O ano era 1965 quando os Estados Unidos entram com sua participação direta na Guerra do Vietnã – mas vale ressaltar que desde seu início o país já a apoiava a partir do governo vietnamita do Sul para mostrar seu poder de influência, já que nesse mesmo momento ocorria a Guerra Fria. Assim, o país norte americano começa a alistar e enviar seus soldados para a guerra: onde as baixas pelo seu lado foram enormes, o que desencadeou os grandes protestos de Chicago em 1968 – época que é retratada em “Os Sete de Chicago” (ou The Trial of The Chicago 7, em inglês).
Cansados de verem seus compatriotas morrerem por uma “Guerra que não é sua”, Rennie Davis (Alex Sharp) e Tom Hayden (Eddie Redmayne) representando a SDS (Estudantes por uma Sociedade Democrática); Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong) representando os Yippies; David Dellinger (Carrol Lynch) líder da The Mobe; Lee Reiner (Noah Robins) e por último John R. Froines (Danny Flaherty) se reuniram em Chicago, com o objetivo de interferir na Convenção Democrática Nacional que ocorreria em Agosto de 1968, de forma pacífica, ou pelo menos era o que esperavam. A princípio, eles não se conheciam previamente, mas foram julgados por formação de quadrilha.
“Queremos ressaltar novamente que vamos em paz a Chicago, mas com ou ou sem autorização, iremos”
Tom Hayden, líder da SDS
No julgamento pelos seus atos, o filme mostra um oitavo personagem: Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II) condenado injustamente pelo assassinato de um policial durante as manifestações. Sua participação no julgamento, como o próprio diz, era alegórica. O país tinha acabado de derrubar a última lei do Apartheid racial no ano passado aos acontecidos em Chicago e o racismo ainda predominava naquela sociedade.
“Se eu soubesse usá-la (arma), não precisaria discursar”
Bobby Seale, Líder dos Panteras Negras
Um julgamento político
Este sem dúvidas é um termo que é repetido diversas vezes durante o filme. E é perfeito para classificar as acusações aos sete. A cúpula estadunidense planejava que os líderes das manifestações fossem presos, com medo da intensificação das ideias progressistas e de esquerda que suas próprias existências propunham. Durante diversas partes do julgamento, a promotoria faz de tudo que está em seu alcance para forjar provas de que os rapazes se conheciam previamente e que, formavam de fato uma quadrilha.
Nesta altura, há algo que incomoda bastante: além de não ter envolvimento com alguns atos de desobediência civil dos sete, Bobby Seale não possui um advogado para que lhe ajudasse com o caso. E o direito de advogar por si mesmo é negado diversas vezes pelo juízes, o que vai culminar numa cena revoltante e extremamente pesada em que o homem é amordaçado no tribunal. Essa atitude faz a promotoria pedir a absolvição dele nesse caso (a cena está carregada com uma energia de white savior complex).
“Vai se foder com veemência”
Bobby Seale, após inúmeras tentativas de silenciamento por parte do Juíz
Muito foco no Julgamento mas poucas cenas dos protestos
Por mais que Aaron Sorkin, roteirista, utilize dos mecanismos de flashback durante o julgamento para mostrar todos os ocorridos durante as manifestações que carregavam o slogan de “O mundo está assistindo”, há pouco desenvolvimento nas mesmas, o que deixa vários espaços em branco durante a narrativa como, por exemplo, o que realmente aconteceu com o policial assassinado (pelo qual Bobby Seale é supostamente culpado).
O filme tenta retratar que o tumulto foi começado pela polícia, mas a falta de cenas dessa passagem deixam um ar de que os julgados podem sim ter culpa. Mas esse não aprofundamento nas manifestações tem seu lado positivo, uma vez que as cenas de julgamento estão muito bem trabalhadas e contam com uma trilha sonora perfeita, dirigida por Daniel Pemberton.
Cinco indicações ao Oscar
O filme conta com cinco indicações ao Oscar, sendo elas: Melhor Filme para Marc Platt e Stuart M., Melhor Ator Coadjuvante para Sacha Baron, Melhor Roteiro Original para Aaron Sorkin, Melhor Montagem para Alam Baumgarten e Melhor Fotografia para Phedom Papamichael.
Com tantas indicações o filme mostra que suas mais de duas horas de duração valem a pena de serem acompanhadas. O desenrolar do julgamento é hipnotizante e faz com que quem assiste se apaixone pelos protagonistas e que fique na torcida para que eles sejam absolvidos, e que sua luta seja valorizada. Tão importante para sua data de lançamento nos EUA (período de eleições) quanto para o resto do mundo, como alerta de como um governo que abusa de seus poderes pode ser um perigo a democracia, “Os 7 de Chicago” se encerra com uma frase muito imponente e um tanto quanto influente: “o mundo inteiro está assistindo”.
Assista “Os 7 de Chicago” na Netflix.