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Festival Sarará retorna para o Mineirão em meio a música boa e confusões

Evento consagrado pelos belorizontinos presenciou falhas técnicas e insegurança em meio a artistas incríveis.

Se o calor que assolava Belo Horizonte parecia receber bem os fãs de música que chegavam ao Mineirão no último sábado (26/08), as mudanças no clima aguardavam sua hora para surpreender a todos e marcar sua presença no festival. Com um line-up histórico que marcava o retorno de Fat Family aos palcos, o primeiro show da nova e aguardada turnê de Rubel (que precisou ser adiada por problemas de saúde e o retorno de Marisa Monte para a cidade, como headliner do evento. Jorge Aragão, Urias, Mc Cabelinho e Tasha e Tracie eram algumas das outras aguardadíssimas atrações, que reuniram público entre os três principais palcos montados na Esplanada do Mineirão.

O primeiro contratempo veio logo no começo da tarde, quando a chuva fechou temporariamente o aeroporto do Rio de Janeiro e impediu o cantor Rico Dalasam de chegou a tempo de seu show. O cantor convidado do artista, Kaike, de apenas 17 anos, subiu ao palco e fez valer para o público presente. Pouco tempo depois, o show do cantor Johnny Hooker – que homenageava Marília Mendonça em seu set –, atrasou quase uma hora por motivos técnicos. O show foi mantido sem cortes, mas o atraso da apresentação empurrou todos os demais shows dos palcos principais em uma hora.

Hooker, mesmo com os imprevistos, apresentou seu set repleto de carisma e hits – próprios e de Marília Mendonça – para a multidão que já se formava ali. Era finalmente o começo de uma tarde promissora de shows, que recebeu em sequência o grupo Fat Family, em uma reunião especial que marca os 25 anos do grupo. As três irmãs e a sobrinha entregaram um show para um público diverso em todas as características, mas unidos pela nostalgia e amor à música. Em 50 minutos muito emocionantes, as divas balançaram o pescocinho, esbanjam talento, simpatia, e muitos vocais. Toda a Esplanada pareceu se divertir com os hits da banda, mas a chuva que chegou de surpresa no fim do set não deu tempo de ninguém se preparar.

Sem estrutura adequada para tais acontecimentos, a Esplanada logo pareceu um campo de guerra: a multidão corria de um lado para o outro procurando um mísero espaço para se abrigar, causando aglomerações em pontos despreparados e deixando grande parte do público à mercê do tempo. Para piorar, parte do teto que deveria proteger o público do camarote open-bar não cumpriu sua função, e fez com que os presentes percebessem logo que precisariam sim lidar com a chuva.

Se essa frustração não fosse suficiente, diversos relatos de furtos – na pista e no camarote – emergiram. O público se queixou nas redes do evento e é possível ver, em diversos comentários, que o medo também foi um sentimento presente vivenciado pelos pagantes do evento. Denuncias foram feitas aos seguranças, mas segundo o público, nenhuma medida foi tomada: aumentando a insatisfação, insegurança e risco da plateia.

Quando voltamos nossa atenção à música, Jorge Aragão subiu ao palco após o Fat Family mas teve que levar boa parte de sua apresentação quase no escuro, devido a problemas técnicos também causados pela chuva. Alguns desses problemas persistiram, afetando principalmente os telões do evento, que apresentavam instabilidades ao transmitir a apresentação de Rubel, Urias e Lagum, que vieram a seguir.

Enquanto Rubel trouxe Mc Carol e uma banda de mais de doze músicos para dar início à sua nova turnê, Urias serviu uma performance eletrizante e cheia de coreografia para representar seus trabalhos mais recentes. Um misto de sentimentos e a famosa sanfoninha da carência do Tiktok no primeiro show, um mashup de “Vaya Con Dios”, de Kali Uchis, com “Foi Mal”, também hit no aplicativo, no segundo.

E se você tiver com a impressão de que muito já aconteceu nesse festival, ainda não falamos dos dois últimos shows: Lagum e Marisa Monte. A banda mineira emocionou com Pedro Calais à frente do palco, mas com uma banda extremamente energética e afiada. A platéia não se afastou com a chuva, e pulou e vibrou com as músicas do grupo, que vão de melodias românticas à vocais rasgados de um rock que não chega a ser, mas que Pedro carregaria com maestria. Em turnê com diversas datas pelo país, o vocalista reafirmou a gratidão por BH, que foi onde a banda aconteceu primeiro. E ao fim, anunciou que assistiria a próxima (e talvez mais esperada) artista: um dos maiores nomes da música brasileira, Marisa Monte.

Apresentando uma versão um pouco mais simples de seu show já consagrado, a turnê “Portas”, vimos ali as projeções, figurino e a banda completa como em outras apresentações do show. Com algumas mudanças na setlist (em um formato mais enxuto que se adequasse ao festival), e Arnaldo Antunes de convidado especial, Marisa entrou no palco ao som de “Pelo Tempo que Durar”, prometendo ali um show emocionante.

Com foco em grandes hits de sua carreira, quase todas as músicas do disco mais recente, “Portas”, ficaram de fora do novo set. Mesmo assim, as faixas apresentadas foram entregues com maestria pela banda e pela artista, que arrancou coro da multidão em quase todos os hits. Com Arnaldo no palco, “Alta Noite” foi apresentada pela primeira vez em anos, enquanto “Velha Infância”, parceria de ambos e Carlinhos Brown para o primeiro álbum do Tribalistas.

Em um dia e uma edição no mínimo caótico e problemático, a música foi o ponto alto do festival. As atrações se esforçaram para entregar ótimos shows e honrar a presença do público – mas um festival não deve se resumir a isso. Por mais que se espere um carro-chefe musical de excelência, um festival deve entregar uma estrutura digna de garantir o sucesso e segurança das apresentações e seu público, tornando inadmissível falhas de segurança tão grotesca e outros pormenores que quase mancham de amadorismo um festival já querido pelo público mineiro.

Esperamos que a próxima edição do festival volte os olhos para esses pontos e invista na melhoria de tais situações, para que a música brilhe plenamente e os presentes se sintam acolhidos e livres para se soltar no que mais amam: a arte.

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