Dois anos após o lançamento de seu debut álbum, o quarteto The 1975 apresentou ao mundo seu segundo disco em 2016. O nome gigante deste trabalho – “I Like it When You Sleep, for You Are So Beautiful yet So Unaware of It” – conversa com a grandiosidade que é o álbum em si. Depois de uma era preto e branca enfatizada por “The 1975”, primeiro álbum da banda homônima, “ILIWYSFYASBYSUOF” nasce como um ponto de virada. A ira adolescente onipresente do primeiro disco se dissolve completamente, e passamos a ver os integrantes da banda como jovens adultos conturbados, embora perseverantes em seus caminhos de incontáveis descobertas.
Se fôssemos definir “ILIWYSFYASBYSUOF” em três palavras, elas seriam ateísmo, desilusão e estética, sendo esta última a mais latente. Nós anos seguintes, é possível perceber o empenho do The 1975 em produzir uma aparência única e condizente com cada um de seus discos – mas até então, no segundo álbum da banda, essa percepção ainda não era clara. Se você pesquisasse por aesthetic no Tumblr ou no We Heart It, você com certeza encontraria imagens do The 1975 – principalmente imagens da era “ILIWYSFYASBYSUOF”. O azul e o rosa contrastantes, em adição às luzes neon e ao rock revival dos anos 1980 fazem com que o álbum seja, além de um disco e de uma harmonia visual, um evento.
Outro marco importante deste álbum foi a estratégia de divulgação à qual a banda apelou para apresentar aos fãs os nomes das canções. Como grandes entusiastas do neon, The 1975 acertou com sua escolha fantástica de fotografar o nome das dezessete faixas escritas em neon, cada fotografia disposta em diferentes localidades. Esse plano aguçou a curiosidade dos fãs que, além de admirar os sinais de neon, iniciaram uma caça aos lugares onde as fotografias foram tiradas. O resultado dessa engenhosidade rosa salta aos olhos até mesmo daqueles que desconhecem a estética por trás de toda a trama do disco.
Alguns dos principais hits da banda saíram direto de “I Like it When You Sleep, for You Are So Beautiful yet So Unaware of It”: “If I Believe You”, “The Sound” e a inesquecível “Somebody Else” são algumas dessas canções. Os clipes, por sua vez, evidenciam o empenho e o apelo visual evocado pelo frontman da banda, Matty Healy. Neste disco, todas as produções audiovisuais da banda estão interconectadas, criando a própria “Teoria The 1975”.
Harmonia visual à parte, a sonoridade da banda retorna mais dançante em seu segundo disco, perdendo completamente o teor punk do álbum anterior. O mais próximo que o grupo consegue chegar ao rock é com as faixas “Love Me” e “She’s American”. A guitarra com seu estilo funky e as repetições ininterruptas de riffs demonstram uma similaridade com o som de bandas como A-ha e Duran Duran. The 1975 nunca foi tão pop quanto em “ILIWYSFYASBYSUOF”.
A discoteca que é este álbum seria um grande motivo de preocupação anos depois: em 2018, o quarteto precisou se empenhar para manter Healy em um estado constante de sobriedade. À parte do conhecimento do público, o artista passou oito meses internado em um centro de reabilitação para tratar seu vício em heroína e cocaína. Foi somente dois anos após o lançamento de “ILIWYSFYASBYSUOF” que os fãs começaram a perceber as mensagens nas entrelinhas de faixas como “UGH” e “The Ballad Of Me And My Brain”, duas odes aos psicoativos aos quais Healy nutria vícios secretos. Essa revelação agregou uma faceta de profundidade ao disco: ao mesmo tempo em que temos religiosidade, epifanias, percepções, e limerências em um mesmo disco, também temos dores, fraquezas e imperfeições.
Em “Loving Someone”, um dos versos diz:
“Eu nunca entendi a dualidade da arte e da realidade,
Composição: Matthew Healy, George Daniel & Mike Crossey
vivendo a vida e tratando-a como tal, mas com uma certa desconexão.
O toque bajula o artista com conforto e abandono,
e entre os espirais e telhados da cidade branca aquela luz alaranjada inglesa projeta uma sombra singular –
pois você não está ao meu lado e sim dentro de mim.”
A sombra singular mencionada na canção, neste caso, pode ser interpretada como os dois âmbitos do The 1975 em “ILIWYSFYASBYSUOF”. Trata-se de um álbum luxuoso, dolorido, alegre e dançante – tudo isso em uma mélange interiorizada que clama por redenção. Cinco anos depois, essa redenção se perde em meio aos trabalhos mais recentes da banda; mesmo assim, “I Like it When You Sleep, for You Are So Beautiful yet So Unaware of It” não perde seu status inerente e permanente de evento fixo em uma linha temporal admirável e miraculosa.