Ele não é ruim, só é incompreendido – e é assim que essa review se inicia. 10 anos depois do lançamento de “Angles”, considerado o pior álbum da banda nova-iorquina The Strokes, ainda podemos conferir esse rótulo ao quarto álbum de estúdio do grupo? A resposta é sim.
Depois de discos impecáveis, como é o caso de “First Impressions Of The Earth” e até mesmo o álbum de estreia da banda, “Is This It”, os Strokes decidiram experimentar sonoridades até então inexploradas pela banda em “Angles”. Muitas influências dos anos 1980, combinadas à vontade de testar novas composições, fazem com que o álbum mal pareça ser dos Strokes. Em si, o álbum não carece de qualidade – faixas como “Machu Picchu”, “Under Cover of Darkness” e “Two Kinds Of Happiness” se destacam e atraem atenção para o disco logo no início. Depois das três faixas iniciais é que tudo começa a degringolar.
Não existe um parâmetro para as faixas, e cada canção é uma surpresa. A surpresa, no entanto, não é positiva: o ouvinte se depara com uma sonoridade completamente diferente da que os Strokes conseguiram muito bem consolidar ao longo dos três primeiros discos. É como se o grupo não soubesse bem o que estava fazendo – essa suposição fica bem clara nos vídeos feitos durante a gravação do álbum, principalmente com a fala do guitarrista Nick Valensi:
“Tem sido um desastre desde o início. Eu não consigo aprender as músicas, eu nem sei onde é que eu estou. Na verdade, eu estou assustado”.
Nick Valensi sobre o processo de composição e gravação de “Angles”.
10 anos depois, “Angles” continua sendo o pior disco da carreira dos Strokes, que ganharam seu primeiro Grammy recentemente. No entanto, o trabalho se redime – não por feitos posteriores da banda, mas por maturar com o tempo. Mesmo não sendo um álbum bem recebido pelo público, principalmente em 2011, quando foi lançado, “Angles” é um trabalho dançante e com doses cavalares de indie.
Afinal, essa é a natureza do indie rock – gênero ao qual o grupo se propõe desde o início da carreira -, e inventividades e irreverências são sempre bem-vindas. Reiterando, “Angles” não é ruim, só é incompreendido.