Quando “Crazy In Love” de Beyoncé estourou nas caixas de som da Tenda Heineken no C6 Fest, o tremor foi coletivo. O som estrondoso, que parecia apenas uma música ambiente, era na verdade a abertura para o primeiro ato daquele palco. Logo em seguida, era possível ver algumas pessoas andando rapidamente e pegando instrumentos, começando a apresentação do sexteto britânico Black Country, New Road meio que no susto.
O saxofone de Lewis Evans ecoava quase que de maneira ritualística, e nesse momento mal se ouviam gritos, como se o público estivesse aguardando os primeiros vocais para começar a se permitir pular e se hipnotizar com “Up Song”. A faixa de abertura do registro mais recente, “Live at Bush Hall“, é a mais animada, dançante e pop do disco. A opção perfeita para aquecer o frio que fazia no Parque Ibirapuera, em São Paulo.
O espetáculo da banda parecia complicado de ser executado. Por mais que os membros estivessem em clara sintonia, a troca de instrumentos e vocalistas demandava fluidez. Felizmente, eles sabiam como fazer isso sem perder tempo ou qualquer sinal de desordem. Essa maneira quase crua com que levavam o show adiante poderia parecer algo amador para quem não os conhecia, mas essa impressão se perdia quando ficava perceptível que para sua grandiosidade musical acontecer, era necessário.
Apesar de não estar lotado, o último dia do festival na Tenda Heineken exigiu uma organização mais rigorosa. Mesmo o primeiro show começando às 18h00, já era possível perceber que fãs dos artistas daquela noite estavam dispostos a correr em direção à grade (algo que não era comum no público do C6 Fest). Sendo assim, filas foram necessárias para acalmar um pouco os ânimos. Mas apesar de tudo isso, quando as luzes se apagaram, era possível perceber que não havia qualquer indício de empurra-empurra.
Black Country, New Road equilibrava muito bem entre momentos fortes e introspectivos. A abertura animada não tinha nada a ver com o momento de “Horses”, uma faixa ainda não lançada oficialmente, mas já bastante conhecida pelos fãs. Era a vez de Georgia Ellery cantar, e sua voz agridoce brilhava. A troca de vocalistas era feita da forma mais natural possível, e o resultado era como se ouvíssemos apenas um ser com um poder de modulações internas sobrenatural.
O maior momento foi durante “Turbines/Pigs”. O bastão vocal estava com May Kershaw, e o tom dramático, quase teatral, serviu para emocionar e silenciar a plateia. Mas mais uma vez, o silêncio aqui não representava apatia, e sim deslumbramento. Após alguns minutos, as teclas ficavam mais rápidas e a banda começava a acompanhar como se estivessem batalhando entre si de forma frenética, levando a um estado de sublimidade.
Em suma, a performance do Black Country, New Road na Tenda Heineken do C6 Fest foi uma experiência arrebatadora para o público presente. A habilidade da banda em transitar entre momentos energéticos e introspectivos, a troca fluente de instrumentos e vocalistas, e a maestria com que criaram uma atmosfera envolvente e imprevisível são testemunhos do seu talento excepcional.
O show foi marcado por momentos tão celestiais que a plateia era transportada para um estado de encantamento. O sexteto consolidou-se como uma força singular de sua cena musical, deixando uma impressão inextinguível em todos que tiveram a sorte de estarem presentes.