Há dez anos, quando a persona Natalia Kills surgia, choveram comparações com outras artistas que faziam algo além do pop comum. Naquela época (e às vezes um pouco hoje também) qualquer mulher que tivesse um bom apelo visual e algumas batidas fora da caixa era automaticamente categorizada como o próximo possível grande ato do pop. E depois de uma década, a resposta para isso em relação à Kills é muito simples: ficou apenas na promessa.
Apesar de não ter caído nas graças do público como alguns fãs de música tanto desejavam, isso não significa que a cantora não proveu um bom trabalho durante sua ‘passagem’ com esse pseudônimo (um dos tantos que Natalia Noemi Cappuccini usou em suas aventuras musicais).
Com ajuda de nomes como Martin “Cherry Cherry Boom Boom” Kierszenbaum e Jeff Bhasker, dois bons exemplos de produtores que não costumam cair na obviedade do gênero, somado a uma pegada pautada em tons bem escuros, o disco trazia uma visão bem ‘girl power’ sobre relacionamentos, vingança contra homens e uma personalidade de respeito para transformar todos esses temas em algo bastante sólido.
O termo ‘álbum conceito’ significa definir toda uma tracklist em um único ideal, onde um disco funciona melhor em conjunto, já que suas músicas tendem a ser sobre um único tema. O princípio moral sobre atingir a perfeição em tudo que se propõe foi o que ditou as quinze canções em ‘Perfectionist’, e ironicamente o projeto está longe de ser algo sem defeitos, mas a visão da artista sobre o que ela quis passar logo no primeiro grande trabalho da carreira é válida. É fácil sentir que houve realmente uma intenção e um bom olhar para definir como ele ganharia vida, a começar por uma intro que soa piegas, mas que se faz necessária para trazer um tipo de seriedade ao que vai ser falado nas próximas composições.
Ao mesmo tempo que busca falar sobre uma doutrina imaculada ela também se perde em seu próprio desejo, sempre trazendo a resposta de que isso é praticamente impossível, principalmente quando se envolve amor no meio, como canta em ‘Love Is A Suicide’ dizendo que sabe que é uma inimiga, tem noção de que aquele amor não é algo são e mesmo assim ainda se vê envolvida em algo tão defeituoso. Ao contrário daqui, em ‘Break You Hard’ e ‘Kill My Boyfriend’ a personalidade de Natalia se mostra bem fragmentada em relação a o que ela quer para alguém que por um tempo a deixou tão satisfeita. Entre clamar o mínimo de violência que acha necessário para se ver livre de alguém até perceber que o necessário para dar um ponto final em uma vivência em dupla ser puramente um assassinato.
Curiosamente, em momentos leves também temos uma boa pegada de como fazer uma música pop simples e eficiente. Em ‘Superficial’ e principalmente ‘Free’ a questão de composição não é o ponto alto, mas sim o quanto as duas têm o efeito de ficar na cabeça, culpa dos refrãos bem pegajosos.
O que temos aqui é um bom exemplo de como fazer um bom trabalho de pesquisa de tema e como implementar isso em um disco, provando que é possível agir um pouco fora do habitual e conseguir trazer mais personalidade do artista sem que isso seja um problema no resultado final. Vale lembrar que essa pode ter sido a maior chance que Natalia Kills tinha para emplacar uma carreira nos moldes antigos, mas isso não significa que sua música não tenha evoluído para projetos tão ou muito mais interessantes ainda.
Independente do nome que ela estiver utilizando e das polêmicas (que acabaram se tornando maiores do que sua música), a cantora é realmente uma artista que desperta olhares curiosos, tanto para o capricho que coloca em projetos pequenos quanto para a personalidade impossível de causar indiferença.
‘Perfectionist’ completa uma década sem ter perdido o charme de quando foi lançado em abril de 2011, e mesmo que alguns de seus temas soem um pouco datados hoje em dia, no geral o combo das ideias criativas de Natalia com produções de respeito deixaram o disco envelhecer melhor do que qualquer pessoa esperava.