Em meio a polêmicas com membros do elenco, um segundo filme de desempenho e qualidade bastante duvidosos e revoltas relacionadas à criadora do universo de Harry Potter e Animais Fantásticos, J.K. Rowling (que também assina o roteiro desse filme), o terceiro longa da série chega aos cinemas brasileiros a partir de abril, e nós do escutai já assistimos.
Imerso no universo dos anos 30, a trama deixa um pouco de lado o até então protagonista Newt Scamander (Eddie Redmayne) para focar nos segredos de Dumbledore. De cara a primeira decisão acertada no roteiro, já que essa parte da trama é muito mais interessante do que o fascínio e comprometimento de Newt pelos animais fantásticos. Agora temos um Grindelwald (dessa vez vivido por Mads Mikkelsen) não apenas fora da prisão, mas concorrendo ao cargo de maior liderança do mundo mágico com uma ameaça nas mãos: destruir o mundo dos trouxas humanos — que não descendem diretamente de linhagens mágicas.
Com um apelo especial ao Brasil, o novo filme traz Maria Fernanda Cândido – uma atriz já consagrada no imaginário nacional após diversos papéis de destaque em novelas – em um personagem importante na narrativa. Conveniência ou não, o papel de Cândido é interessante, e ela tem mais tempo de tela do que se imaginava, embora só tenha, literalmente, uma fala. Mesmo assim, a presença provavelmente será suficiente para levar centenas de pessoas às salas de cinema.
Maria não desaponta. Mesmo com um papel limitado, a presença é marcante e importante para o desenvolvimento da narrativa. Todas as cenas da atriz atraem os olhares dos espectadores brasileiros, e é no mínimo uma vitória podermos encontrar esse ponto de orgulho nacional na trama.
De forma geral, o filme não é ruim. Diferente do segundo volume da saga — que é extremamente confuso e bagunçado —, Os Segredos de Dumbledore cativa. Em suas duas horas e quarenta minutos somos apresentados a mais ângulos do mundo mágico, que embora não seja tão cativante quanto os sete filmes de Harry Potter, consegue ser o melhor dos três filmes lançados sobre o spin-off.
A narrativa aqui é mais coesa e melhor amarrada, as cenas de ação conseguem prender os olhos ávidos por efeitos mágicos e o filme tem um bom balanço entre a comédia, o desenvolvimento da narrativa, ação e os efeitos especiais. Os animais fantásticos que quase foram cansativos no primeiro filme, aqui cativam construindo, finalmente, seu lugar no roteiro. É um filme menos arriscado, que (talvez felizmente) parece mais uma tentativa de “arrumar a casa” e assim criar uma transição positiva para um possível quarto filme.
A relação homoafetiva de um dos principais e mais queridos personagens (Albus Dumbledore, interpretado por Jude Law) e o vilão não fica subentendida e nem tenta ser discreta. Coube perfeitamente na trama sem soar apelativa ou disfarçada. Aqui comentar sobre a assertiva substituição de Johnny Depp (que interpretou Grindewald nos outros filmes) por Mads Mikkelsen, já que agora Grindelwald, o vilão da trama, não é mais tão caricato ou fantasioso. Suas caricatas afeições foram substituídas por elementos que o tornam mas humano e sutil — o deixando talvez ainda mais assustador.
Os paralelos com tramas políticas atuais estão presentes, assim como as frases de efeito que fizeram de Dumbledore um personagem tão popular e querido — mas mesmo assim, tudo fica um pouco manchado e incômodo para quem está atento às atrocidades transfóbicas que J.K comenta quase mensalmente em seu Twitter.
De forma geral o filme cativa e entretém muito bem, com um elenco mais diverso e afiado, um roteiro mais bem amarrado e seguro do que quer propor, cumprindo assim seu papel, mesmo que não seja nem incrível e nem péssimo. Os elementos de nostalgia para a série original também têm seu apelo — como por exemplo quando ouvimos um trecho da trilha sonora de Harry Potter e nas cenas ambientadas em Hogwarts. Por um lado, agrada os fãs do universo. Por outro, deixa claro que a nova série ainda não tem uma identidade forte o bastante para causar uma comoção igual ou mesmo similar com sua históra original.
A possibilidade para um próximo filme, claro, segue aberta, como a Warner mesmo já deixou no ar. Com o rumo que o terceiro filme toma, a ideia de assistir um quarto filme soa bem melhor do que a ideia de ver este após o caos presente no segundo. E definitivamente fica nossa torcida por mais cenas, diálogos e desenvolvimento de Vivência Santos, a personagem interpretada por Maria Fernanda Cândido e que foi capaz de abrilhantar muito mais a experiência.
Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore segue em cartaz nos cinemas do mundo todo e em breve aterrisa na HBO Max.