A Coreia do Sul vai dominar o mundo. Ok, pra não ser tão exagerada assim, vou assumir apenas que todos saibamos que a cultura sul-coreana está ganhando uma enorme força globalmente. Quando a gente para pra pensar que o ganhador do Oscar de Melhor Filme de 2020 foi pra Parasita e quando olhamos os charts gerais da música em 2021 com o BTS no topo por várias semanas, percebemos que sim, cada vez mais estamos imersos nessa cultura, agora universal.
Mas calma, young padawan. Isso não quer dizer, de forma alguma, que a gente aceita. Sim, aceitamos mais do que há cinco anos, mas ainda assim existe muita xenofobia em torno de filmes, das séries e da música sul-coreana – quem não se lembra do próprio Bong Joon-ho falando sobre a necessidade dos norte-americanos de aprenderem a ver filme com legenda?
O que é um pouco cômico, se formos parar pra pensar, já que a minha geração – lembrando que sou nascida em 1995 – viveu um lapso de boy bands ocidentais entre Backstreet Boys, Jonas Brothers e One Direction, e, se eu bem me lembre, era muito comum que existisse um fandom enorme pra qualquer um dos três.
E aí, existe uma mitificação de que toda pessoa que escuta k-pop é adolescente e chora por seus idols (os ídolos). Eu comecei sendo fã dos Jonas Brothers com 15 anos, por exemplo, e hoje tenho 25. Ninguém me questiona do porquê sou fã deles, mas quando falo que gosto de k-pop a história muda. É um escândalo. Sendo que… é só música. É como se eu gostasse, sei lá, de Britney Spears e Taylor Swift. Nada polêmico, nada de errado, somente música. Quem não gosta de música?
Então aqui vai um guia aberto a você que acha o k-pop interessante – ou somente o que ele é: música -, e tem vontade de ouvir mas não sabe bem por onde começar ou o que significa o que. É preciso primeiramente entender como a indústria do k-pop funciona, porque é um pouco diferente da grande maioria de grupos ocidentais que vemos por aqui. O que faz o k-pop ser diferente? Aqui vão 3 pilares básicos pra gente entender isso.
1. Do trainee ao debut
Na Coreia do Sul, a cultura de entretenimento musical é dominada por três empresas, que são chamadas de BIG3: SM Entertainment, JYP Entertainment e YG Entertainment. As três tem contáveis colaborações para a indústria do k-pop, como o advento do sistema de trainees*, o uso do rap em grupos de k-pop, o maior aperfeiçoamento de performances e até coisas menores, como o uso de photocards**.
Mas Mari, o BTS, por exemplo, não é de nenhuma dessas empresas e a BigHit/HYBE (responsável pelo grupo) tem mais lucro hoje que todas elas. Sim, a HYBE realmente tem, mas a BIG3 é considerada maior por suas contribuições históricas para a construção do k-pop que conhecemos hoje.
*Trainees são as crianças e adolescentes que entram nas empresas com o sonho de debutar (estrear por assim dizer). Elas passam cerca de 14 horas do dia treinando dança, vocal, rap, habilidade em línguas, história, dentre outras coisas, dentro de um processo de eliminação, para assim, após meses e até anos, serem lançados no mercado.
**Dentro desse universo, temos os photocards, que são fotos normalmente tiradas pelos idols que vem acompanhando o álbum físico. Alguns álbuns ocidentais acabaram usando a estratégia de photocards, como por exemplo o 1989 da Taylor Swift que veio com algumas polaroids da artista ilustrando as canções e moods do projeto.
2. Cada integrante tem seu papel
No k-pop existem posições a serem ocupadas por determinadas pessoas. Aqui no Ocidente não temos uma distinção tão explícita, mas são claras algumas coisas, como por exemplo, o fato do Harry ou Zayn serem considerados os melhores vocalistas do One Direction, o fato do Harry sempre falar pelo grupo como um todo e o Louis a ser o pior dançarino.
Lá na Coreia existe essa definição a partir do momento em que os grupos debutam: os vocalists, os rappers, os dancers, o visual – quem está mais propenso a fazer propagandas e a aparecer mais nos clipes -, e o face, que é quem fala pelo grupo. Existe também o líder, que é a pessoa responsável pelo grupo de forma geral.
3. Uma geração após a outra
O k-pop é dividido por gerações. Sabe como a gente tem o Elvis Presley, depois a Cher, depois a Janet Jackson, a Britney, a Beyoncé e agora a Olivia Rodrigo? Pois é, lá eles também tem essa linha cronológica, entretanto, chamada de gerações.
A primeira geração se iniciou nos anos 90 e tem como destaques H.O.T. e S.E.S; a segunda nos anos 2000, em que temos Girls’ Generation, Super Junior, Wonder Girls, T-Ara, entre outros; a terceira nos anos 2010, onde conhecemos BTS, BLACKPINK, Twice, Red Velvet, etc; e por fim, a quarta, geração em que estamos, com os novos grupos Aespa, StayC, The Boyz e por aí vai.
Por onde eu começo?
Com base nesses 3 pilares segmentados podemos ter uma noção um pouco mais clara da hierarquia funcional do k-pop e porque ele se diferencia tanto da estrutura de outros grupos ao redor do mundo, entendendo assim a indústria como um todo. Agora Mari, por onde eu começo a escutar?
Eu pessoalmente entendo que o k-pop tem um estilo muito próprio, chamado aegyo, que é basicamente um conceito mais fofo e infantilizado de entretenimento e é bastante utilizado principalmente por grupos de meninas. Então, eu recomendo que se volte pra um estilo mais Ocidental de início, pra ir se acostumando com o aspecto do gênero e depois mergulhar nas partes do aegyo sem estranhamento. Como a gente não brinca em serviço, vou indicar algumas músicas aqui que possam ajudá-los nessa missão com 4 playlists diferentes do ESCUTAI!
K-pop FRESHY
Lista de lançamentos de k-pop, reunindo todos os universos do gênero
K-pop Solos
Os k-idols reunidos em suas versões solo nessa playlist especial