaço no meio audiovisual, fazendo bastante sucesso entre o público, não é à toa que Avengers: Ultimato conquistou o topo de maior bilheteria da história. Essas histórias nos trazem heróis altruístas (ou nem tanto assim), porém com o principal objetivo de usar seus poderes a fim da humanidade. The Boys, da Amazon, veio pra contrapor tudo isso, se tornando uma das maiores surpresas de 2019.

A nova série é baseada na série de quadrinhos americanos homônima de Garth Ennis e Darick Robertson, inclusive publicada também no Brasil, e nos apresenta uma realidade onde os super heróis existem, porém tiveram seus valores morais corrompidos, por conta da fama que os transformaram em celebridades, se comportando de forma irresponsável, se distanciando da utopia do “mocinho” a qual estamos acostumados no gênero.

Por trás desses heróis existe a Vought, uma empresa que cuida de toda a assessoria desses super heróis, seja apresentando-os para projetos de marketing de outras empresas, oferecendo acordo com cidades que estejam interessadas em heróis ou até mesmo escrevendo um discurso para ser lido em uma convenção. Na realidade, é a Vought quem comanda.

Apesar do sucesso da Vought, principalmente d’Os Sete, os sete heróis mais famosos e poderosos (como se fosse um próprio Avengers), responsáveis pelo maior lucro da empresa, há quem não simpatiza com essa realidade e sabe dos podres desses heróis, os rapazes, ou The Boys.

A quebra do mocinho é transformada em uma série de eventos recheada de sátira e discussões.

O enredo começa quando o nosso protagonista Hughie tem sua namorada Robin morta por um dos super heróis d’Os Sete, o Trem Bala, o deixando totalmente frustrado, principalmente pela falta de consideração do próprio herói e pela Vought, que tentou comprar seu silêncio. Após esse acontecimento, ele é convidado por Billy Butcher a dar início  a uma missão contra os heróis e a empresa mais poderosos do país, em busca de vingança por Robin.

Tudo que se desenrola a partir daí tem um tom bem forte de sátira, seja pela ironia de como os super heróis realmente se comportam, pelo marketing, que comanda tudo por trás ou até mesmo pelo milhares de produtos consumidos pelas sociedade que os adoram. Uniformes, missões, presença em eventos, tudo é derivado dos números de aceitação de cada herói medidos pela Vought.

Além dessa questão mais ampla, um dos “problemas” internos no enredo é a presença dos heróis no armamento nacional, tendo um poder ainda maior. Essa questão dá início a disputas e chantagens no mundo da política que se tornam um ponto bem forte do enredo.

Além do teor político, The Boys também vai em direção ao extremismo religioso, usando, como gancho principal, a hipocrisia. A Vought, com o objetivo de ter também a Igreja do seu lado, uma parte considerável dos Estados Unidos, usa seus heróis para pregarem discursos contra o casamento gay, aborto, sexo antes do casamento, tudo como uma forma de possuir maior popularidade e poder. A hipocrisia por trás de tudo isso acaba sendo um ponto chave para The Boys, que critica de uma forma bastante direta, mas, ao mesmo tempo sucinta.

Além de um ótimo enredo, a série também manda bem na trilha sonora e nos efeitos visuais.

Por ser uma série, sabemos que o orçamento não costuma ser muito alto para os efeitos visuais (a não ser que seja uma série de sucesso do Netflix, por exemplo), porém, os produtores souberam usar isso muito ao seu favor. Sem excessos, The Boys convence como qualquer outra produção de super herói, focando mais no real, não nos poderes em si, regado de uma ótima trilha sonora que combina muito bem com a atmosfera da série.

Em suma, a nova produção da Amazon se mostra uma das maiores surpresas de 2019. Numa realidade que não é muito distante da nossa, em que pessoas públicas tem uma grande influência na sociedade, heróis tem morais e ações muito próximas das pessoas comuns e com debates políticos e religiosos, The Boys mostra que veio para entreter, satirizar e causar várias reflexões no público usando um cenário muito amado na cultura pop.

A série inclusive já teve a sua segunda temporada confirmada na Comic Con San Diego, porém ainda sem data prevista.

Nota do autor: 80/100

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