Sabe aquele tipo de música que você escuta e pensa: “uau!”? Que parece grande demais para ser escutada só no fone de ouvido, que transcende os sentidos e que faz você sentir dezenas de coisas em segundos? Aquelas músicas que você já corre para o Youtube para assistir o clipe, porque só a experiência auditiva não foi suficiente?
Nós amamos esse tipo de música, faixas que são quase experiências cinematográficas. A gente sofre quando não ganham clipe, mas na verdade, nem tem tanto problema assim: a narrativa lírica ou instrumental da faixa já fazem com que a gente crie um filme incrível na nossa cabeça.
Foi pensando nelas que reunimos alguns exemplos grandiosos, dessas que transpassam os trabalhos radiofônicos, singles e sucessos comerciais. A lista especial de hoje são filmes cantados, canções incríveis que mereciam inspirar filmes, e que você deveria conhecer (ou relembrar).
Aperte o play e boa viagem!
Florence + The Machine, “How Big, How Blue, How Beautiful”
A faixa título do terceiro álbum da Florence é uma verdadeira jornada. Com um começo intimista, a faixa cresce depois do primeiro refrão e assume uma sonoridade rica em violinos, violões e batidas rockeadas. Com a duração de 5:34, a faixa transcende os sentidos ali pela metade da sua duração, quando volta a soar intimista com os vocais de Florence e os violões. A surpresa vem quando os instrumentos de sopro metálicos assumem o primeiro plano e, somados a uma orquestra lindíssima, nos guiam para uma viagem sensitiva. É impossível ouvir e não se deixar derreter com a beleza do instrumental que nos carrega até o fim da faixa.
Vale lembrar que o álbum tem várias faixas com essa pegada, tanto que inspirou um curta metragem chamado “The Odissey”, com dez faixas do álbum.
Lady Gaga, “Bloody Mary”
A oitava faixa do Born This Way — um dos trabalhos mais aclamados de Lady Gaga — é Bloody Mary. A canção sombria e poética não ficaria de fora na nossa lista. Poderia estar presente em The Fame Monster, trabalho anterior da artista com a pegada mais dark, mas veio aqui com mais que o tom escuro, e acrescida de uma sonoridade oitentista que vicia e chama a atenção. Além das batidas cativantes, a faixa conta ainda com um baixo de arrepiar e até um canto gregoriano, definindo o tom de uma música marcante, misteriosa, deliciosa — que caberia perfeitamente em um trabalho audiovisual de drama com pitadas de terror, como “A Maldição da Mansão Bly”. Já pensou?
Christina Aguilera, “Welcome”
Ok, aqui a gente vai sacanear um pouquinho. Escolhemos essa faixa, que é a segunda da parte 2 do álbum Back to Basics, da Aguilera, mas a nossa indicação é o álbum inteiro. Lançado em 2006, ‘B2B’ é um dos trabalhos de maior sucesso crítico e comercial da cantora, e ambos merecidíssimos. O conceito trazido por Aguilera foi coeso do início ao fim, desde o projeto visual do encarte aos clipes, roupas, turnê e impressionantes vinte e duas faixas.
Dividido em dois CDs (na época do lançamento), o primeiro álbum tem um tom burlesco, divertido e totalmente inspirado anos 40 e 50, com inúmeras referências ao jazz e soul, orquestras, instrumentos de metal e uma produção riquíssima. No segundo álbum a sonoridade circense entra em cena — ou melhor, em som. Com interludes guiando o projeto, você pode ouvir da primeira à última faixa sem medo, se emocionando na montanha russa de hits divertidos e baladas arrebatadoras com o vocal impecável de Christina. Um dos maiores e melhores trabalhos pop já feitos: original, diferente, atemporal e digno de cinema.
Kali Uchis, “Vaya Con Dios”
A quarta faixa do mais recente trabalho de Uchis é também uma das faixas mais marcantes da carreira da colombiana-estadunidense. Com alguns dos melhores vocais da cantora, essa balada traz uma letra poética sobre amar e deixar ir, enquanto as batidas modernas somadas à uma orquestra deliciosa alimentam nossa imaginação. Uma guitarra marcante corta aqui e ali, nos trazendo uma vibe faroeste-retrô. É de se sonhar com um longa sensual e de roteiro moderninho, enquanto Kali canta em cima de um cavalo sobre seu amor perdido.
Lana Del Rey, “Venice Bitch”
Uma das maiores faixas (literalmente!) da Lana Del Rey, produzida por Jack Antonoff e presente no aclamado Norman Fucking Rockwell. Com duração de 9 minutos e 41 segundos, a canção é uma declaração de amor da artista, e varia por centenas de humores diferentes. Com um refrão doce e pegajoso de “Oh God I miss you on my lips, it’s me your little Venice Bich” ao final apoteótico, essa música usa e abusa de instrumentos de corda (violão e guitarra acústica) e sintetizadores, nos guiando por um caminho vezes intimista, vezes psicodélico.
Escute essa música com fones de ouvido e sinta a viagem, e se possível, não esqueça de reparar nas batidas em 06:06, que nos lembram ondas se quebrando na praia. Só uma dica…
Madonna, “Isaac”
Que o Confessions On A Dance Floor é um dos melhores álbuns pop já lançados, quase todos nós sabemos. Famoso por seus hits, o álbum também é lar de faixas menos conhecidas mas não menos incríveis, como é o caso de “Isaac”.
Com uma sonoridade inspirada em características culturais do Oriente Médio, a canção traz ainda um poema do rabino e poeta hebraico do século 17, Shalom Shabazi. A música sampleia a voz de Yitzhak Sinwani, um dos guias de Madonna pela Cabala, cantando o trecho do poema, e uma batida futurista e atemporal acerca da canção com letras de Madonna e instrumentos clássicos. É uma verdadeira viagem cultural e sonora, valendo não apenas o play, mas uma introspecção para se imaginar um filme incrível a altura da canção. Uau.