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A nostalgia atualizada de The Dare

Do indie rock batido dos anos 2000 para o hyperpop habitual, The Dare trilha uma caminhada atualizada dentro da nostalgia

Participante de primeira ordem do Brat Summer, The Dare já trilhava uma (até que) longa jornada musical antes de produzir “Guess”, single da Charli XCX que entrou na versão deluxe do álbum “Brat” da cantora em um feat poderoso com a Billie Eillish. Mas para alçar um lugar ao sol na indústria, The Dare, persona artística de Harrison Patrick Smith, precisou não só de um empurrãozinho das amigas, mas também reinventar sua música, seu guarda-roupas e suas composições. A repaginada veio e parece que dar certo: de um nostálgico e batido show de indie rock anos 2000 foi parar numa after party de hyperpop lotada de celebridades, porém ainda com guitarras e berros.  

Este é o The Dare que vemos e ouvimos em seus videoclipes festivos e no “The Sex EP”, o EP que saiu em maio de 2023 e lançou o artista em sua carreira solo como novo integrante da Republic Records. Já o prometido primeiro álbum completo, “What´s Wrong With New York”, será lançado nesta sexta-feira, 6 de setembro. Mas, quem é, de onde veio e para onde vai The Dare?

A nostalgia atualizada de The Dare

Existe um conceito interessante do crítico cultural britânico Mark Fisher chamado “hauntologia” (hauntology). Em termos práticos, é um fenômeno cultural e filosófico que lida com a presença persistente de ideias, imagens e estilos do passado que continuam a influenciar o presente. Segundo o autor, existe uma nostalgia latente dentro da sociedade que faz as pessoas buscarem, muitas vezes sem criticidade, o passado. E quem entende o funcionamento disso dentro da indústria cultural pode se dar bem. No entanto, compreender quando o ambiente está favorável para determinados resgates é a grande questão.

O conceito do estudioso ajuda a compreender um pouco a trajetória musical do artista que tem sido citado como uma das apostas do momento não só pela crítica musical especializada como também por outros artistas. Tido como o novo nome do indie sleeze, suas músicas permeiam a nostalgia dos anos 2000, resgatando um indie rock empoeirado e doses consideráveis de música eletrônica, pop e fritação. O cara pegou a nostalgia dos órfãos do rock alternativo 30+ e fundiu à euforia eletrônica da Gen Z.

No entanto, referenciar o passado e adicionar elementos da atualidade é uma fórmula já conhecida. O indie rock fez. O grunge também. O trap, nem se fala. Mais recentemente, a disco e a house music também são bons exemplos. O que tudo isso tem em comum é que todos acertaram o timing da coisa.

Quem é The Dare?

Nascido em 1996 no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, The Dare passou boa parte da sua infância e adolescência no subúrbio de Seattle, em Washington. Tocou violão, violino e guitarra quando criança e já despertava algum interesse pelo mundo fashion. Estudou literatura inglesa na Universidade Lewis & Clark, em Portland, e chegou até a lecionar em alguns períodos. 

Foi na época da faculdade, em 2014, que iniciou a Turtlenecked, banda com a qual produziu músicas até 2021, quando Smith já estava morando na tal “Dimes Square”, em Nova York. A região, localizada no Lower East Side de Manhattan, é conhecida por ser um ponto de encontro cultural e social progressista que ganhou destaque principalmente no início dos anos 2020. O nome “Dimes Square” é um trocadilho com a Times Square e se refere a uma pequena praça, que é, na verdade, a interseção das ruas Canal e Orchard, próxima ao restaurante Dimes.

É por meio do contato com outros artistas da região que ele passa a ser um requisitado dj de festas underground e começa a entender como a sua sonoridade funcionaria melhor. 

Carreira musical e virada de chave

Harrison e a sua banda Turtlenecked lançaram quatro álbuns de estúdio: “Pure Plush Bone Cage” (2016), “Vulture” (2017), “High Scores of The Heart” (2018) e “Kapow!” (2020). Todos com uma sonoridade que lembra um pouco bandas indie do início do século como The Strokes, LCD Soundsystem e até com os britânicos da The Subways. Os dois últimos trabalhos, entretanto, já apresentavam mesclas mais evidentes da música eletrônica.

Embora tenha conquistado uma base de fãs com seu indie sleeze, o Turtlenecked havia surgido meio fora de hora. Se a banda tivesse aparecido dez anos antes teria pego o hype do movimento que prometeu salvar o rock. Mas não foi o que aconteceu, o grupo deu às caras quando o indie já estava praticamente sepultado e as grandes bandas já eram totalmente comerciais e viviam de explorar a nostalgia dos grandes hits de outrora.

The Dare para a DORK Magazine

Com o fim do grupo, em 2021, o artista investe em um trabalho que viria a explorar mais seus interesses recentes por estilos como a house e a dance music. Foi o pós-pandemia da COVID-19 que trouxe a ânsia juvenil por clubes e boates de volta à cena, assim como as vertentes eletrônicas. Nesse cenário, Harrison passa de tocar às segundas-feiras em um bar para ocupar as quintas-feiras com a badalada festa “Freakencies”.

O alter ego The Dare surge numa dessas noites, em que aparece para tocar atrasado com o uniforme da loja onde trabalhava, um terninho preto que passou a ser a nova marca do seu visual. As noites de “Freakencies” reuniam o que todo fã de culturas alternativas procura: boa música e entrada grátis. Os sets de The Dare caíram no gosto da galera e já indicavam uma direção sonora para seu novo trabalho. Quem tiver interesse em conferir, na página do artista no spotify tem uma playlist com músicas que ele tocava nessa festa. Vai de Primal Scream a The Chemical Brothers. 

Nesse contexto, sua repaginada vem à galope, ele passa a usar blazer como reforço da identidade e sua voz de vocalista de rock agora é acompanhada não só de guitarras sintetizadas, mas de música de pista e letras menos sérias e mais sobre diversão e noitadas. Como ele mesmo cunhou em uma entrevista ao The New York Times: “o revival do electroclash”. Inclusive, as influências que ele cita para o jornal incluem nomes como The Fall, Daft Punk, Kim Gordon, Richard Hell e até Sabrina Carpenter.

What’s Wrong With New York

Até o lançamento de seu aguardado primeiro álbum de estúdio, “What´s Wrong With New York”, o artista já acumulava mais de 2 milhões de ouvintes mensais no Spotify e boa parte dos shows de sua turnê pela América do Norte já estavam esgotados.

O álbum conta o reaproveitamento de duas faixas já conhecidas do “The Sex EP”, o hit “Girls”, que soma mais de 15 milhões de plays, e o single “Good Time”. O trabalho traz ainda colaborações e produção de nomes como Dylan Brady (100 gecs), Emile Haynie (Lana Del Rey, FKA twigs, Dua Lipa), Romil Hemnani (Brockhampton), Chris Greatti (Yves Tumor, Yeule), Isaac Eiger do Strange Ranger, entre outros. 

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