Crítica | Love, Victor apresenta reflexões leves e sutis de forma encantadora

Romance gay adolescente divertido, ‘Love, Victor’ é despretensiosa, sem deixar de reconhecer a importância da jornada de autodescoberta.

A série ‘Love, Victor’ dá sequência ao universo do filme ‘Com Amor, Simon’ e se baseia no universo de livros criado por Becky Albertalli. O seriado é uma obra leve e fácil de se consumir, que explora a autodescoberta de Victor (Michael Cimino), um jovem novato que entra na Creekwood High School – mesma escola que frequentada por Simon (Nick Robinson) no filme.

Em 10 episódios ‘Love, Victor’ reúne o melhor dos clichês adolescentes com doses de drama, comédia e muita insegurança por parte de seus personagens. O protagonista não tem maldade ou grandes preconceitos e isso é inclusive, um facilitador para que sua autodescoberta seja um processo curioso e investigativo de si mesmo.

Outro fator encantador da série é como ela explora as relações de amizade, Felix (Anthony Turpel) é o vizinho de Victor, um garoto engraçado, tagarela e que vê no protagonista, a oportunidade de construir uma amizade com a única pessoa da cidade que não o conhece e não o julga por ser estranho. O personagem é responsável pelos momentos mais cômicos e fofos da 1ª temporada, um típico caso daqueles que quase rouba o espaço do personagem central da trama.  A série ainda conta com os pais de Victor, Isabel (Ana Ortiz) e Armando (James Martine); Pilar (Isabella Ferreira), a irmã do meio; Adrian (Mateo Fernandez), irmão mais novo; Mia, (Rachel Hilson) um dos interesses amorosos do garoto; Benji (George Sear), o outro interesse afetivo do protagonista; Lake (Bebe Wood) que é a melhor amiga de Mia; E Andrew (Mason Gooding), o atleta arrogante e popular da escola. Uma gama de personagens que compõe o mais clichê universo do ensino médio americano.

É preciso entender a real necessidade de “Love, Victor” e de uma “dramedia” gay na TV

Além de seus personagens e de suas relações, o ponto mais forte da série é apresentar uma história que envolve personagens LGBTQIA+ de um jeito leve. Você reconhece preconceitos e opressões, mas tudo é feito de uma forma mais sutil e que não carrega em si aquele estigma pesado das obras sobre o assunto, que sempre focam no sofrimento e na complexidade que cerca a descoberta da sexualidade. Muito mais do que isso, ‘Love, Victor’ usa de artifícios triviais e “clichês” comuns em comédias românticas, para em seu subtexto, falar da pluralidade da sexualidade humana e das caixas que aprisionam nossa mente quando o assunto é o amor e atração afetiva.

A série ainda abraça os fãs de seu universo ao introduzir o próprio Simon, o namorado Bram (Keiynan Londsdale) e amigos LGBTQIA+ deles à trama. Personagens que são cruciais a jornada de entendimento e compreensão do protagonista. Além de ter uma trilha sonora agradável, teen e que combina muito bem com a proposta da produção, aliás as músicas são um ponto forte dela – ouça AQUI a trilha oficial.

A escolha do enredo aponta uma reflexão de que não dá para qualificarmos romances LGBTQs e comédias românticas com casais do mesmo gênero, como algo de fato clichê. Para adentrar esta categoria, é necessário primeiro uma normalização. Os clichês do cinema e da TV só o são, pois são adotados e repetidos com frequência nas telas. Quantas comédias românticas LGBTQIA+ de fato existem na indústria para que o gênero seja parte da categoria dos contextos previsíveis e das repetições esperadas? 

A primeira temporada da série foi exibida nos EUA em 2020 pelo canal americano Hulu e conseguiu garantir sua renovação com certa facilidade, conquistando inclusive o selo de aprovação no Rotten Tomatoes. Recentemente o show estreou seu segundo ano no país trazendo os desdobramentos da vida de Victor e como ele e a família vão lidar com tudo que foi mostrado no primeiro ano. A série está prevista para chegar ao Brasil pela plataforma complementar da Disney+: a Star+ – que está prevista para ser lançada em 31 de agosto.

Nota: 80/100

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