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Crítica | CHAMELEO, “ALTA TENSÃO”

Elétrico e com altas doses de ansiedade, CHAMELEO retorna com “ALTA TENSÃO”, seu novo disco de estúdio

A ansiedade é uma característica que corre na veia do brasileiro. Não é muito difícil encontrar pessoas que se dizem ser “ligadas no 220V”. Embora o significado se refira à uma característica de quem é muito agitado, a expressão estende-se à diferentes tipos de ansiedades, seja ela externa, aquela que todos veem, sintomaticamente, ou interna, que provoca uma inquietude mesmo que silenciosa. 

Geralmente, é nessas características que as pessoas se enchergam perdidas, sem controle ou com sensação de desespero. Afinal, a ansiedade provoca isso. Mas tem quem consiga aproveitar desse sentimento e transformá-lo em arte. “ALTA TENSÃO”, último álbum de CHAMELEO, lançado em 2023, tem como objetivo fazer isso: trazer para fora essa inquietude 220V que tem dentro do artista. 

Para isso, ele trabalha com sonoridades diferentes daquelas que encontramos no pop brasileiro. Ele brinca com o eletrônico e suas diferentes alturas para elaborar as suas emoções por meio da música, envolvendo a letra e a sua expressividade ao cantar. 

A ansiedade como combustível de ALTA TENSÃO

Utilizar emoções reais como inspiração para a composição de músicas não é novidade no mercado. Porém, o que diferencia CHAMELEO do tradicional é que ele utiliza até a última gota do seu íntimo para compor a letra, produzir o beat e passar para seu público aquilo que ele realmente está sentido. 

Nesse cenário, a ansiedade se fez presente no álbum “ALTA TENSÃO” do início ao fim, seja ela em alta ou em momento mais calma. O álbum é divido em duas fases. Ou melhor, duas voltagens: 220V e 127V. Em cada uma delas, ele explora um lado de si que convive diretamente com um nível de ansiedade que o incomoda — no sentido mais literal da palavra, porém nem sempre de um jeito ruim. 

De acordo com CHAMELEO, as emoções são praticamente vivas dentro dele. “Pra mim, as emoções fluem como correntes elétricas, e eu não sei sentir pouco, eu sinto muito.”, explica na nota de divulgação do álbum. E é exatamente por tratar de lados tão vivos dentro do artista que o álbum precisava de músicas tão expressivas, de modo a mostrar como as “correntes elétricas” agem dentro de CHAMELEO. 

Para o lançamento oficial do álbum, CHAMELEO falou sobre o projeto e em como ele chega em um formato de renovação de quem ele é hoje. “‘ALTA TENSÃO’ é a minha versão mais atualizada, mais próxima de quem eu me tornei e do que eu sou hoje.”, explica. “Esse álbum explora as duas voltagens existentes em mim e a dualidade que é inerente em todo ser humano. É um álbum frito, elétrico que representa um pouco da minha ansiedade, contada de forma descontraída e debochada, sem me levar muito a sério, mas entendendo a importância do assunto”, finalizou CHAMELEO.

ALTA TENSÃO em 220V 

Com letras que abordam o amor, a sexualidade e a sensualidade, CHAMELEO explora o seu íntimo de forma a conquistar o público por meio da identificação. Ele traz sentimentos comuns às pessoas, principalmente da comunidade LGBTIAP+, de forma simples, rasgada, quase nua.

É o caso de músicas como “220v”, “curto-circuito”, “ALTA TENSÃO” e “QUASE”. Algumas delas, inclusive, que misturam o português com outras línguas, como o inglês, espanhol e francês — característica do pop nacional atual. 

ALTA TENSÃO em 127V

Remando a um sentido mais desafiador, o estilo frenético de 220V vai dando lugar a um cenário de ansiedade diferente. Como o próprio já afirmou em algumas entrevistas, a segunda parte do álbum trabalha composições que trazem “um lado 110v, que é o meu futuro, para onde tô caminhando, a serenidade, a vulnerabilidade e a introspecção, que sinto chegar cada vez mais forte em mim agora que estou me aproximando dos 30 anos.”

Nesse sentido, o beat mais rápido sai de cena para que um pop mais lento, porém animado, possa levar esse sentimento ansioso de curiosidade pelo que vem por aí. 

Se tratando de um artista que está conquistando aos poucos o seu lugar no cenário musical, a expectativa em torno do álbum não era tão grande por parte do público se comparado a artistas do mesmo segmento, como Pabllo Vittar. Porém, se não há expectativas para superar, CHAMELEO mostra que tem caminhos luminosos a serem traçados daqui em diante. 

Como um artista independente, que precisa correr no mínimo uma maratona a mais do que os demais, ele entregou um álbum forte, elétrico e completamente coeso do início ao fim. Em se tratando de produção, inclusive, CHAMELEO consegue reafirmar, com certeza, que seus estudos não foram em vão. 

O álbum conta uma história nas letras e na sonoridade. O ritmo eletrônico, trabalhado em diferentes formas, provoca sensações e incômodos importantes para entender o que ele deseja transmitir. Dessa forma, antes de tudo, ele se coloca como humano. Como uma pessoa que vive altos e baixos — assim como suas batidas. E talvez seja esse o maior presente que “ALTA TENSÃO” possa mostrar para o seu público.

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