Crítica | Pabllo Vittar, “Vai Passar Mal”

Pabllo Vittar conseguiu demonstrar o quanto é versátil, excêntrica e autêntica já em seu primeiro disco da carreira

Em mês de visibilidade LGBTQIA+, nossa drag queen mais amada do Brasil e a mais bem-sucedida em carreira musical no mundo lançará seu novo álbum “Batidão Tropical”. Vai Passar Mal veio como o primeiro álbum dela, trazendo suas cores vocais e lançando o que futuramente residiria em sua autenticidade: letras sensuais e por vezes engraçadas, trazendo semelhanças de um cotidiano vívido.

Primeiramente, é importante ressaltar a importância de Pabllo Vittar para a indústria musical. Temos outros exemplos de drag queens que cantam, como Adore Delano, Courtney Act e a própria RuPaul, entretanto nenhuma delas é tão conhecida por suas músicas quanto Vittar. Pro Brasil, Pabllo abriu portas tanto para outras drags, quanto para própria comunidade ao falar tão abertamente sobre violência, homofobia e sobre nossa nossa existência.

Desde sempre, Pabllo mostrava sua originalidade. O que foi explorado um tanto por Ney Matogrosso no passado, Vittar trouxe de forma macro e mais exposta. Com uma mistura de gêneros, danças ousadas e sempre se apresentando em drag, a cantora explodiu no Brasil com “Todo Dia”, uma parceira com Rico Dalasam – que era uma faixa que também fazia parte do Vai Passar Mal, entretanto por disputas autorais teve que ser retirada do álbum.

O Vai Passar Mal, se fosse para ser resumido em poucas palavras, dava para dizer que é uma mistura de gêneros autenticamente brasileiros de forma que se organize enquanto autenticidade e não como um completo caos. Pabllo canta forró, arrocha, funk, axé, e tudo isso soando extremamente original e interessante de ser ouvido, tanto por sua voz quanto pelos ritmos e letras.

‘Corpo Sensual’ e ‘K.O.’ foram as faixas mais divulgadas do álbum, e que também fizeram bastante sucesso. A parceria com Mateus Carrilho, que na época era recém-saído da Banda Uó, foi extremamente acertada: as vozes, o feeling, o momento, tudo combinou para que tenha saído um hit, como foi.

A faixa mais interessante do álbum é ‘Tara’. A voz da Pabllo está mais grave, é um axé raiz e um tanto quanto diferente do que sabemos que ela faz até hoje. Realmente, na primeira ouvida, nem parece a Pabllo e soa como uma coisa completamente nova e mais experimental. A letra fica na cabeça assim como as letras de axé mais antigo, foi algo que ela incorporou muito bem e casou demais com a roupagem da sua voz.

Entretanto, acredito que para boa parte das pessoas da comunidade LGBTQIA+ que tenha escutado esse álbum, adotaram uma faixa em específico para si: ‘Indestrutível’. A letra é extremamente tocante, retrata sentimentos que a grande maioria da população passa, como sentimento de rejeição, de perda da própria família, e da dor de ser discriminado somente por ser quem é. Contudo, a Pabllo tem uma mensagem muito clara para isso: tudo vai ficar bem.

Por fim, para um álbum de estreia, Pabllo conseguiu demonstrar o quanto é versátil, excêntrica e autêntica, o que fez tanta gente demonstrar interesse pelo trabalho dela até hoje. Consigo apontar as influências de Ney na forma como ela canta, mas acima de tudo, Pabllo se tornou o ícone das festas LGBTQIA+, héteros e conseguiu navegar por todas as tribos, se tornando um símbolo nacional, tanto para luta, quanto para própria música.

Nota da autora: 80/100

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