Entre os dias 6 a 15 de setembro, a Bienal do Livro desembarca em São Paulo, no Distrito Anhembi, com programação cultural recheada, prováveis toneladas de exemplares e autores, editores e leitores de todos os cantos do país. E, em sua missão de expandir horizontes literários, o evento será palco também para vozes alternativas ao mercado tradicional — os autores independentes, que, em estandes, circuitos pelos corredores e bate-papos, trazem a importância de perspectivas diferenciadas e introduzem suas obras ao público geral.
Ao escutai, cinco escritores contaram um pouco sobre suas publicações e sobre a sua presença na edição de 2024.
Isadora César Pacello, “A estrela de mil braços”
“Nele, não há respostas prontas. ‘A estrela de Mil Braços’ nos leva a refletir sobre o que realmente significa tornar-se mulher”. Desde a sinopse, o segundo livro de Isadora César Pacello mergulha em uma jornada de amadurecimento, sexualidade e violência, onde acompanhamos a protagonista Carmela, de 19 anos, a entender relacionamentos e desejos inesperados — e a singularidade de ser mulher no mundo.
“Uma palavra que define bem ‘A Estrela de Mil Braços’ é contestador,” conta a autora. “É uma obra que contesta e desafia uma série de conceitos que achamos que já estão bem definidos. Uma das maiores discussões, inclusive, é sobre o que é consentimento, um termo que até a legislação brasileira não contempla o significado plenamente.”
Já na sua segunda tiragem, a obra autopublicada chega, em formato físico, na Bienal por meio de rodas de bate-papo e sessão de autógrafos. “Eu estive ali em todas as etapas: fiz a capa, o projeto gráfico, participei da divulgação do livro, fiz a publicação física… Você vai no escuro, aprendendo entre erros e acertos. Então estar indo para a Bienal, na segunda edição do meu romance e como autora independente, é uma realização enorme,” diz Isadora.
“Há muitos autores independentes fazendo boa literatura,” finaliza. “Este é um meio a se explorar como leitor, até para não ficarmos sempre lendo o que todo mundo está lendo, falando os mesmos assuntos.”
Isadora estará presente na Bienal do Livro no dia 9 de setembro, das 17h às 18h, em bate-papo no Estande Escreva, Garota!. No dia 12/09, comparecerá no Estande da Proverbo às 15h30 para sessão de autógrafos.
Mateus L.P. Santos, “24 Horas de Amor”
24 horas são mais do que o suficiente para o surgimento de um novo amor — mas, talvez, não o suficiente para se despedir dele.
Inicialmente uma obra digital, ‘24 Horas de Amor’ terá a sua estreia física na Bienal deste ano, traduzindo das telas para as páginas uma trama sobre o tempo — e como ele “nos arrebata e nos destrói”, segundo o autor, Mateus L.P. Santos. Seu primeiro romance, o livro inovará no formato como resposta a pedidos dos leitores, que demonstraram interesse em acrescentar o exemplar à estante… literalmente.
A história começa quando dois jovens que entrelaçam vidas em um bondinho de Campos de Jordão. E enquanto Ana e Lucas veem o relógio ticar, a publicação traz a magia do amor à primeira vista e a reflexão de experiências que, mesmo temporárias, podem nos transformar. “24 horas de amor de repente parecem semanas, meses, talvez anos,” pontua o escritor.
“Eu não quis ser um autor independente inicialmente, mas aprendi a importância de processos e acho que foi isso que fez eu me apaixonar pela escrita de verdade,” conclui Mateus. “Percebi que eu não queria só estourar nas redes, eu gostava de escrever pra valer, mesmo que ninguém estivesse lendo. Mas é [também] uma profissão de milagres, porque quando chega o ‘sim, vamos dar uma olhada no seu livro’, é uma alegria grande o suficiente para dar energia de escrever mais uns dois.”
Mateus marcará sua primeira presença na Bienal no dia 06/09 (sexta-feira), das 13h às 14h no estande da Livraria Loyola. Ele também estará disponível na Bienal todos os dias.
Luciana de Gnone, “Aquilo que nunca soube”
“Um suspense psicológico intenso” — é assim que Luciana de Gnone define ‘Aquilo Que Nunca Soube’, livro semifinalista do 7º Prêmio ABERST de Literatura que terá lançamento na Bienal. Sua sexta publicação até agora, a obra de ficção policial conta a história de Duda Castelo Branco, uma mulher que vive os traumas do abandono materno desde os seis anos de idade e que, três décadas depois, descobre os reais motivos para a partida da mãe.
Com foco investigativo, olhar crítico ao tema de alienação parental e uma protagonista forte, o livro se mergulha, para a autora, “em uma jornada tanto de autodescoberta quanto de investigação, o que a coloca na linha da ficção policial com uma ênfase significativa no desenvolvimento pessoal e na busca pela verdade.”
“Apesar de antiga, a ficção policial vem ganhando cada vez mais adeptos, refletindo as complexidades da sociedade contemporânea e trazendo à tona questões sociais relevantes,” complementa. E justamente por isso que Luciana reforça o protagonismo feminino no gênero: com todas as suas personagens principais sendo mulheres até agora, esse recurso é um meio de subverter os estereótipos e de ampliar a representação em papéis de poder e inteligência.
Natural de Brasília mas radicada no Rio de Janeiro há mais de 40 anos, Luciana terá uma sessão de autógrafos na Bienal entre os dias 07/09 (16h às 17h, no Estande Editora Cartola) e 08/09 (15h às 16h, no Estande ABERST).
Bianca Pontes, “Értom”
‘Értom’ é um anagrama para “morte”. Não à toa, este é o título do romance de estreia de Bianca Pontes, que acompanha a trama de uma mulher que vive isolada devido a sua capacidade de prever e sentir mortes. Uma mistura de romance com elementos fantásticos e sobrenaturais, o livro desafia a ideia de gênero ao explorar temas profundos como amor, morte e superação.
“O processo de escrita durou pouco mais de um ano, mas a ideia surgiu quando eu tinha 16, há mais de dez anos,” conta a autora sobre o projeto. “Leio de tudo desde sempre, gosto de vários autores de diferentes gêneros e sinto que meus textos têm um pezinho em cada um deles.”
E como referência, Bianca traz obras de renome e impacto, como ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’, de Machado de Assis, ‘Daisy Jones and the Six’, de Taylor Jenkins Reid, e ‘O conto da Aia’, de Margaret Atwood. Todos com vozes narrativas marcantes, eles espelham a narrativa de ‘Értom’, cheia de falas curtas, comportamentos esquivos e mudança entre os pontos de vista dos personagens que trazem ritmo e estranhamento — já que tudo na publicação vem do peculiar.
Como autora independente, Bianca Pontes estará presente na Bienal do dia 13 ao 15, onde distribuirá marcadores e divulgará a obra nos corredores do evento.
Nicole Annunciato, “O Dia Em Que O Sol Se Foi”
Com sete finais alternativos, ‘O Dia Em Que O Sol Se Foi’ inova ao se apresentar além da leitura: ao invés, a obra chama o leitor para uma interação, onde ele decide quais caminhos a protagonista deve tomar para ter um final feliz. Ou nem tanto.
Da finalista do Prêmio Ecos da Literatura 2023 Nicole Annunciato, a publicação se ambienta em um mundo distópico onde o Sol desaparece, a sociedade colapsa e o leitor tem que decidir quais serão os próximos passos da Rani para que ela salve sua família e se mantenha em segurança.
“Adrenalina: essa é a palavra que melhor define o livro,” pontua Nicole. “Como sou uma fã de carteirinha de suspense psicológico e thriller, decidi que meu próximo livro seria um thriller interativo, até porque essa proposta aproxima ainda mais o leitor da história e faz com que ele se sinta pertencente àquele universo.”
A ideia veio também inspirada em séries de streaming, que investiram recentemente nessa proposta de interação. E o conselho para jogar/ler bem ‘O Dia Em Que O Sol Se Foi’? “Não tenha medo de tomar decisões. Essa é a parte boa de uma ficção, diferente da vida real, se algo não sair conforme você planejava, você pode ‘voltar no tempo’.”
Essa será a primeira Bienal de Nicole como autora. Ela estará presente no estande da editora Flyve, entre os dias 7 a 15 de setembro.