É nos festivais de música do nordeste em que surgem as expressões inovadoras da música brasileira. Em Natal, no Rio Grande do Norte, o ano de 2023 foi marcado pelo destaque da cantora, instrumentista e compositora Gracinha, que lança o single “Cuentáme”, produção que abre alas para o seu disco de estreia.
Nascida em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, Isa Graça foi adotada ainda pequena e cresceu em Natal, no Rio Grande do Norte. Única pessoa negra em uma família de pais brancos, encontrou na música uma companhia para a solidão. Aos 13 ganhou o primeiro violão de um de seus tios, colocando o talento em prática na banda espírita do grupo religioso que sua família frequentava. Escreveu então suas primeiras composições, que são reproduzidas até os dias de hoje pelo grupo religioso.
Do sagrado ao profano, em 2017 formou a banda Demonia ao lado de Karla Farias, Karina Moritzen, Nanda Fagundes e Quel Soares, banda de punk rock feminista que a levou ao estúdio Costella para gravar o EP “Achei Que Era Homem Mas É Só o Satanás”, lançado pelo selo paulista Flecha Discos em 2019. Ao mesmo tempo fez parte da ARDU, banda de chillwave tropical baseada em Natal, lançando o álbum “Solto ou Guia da Cidade Invisível”.
Com o objetivo de mostrar a si mesma para o mundo em direção a uma jornada afrodiaspórica, adotou o nome artístico de Gracinha. Sobre o recém-lançado single “Cuentame”, Gracinha comenta: “Nessa música em específico falo sobre uma ausência que paradoxalmente vive na presença, de algo que está ali, mas que se esvai. Um sentimento que eu queria muito que permanecesse, mas que no fundo eu sabia que não poderia ter. É mais uma canção, como todas do álbum, que partem desse lugar de preterimento e da solidão, que é uma vivência que acredito ser tão comum a tantas mulheres negras.”
Com previsão de lançamento em fevereiro de 2024, o álbum de estreia da Gracinha terá produção musical de Ian Medeiros e será lançado pela Incubadora Dosol. Sobre o disco e ainda sobre “Cuentáme”, ela comenta: “A canção, como todas as composições do álbum, partem de um lugar meu como mulher negra e lésbica e minha relação com a solidão e o preterimento. Sinto que a vida toda eu andei de mãos dadas com esses sentimentos, e transformar isso em música foi a forma que encontrei pra me ajudar na cura das dores causadas por esses estados.”
