Sandy retoma sua agenda de shows e, no dia 5 de agosto, após uma pausa de cerca de 3 anos, ela se reencontra com seu público – sempre – fiel. A turnê passará por diversos estados e, por ora, temos shows confirmados até novembro deste ano.
Mesmo sem revelar detalhes sobre esse retorno ou sobre o repertório que será apresentado, cenário, nome da turnê, enfim, informações que costumam ser relevantes para que o espectador se interesse e adquira os ingressos para estar junto de seu ídolo, vários shows foram esgotados em poucas horas. E algumas datas extras já foram abertas para contemplar o público sedento pelo comeback da cantora, dessa vez solo – já que em 2019, junto de seu irmão Junior, com quem dividiu uma carreira consagrada, duradoura e cheia de sucessos que marcaram gerações, reviveu a sensação de euforia e grandiosidade que a dupla sempre teve, ao levar a turnê Nossa História, uma das mais lucrativas daquele ano, pelo Brasil inteiro, EUA e Europa.
A cantora dividiu os palcos com o irmão por 17 anos (de 1990 à 2017) e após o encerramento dessa fase grandiosa e relevante para os jovens que cresceram e acompanharam a dupla por tanto tempo, chegou a hora de parar um pouco, respirar com calma e decidir quais seriam os próximos passos.
E como a própria artista canta nos versos do single Pés Cansados, que marcou seu tão aguardado retorno à música, “meus pés cansados de lutar, meus pés cansados de fugir, os mesmos pés cansados voltam pra você”. E essa volta se deu em 2010, com seu álbum mais intimista, intitulado Manuscrito.
Neste trabalho, vemos a essência de Sandy ser derramada em cada faixa, acorde, em cada nota, palavra e em cada escolha feita, desde os tons, harmonias, ritmos e instrumentos, aos profissionais envolvidos no projeto. Nessa fase de sua nova carreira, apesar da bagagem profissional adquirida ao lado do irmão ser extensa e repleta de sucessos, Sandy escolheu ser menor e aceitar o público que a quisesse, mesmo ao assumir o nervosismo por conta do salto de fé dado rumo ao desconhecido. Ela afirma que, mesmo que soe um pouco egoísta, estava disposta a fazer algo para ela mesma, onde seus gostos e suas vontades fossem sua prioridade. Por isso, ao escolher o parceiro de vida, Lucas Lima e o irmão, para fazerem não só a produção do álbum, mas também para dividir a autoria das 13 faixas que o compõem, não poderia ter sido mais coerente.
A artista se diz muito racional, mas ao mesmo tempo romântica e sonhadora. Neste trabalho podemos conferir todo o romantismo que já vislumbramos em suas primeiras amostras como compositora, mesmo que ainda tímida, na época em que cantava ao lado de Junior, como nas músicas “olha o que o amor me faz”, que nasceu de uma poesia escrita por ela, ou mesmo com a música que virou hit e deu nome a turnê de sucesso absoluto “as quatro estações”. A diferença é que nessa fase solo, apesar de insegura, ela se despe diante dos ouvidos atentos de um público que aguardou paciente e ansioso pelo que ela tinha pra mostrar. E, como era de se esperar, não ficou nem um pouco decepcionado com a maturidade e verdade com que ela o fez. Quando questionada sobre qual parte dela e de suas experiências pessoais são expostas nas canções, ela responde que não são necessariamente autobiográficas: “mas eu posso dizer que todos os sentimentos que elas expressam… que elas expõem, são meus”. Nesse primeiro contato com a solidão de se ver sem o parceiro que a acompanhou por 17 anos, ela foi capaz de conquistar feitos inimagináveis como o disco de ouro (após 10 dias de lançamento), disco de platina, uma parceria internacional com a cantora inglesa Nerina Pallot e shows sempre lotados.
Pouco mais de um ano após o lançamento desse primeiro álbum de estúdio, Sandy deu o próximo passo e gravou o registro audiovisual, em novembro de 2011, do Manuscrito Ao Vivo. Repetiu a parceria de sucesso do seu antecessor e deixou a produção e direção do show sob responsabilidade do marido Lucas e do irmão Junior. A gravação que aconteceu em SP contou com a presença de ícones da nossa música como Lenine (na faixa “sem jeito”) e Seu Jorge (na faixa “tão comum”), e refez o assertivo dueto com Nerina Pallot, com quem dividiu os vocais e composição da letra da música “dias iguais”. Além das versões ao vivo das músicas do Manuscrito, Sandy fez questão de colocar no repertório canções de outros artistas que ela gosta de ouvir e cantar, como “beija eu”, de Marisa Monte, “hoje eu quero sair só”, do Lenine, “casa” de Lulu Santos, “put your records on” de Corinne Bailey Rae, “wonderwall”, do Oasis, “suddenly I see”, de KT Tunstall e a canção que a fez conhecer a admirar o trabalho de Nerina, “Idaho” (que fizeram questão de cantar no palco do Teatro Bradesco).
Uma vez que Sandy voltou pra música e viu que o público a abraçou e aceitou o amor, cuidado e responsabilidade que sempre foram depositados em cada trabalho executado, ela se firmou de vez e no final de 2012 retornou com o EP Princípios, Meios e Fins, onde apresentou, junto a mais 4 canções, a conhecida “aquela dos 30”.
No meio do ano seguinte, em junho de 2013, ela apresentou o álbum SIM, que continha as 5 faixas já contidas no EP e mais 5 inéditas. Apesar de ainda encontrarmos o romantismo melódico e a poesia sempre presente em suas músicas – que já são marcas registradas da artista – como nas faixas “morada” que foi composta em parceria com a escritora e roteirista Tati Bernardi e “segredo”, percebemos uma Sandy mais disposta a se arriscar ao nos entregar aqueles agudos potentes no fim da música título “sim”, por exemplo, ou mais experimentativa e divertidamente sarcástica com a melodia e letra de “ponto final” (parceria repetida com Tati Bernardi). Neste trabalho, pela primeira vez, a cantora se permitiu gravar algo que não era de sua autoria. A música “saudade” foi composta por Denis Nassar. E, mais uma vez, Lucas Lima se encarrega da produção do álbum junto ao engenheiro de som, Jason Tarver.
Logo após o lançamento do álbum, a turnê SIM foi iniciada e, em dezembro do mesmo ano, Sandy anunciou sua primeira gravidez, que não a impediu de continuar cumprindo seus compromissos profissionais e agenda de shows – ela fez sua última apresentação ao vivo com 7 meses de gestação. Foi somente após o nascimento de seu filho, Théo, que ela optou por uma pausa mais longa para curtir a maternidade e se entregar ao novo e tão sonhado papel de mãe. Entretanto, essa pausa não durou muito tempo e já em 2015 começamos a ver uma nova faceta dela nas tardes de domingo, a de jurada do Superstar, ao lado de Daniela Mercury e Paulo Ricardo. Esse retorno gradativo da artista foi importante para a adaptação e conciliação do papel de mãe e de artista.
E assim que esse retorno se deu, foi anunciada a gravação do segundo projeto ao vivo, Meu Canto, que aconteceu no RJ, em junho de 2016. No repertório, Sandy uniu os maiores sucessos de sua carreira solo e somados a eles, apresentou 5 canções inéditas (uma delas, “respirar”, escrita com Daniel Lopes, elogiado participante do programa Superstar, já havia sido apresentada ao público durante a turnê Teaser, que antecedeu a gravação do DVD), inclusive “me espera”, dueto com Tiago Iorc que retém um dos maiores números de visualizações no youtube. Além dos novos arranjos para as canções que Sandy gosta de ouvir como “all star” e “cantiga por Luciana” (cantada em homenagem ao seu avô Zé do Rancho, num momento muito emocionante do show), e a nostalgia de cantar músicas da época da dupla como “nada é por acaso” e “desperdiçou”, o show ainda contou com a ilustre presença de Gilberto Gil que dividiu os vocais com a artista e compositora da música “olhos meus”. A direção musical do show foi repetida por Lucas Lima e Raoni Carneiro foi responsável pela direção geral e artística do mesmo. Posteriormente, todas as faixas inéditas ganharam uma versão de estúdio e foram apresentadas ao público no EP homônimo ao DVD.
O próximo álbum gravado em estúdio veio em 2018, mas 2017 também trouxe lindas surpresas. Neste ano Sandy foi convidada a compor para a trilha sonora da novela Tempo de Amar e, junto de Lucas, escreveu “nosso nó(s)”, que virou clipe pouco tempo depois e ganhou o coração dos fãs apaixonados pela doçura da melodia e pela narrativa poética de sua letra. Ainda em 2017, participou da música “ai de mim”, junto com os meninos do duo pop/folk OutroEu. Em 2018, entrou na trilha da novela Segundo Sol, com a releitura da música “preciso de você”, elogiada pelo intérprete original Netinho. E no segundo semestre de 2018 Sandy voltou com seu trabalho mais ousado e diferente: o Nós, Voz, Eles.
Nesse projeto audiovisual, Sandy abriu as portas de seu home estúdio e mostrou a rotina de gravação com os artistas com quem escolheu fazer parceria: Maria Gadu, Lucas Lima, Mateus Asato, Anavitoria, Thiaguinho, Melim, Xororó e IZA. A ideia principal foi achar um ponto de convergência entre os gêneros musicais de cada cantor convidado e gravar uma música inédita (salva a exceção com Xororó, com quem cantou a música “meu disfarce”, já conhecida pelos fãs dos sertanejos).
Além das faixas ecléticas, ora românticas como “pra me refazer” e “areia”, ora cheias de atitude como “eu só preciso ser” e “no escuro”, ora relax como “eu pra você” e “um dia bom um dia besta”, Sandy também mostrou os momentos descontraídos dos bastidores e o amor ao receber cada convidado e ao lidar com os detalhes de cada canção, típico de quem ama incondicionalmente o que faz e falando em amor e competência, Lucas Lima desenvolveu um trabalho incrível e irretocável com os arranjos dessas canções. a diferença entre os ritmos apresentados não foi obstáculo para o multi-instrumentista , que entregou um resultado final que não poderia ter sido mais BONITO. Todo esse processo de bastidores e videoclipes estão disponibilizados no canal da artista, no YouTube, e em DVD.
A turnê Nós, Voz, Eles, que logo começou a rodar o Brasil, foi bem sucedida e contou com vários desses artistas, que subiram no palco pra cantar em coro, junto ao público as canções que já estavam na ponta da língua. E foi em um desses shows que fomos surpreendidos pela invasão surpresa do irmão, Junior Lima, em SP, no meio da releitura que Sandy incluiu no setlist da música “eu acho que pirei”. E foi então, que os fãs alucinados pela dupla começaram a especular o retorno de Sandy & Junior, que logo foi confirmado por ambos.
Que a turnê Nossa História, feita em comemoração aos 30 anos da primeira apresentação televisionada dos cantores, que durou de julho a dezembro de 2019, foi um fenômeno de nível internacional e que foi mundialmente conhecida como uma das turnês mais lucrativas de 2019, todos já sabem. E, de fato, ela dispensa comentários. Mas foi interessante vislumbrar a grandiosidade daquela Sandy mais jovem novamente. A própria artista comenta numa entrevista gravada à distância, cedida à Marcos Mion – já durante a pandemia – que se surpreendeu com o fato de ainda saber ser grande e cantar para multidões, como fez durante a juventude. Ela afirma ser muito grata a sua história de vida e toda a sua trajetória ao lado do irmão, mas que ela se enxerga muito mais na Sandy intimista e no lugar onde ela se apresenta para menos pessoas.
Como sabe-se também, pouco tempo depois do fim da turnê, o mundo se viu diante de uma situação completamente atípica e tivemos que lidar com um isolamento social forçado devido a Pandemia de COVID-19. Foram muitos dias de incertezas, tristeza, inúmeras perdas, luto e angústias, onde cada pessoa lidou com todos esses sentimentos de um jeito diferente, os artistas não foram exceção. Enquanto alguns aproveitaram o período para lançar vários novos trabalhos, Sandy se recolheu. A artista não se sentia produtiva para compor ou lançar algo num período de tanta dificuldade. Seu único lançamento foi o projeto, também audiovisual, chamado 10:39, divulgado em 2020. Nele, ela apresentou 3 músicas (duas de outros artistas: Supercombo e 5 a Seco e uma de autoria própria) como se fossem uma unidade. Se pararmos para ouvir as 3 canções na sequência proposta por ela, é quase imperceptível notar quando uma termina para a seguinte começar. E da mesma maneira, ela gravou os clipes, como se fossem um único vídeo contando a mesma história. O projeto soa como um grito de desespero e esperança por um futuro melhor.
Nesse mesmo ano, os fãs puderam matar a saudade de sua voz, junto a do parceiro Lucas, na música “Estrela”, releitura da clássica canção de Gil, que faz parte da trilha do segundo episódio – protagonizado por Lázaro Ramos e Taís Araújo – da série global Amor e Sorte. Ainda em 2020, Sandy repetiu a parceria com a Disney ao gravar a música “Lealdade coragem verdade” para o live action do clássico Mulan, onde havia sido escolhida para cantar “imagem”, originalmente gravada por Christina Aguilera, em 1998.
No ano seguinte, ela apresentou a releitura de “lugar ao sol”, do Charlie Brown Jr e gravou, em parceria com a Bradesco Seguros, o comercial da campanha e a música tema da mesma “com você, sempre”, escrita e produzida pelo casal. Seu último trabalho, até o momento, foi a música “Universo reduzido” e seu videoclipe, lançados também em 2021, onde a artista nos dá um vislumbre do seu olhar tão pessoal e cheio de sentimento do que viveu durante a pandemia. Como se descrevesse o que o seu olhar assistiu passar pela janela durante esse tempo todo.
Agora, há menos de um mês de voltar a se encontrar com o público, que a essa altura não aguenta mais a saudade de vê-la e ouví-la num palco, seguimos ansiosos por notícias do que encontraremos nas próximas páginas escritas nessa história de tanto amor e comprometimento com o que nós – tanto artista, quanto plateia – tanto amamos: A Música!