Crítica | Veneza navega pela magia dos sonhos compartilhados

Com sua aura burlesca, Veneza é símbolo de resistência para aqueles que, apesar de tudo, ainda ousam sonhar.

Onze anos após sua estreia como diretor, Miguel Falabella agora retorna com Veneza, seu segundo longa. Propondo ao público uma belíssima reflexão sobre os mais íntimos dos desejos, o filme é um convite àqueles que, mesmo em momentos de dificuldade, estão abertos ao sonhar.

A trama gira em torno do cabaré da Gringa, personagem interpretada por nada mais nada menos que uma das divas de Pedro Almodóvar, a veterana Carmem Maura. Rodeada pelas mulheres que acolheu, a matrona se tortura com uma vontade insaciável: a de visitar a cidade italiana que dá nome à obra para reencontrar o seu par, Giacomo.

Diante das súplicas de Gringa, aqueles que a cercam farão de tudo para atender ao desejo da matriarca. Assim, Rita (Dira Paes) e Tonho (Eduardo Moscovis) surgem com um plano genial: o de transportar Veneza até a estrangeira, contando com o apoio artístico e logístico do circo local.

A temática onírica do filme se faz presente na linguagem cinematográfica empregada, revelando sua presença tanto nos movimentos de câmera quanto na iluminação e na cenografia. Logo, é fato que o sonho toma conta da produção e se entranha em todos os personagens, até naqueles que são mais incrédulos. Ademais, esse posicionamento permite que os espectadores possam compartilhar e viver as inspirações e aspirações ali retratadas, transformando a narrativa em uma série de convidativos e encantadores pensamentos.

Apesar de tudo, o filme apresenta certa insensibilidade e peca quanto à abordagem da prostituição feminina, muito em razão da presença de um olhar fetichista, o que torna difícil, em alguns momentos, separar o humor satírico da violência simbólica sofrida por essas mulheres dentro (e fora) da trama. Mesmo assim, a obra carrega consigue um fato muito interessante e que deve ser reforçado a todo momento: aqueles que realizam desejos e vontades também possuem seus próprios desejos e vontades, e sim, é possível realizá-los.

Vale destacar também que o ESC marcou presença na coletiva de imprensa de “Veneza”, que aconteceu na terça-feira, dia 15. Na ocasião, pudemos ouvir comentários de vários nomes do elenco, tais como Dira Paes, Carol Castro, Danielle Winits, Eduardo Moscovis, Roney Villela e o novato Caio Manhente, além do diretor Miguel Falabella. A força da amizade entre os membros dessa trupe espetacular se mostrou muito comovente para todos ali presentes, e, para finalizar, não faltaram discursos sobre o poder da arte, do sonhar e do coletivismo nesses momentos tão obscuros para a cultura.

O filme chega às plataformas digitais no dia 17 de junho, com distribuição realizada pela Imagem Filmes.

Nota do autor: 70/100

Total
0
Share