Não é curioso pensar em como a galáxia é infinitamente grande e antiga? Tudo que pode ter-se formado nesses milhões de ano, e aquilo que está se formando agora, gera uma tremenda dor de cabeça bem-vinda. Infelizmente, parecemos ainda, mesmo com ótimos avanços, longe de saber muitas respostas. Mas que há algo lá fora, há. Melhor, há vários algos.
Ao menos em O Predador: A Caçada temos uma breve (e claro, fantasiosa, ou não) ode do que os mistérios do universo já podiam trazer a tona para a Terra. Isso porque o filme prequel da famosa franquia se passa nos anos 1700. Contando nos dedos, é bastante tempo. Ou seja, os caçadores-extraterrestres de uma das obras mais marcantes da cultura pp estão aqui desde o começo do século 18.
Deixando de lado os achismos e um pouco da viagem envolvendo onde o sol não alcança, e refletindo sobre a premissa, a gente encontra o que é uma das produções mais instigantes e bem realizadas do ano.
A narrativa anda por entre jornadas básicas e mostra o brutal ser (que aqui provavelmente é jovem, a caveira de lobo que cobre seu rosto atenua isso) indo parar em meio a uma selva habitada por uma Nação Comanche. Nessa tribo, conhecemos Naru (Amber Midhunder), forte guerreira com um poder insaciável em provar-se ser uma caçadora — título esse visto por todos ao seu redor pertencente somente a alguém do sexo masculino.
Acima de tudo, é muito nas entrelinhas, e fora delas também, que a obra amplia uma força bárbara; sempre reforçando um plano de fundo bem estruturado envolvendo um contexto sócio-político/histórico, o longa em si não deixa despercebida a repressão feminina.
Naru é vista desde o momento zero como sendo a moça da tribo que deve desempenhar “atividades de mulheres” e somente. É gratificante ver linhas de roteiro em que ela quebra com esse estigma com uma fera voraz. Em certo momento sua mãe lhe questiona o porquê dela querer tanto caçar, e ela retruca rápido “Porque todos vocês acham que eu não posso!”
O debate envolta desse imagético de que a protagonista não é apta o suficiente pra caçar é implementando como primeiro alicerce para justamente fazer mal a aqueles que creem nessa ideia. Honestamente, é particularmente até interessante ver os vários comentários machistas sobre o achismo em achar que ela não teria força o suficiente para dar conta do bárbaro alienígena (que mais do que nunca luta lindamento de forma corpo a corpo). Ver isso só reforça ainda mais um dos ponto principais da obra.
Como Naru é repleta de força, e o filme quer encarnar isso como algo simbólico e natural, é a primeira a acreditar que há algo além do que um animal grande na selva, Tanto é que a presa passa a ser caçada o tempo inteiro; tal pretensão funciona não só para com desejo da personagem em passar pelo ritual que a transforme em uma caçadora, como também idealiza uma ótima virada de engate de narrativa para o Predador.
Essa crença, estabelecida destemidamente pela enorme inteligência da personagem, é praticamente o cerne da coisa. Afinal, tudo que opta vender ao telespectador, confia de modo imenso em suas próprias certezas.
Tal pulo de fé realiza uma transformação de ritmo muito prazerosa de ver e adivinhar (mesmo que os moldes mais comuns do gênero estejam por aqui) o que virá a seguir. O desejo pelo embate final cresce no peito da protagonista e do nosso; e quando chegamos lá. encontramos um resultado engenhoso e digno das circunstâncias criadas. O melhor aparece ao vermos que isso se germina por entre raízes sem dualidades, o caminho para o fim é refrescante e cuidadoso, e acima de tudo, bem conduzido pela direção e deslocamento de história.
Amber Midthunder aciona todos os seus sentidos, e os da personagem, em uma performance boníssima; sendo bastante nítida e capaz para uma adolescente Comanche que ergue levantes em sempre merecer mais. É a maior força da disso tudo. Junto, quem oferece um enorme papel também é a linda ambientação. Tira o fôlego e resplandece a ideia de local perfeito, luta perfeita. Diferente do grotesco do assassino cósmico, a aclimação gera conforto e espetaculares frames regidos pela direção corajosa de Dan Trachtenberg.
Em alguns termos, caso venha a torna-se uma franquia dentro da franquia, a narrativa e execução vistas em O Predador: A Caçada podem parecer como a saga John Wick para o monstro translúcido; sempre projetando grandeza e parecendo cada vez mais violento e cativante. Caso seja mantida esse método mordaz e único (e principalmente fresh e adequado para o que queremos ver nos dias de hoje), o futuro da série irá correr com o sangue fervendo.
O Predador: A Caçada está disponível no catálogo brasileiro do Star+.