Há dez anos, em 17 de maio de 2015, o mundo conheceu Blurryface, o álbum que não apenas impulsionou o Twenty One Pilots para o estrelato global, mas também redefiniu a forma como a música poderia dialogar com as angústias de uma geração. Mais do que um disco, Blurryface se tornou um fenômeno cultural, misturando rock, hip-hop, eletrônica e pop em uma sonoridade única que conquistou tanto as rádios quanto os corações de fãs que se viram representados em suas letras profundamente pessoais.
Desde o seu lançamento, o álbum demonstrou um poder de permanência. Estreou em primeiro lugar na Billboard 200 e se manteve no Top 10 por impressionantes 250 semanas, um feito que poucos artistas conseguiram alcançar. Nos Estados Unidos, foi certificado como Platina em menos de um ano, atingindo a marca de 1 milhão de cópias vendidas, e, em 2017, chegou ao triplo de Platina, consolidando-se como o álbum de rock mais vendido da década. Tamanho sucesso veio acompanhado de reconhecimento crítico: em 2017, o Twenty One Pilots levou para casa seu primeiro Grammy, na categoria Melhor Performance de Duo/Grupo de Pop, com “Stressed Out“. A cena de Tyler Joseph e Josh Dun recebendo o prêmio de cueca – resultado de uma aposta interna entre os dois – se tornou um dos momentos mais memoráveis da premiação, encapsulando a essência despretensiosa e autêntica da banda.
Mas Blurryface não foi apenas um sucesso comercial – foi um projeto conceitual ousado. O personagem que dá nome ao álbum é uma representação visceral das inseguranças e da ansiedade que assombram não apenas Tyler, mas milhões de pessoas. Com a tinta preta em suas mãos e pescoço durante as performances, Tyler materializa esse alter ego sombrio, enquanto Josh Dun complementava a narrativa visual com manchas vermelhas ao redor dos olhos, simbolizando a exaustão emocional.
“Blurryface é todas as coisas que eu não gosto em mim. Ele é a voz que diz que eu não sou bom o suficiente“, explicou Tyler em entrevista à Alternative Press. Essa abordagem crua e confessional reverberou fortemente com os fãs, especialmente em faixas como “Stressed Out“, que se tornou um hino geracional sobre o medo do fracasso e a pressão da vida adulta, e “Ride“, que recentemente atingiu a certificação de Diamante nos EUA, com mais de 10 milhões de cópias vendidas. Outros singles, como “Tear In My Heart” e “Heavydirtysoul“, exploravam temas como amor, autodestruição e a luta contra as próprias limitações, sempre com uma mistura de poesia e urgência que se tornou marca registrada da dupla.
A turnê Emotional Roadshow, que promoveu o álbum, foi um espetáculo à altura do disco. Com produções visuais impressionantes e uma energia contagiante, a banda lotou arenas pelo mundo, incluindo uma passagem inesquecível pelo Lollapalooza Brasil em 2016. A conexão com o público era palpável – afinal, Blurryface não era apenas um álbum para ser ouvido, mas para ser vivido.
Uma década depois, o legado de Blurryface permanece mais vivo do que nunca. O álbum ultrapassou a marca de 1 bilhão de streams no Spotify, e clipes como o de “Stressed Out” continuam a acumular visualizações, já passando dos 3 bilhões no YouTube. Mais do que números, porém, o que realmente define o impacto do disco é a forma como ele ajudou a desestigmatizar conversas sobre saúde mental, inspirando fãs a enfrentarem suas próprias batalhas. “Nós nunca esperávamos que essas músicas chegassem a tanta gente. Ainda me surpreende quando alguém diz que Blurryface as ajudou a não desistir“, citou Josh Dun para a Rolling Stone.
Dez anos se passaram, mas as questões levantadas por Blurryface ainda ressoam. Em um mundo cada vez mais acelerado e pressionante, as inseguranças que Tyler e Josh exploraram no álbum seguem tão relevantes quanto em 2015. E talvez seja essa a maior prova de sua importância: a capacidade de, mesmo depois de uma década, ainda fazer com que tantas pessoas se sintam vistas e menos sozinhas.