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KNOTFEST 2024 mostrou força entregando o que o público queria

Edição nacional do festival KNOTFEST determinou um bom balanço entre bandas com um line-up que explorava diversos cantos do rock.

Desde o anúncio até os dias do festival, a apresentação da edição de 2024 do KNOTFEST Brasil vinha deixando seu público bastante ansioso, seja por informações que acabaram chegando um pouco tarde ou pelo suspense para anunciar o tão aguardado line-up. O chamado por alguns de “festival do Slipknot” fez questão de um balanço entre as bandas durante seus dois dias de edição de 2024. Uma das maiores discussões entre as pessoas durante o evento era sobre a decisão do posicionamento dos palcos.

O palco principal, chamado ‘Knotstage’, ficava exatamente ao lado do palco secundário, ‘Maggot Stage’, e este último, localizado à esquerda, acabou dificultando um pouco a visão para o público da cadeira inferior oposta. Mesmo com o tamanho menor e o alinhamento difícil, as bandas que se apresentaram no Maggot Stage logo fizeram questão de provar que palco pequeno não é empecilho para fazer uma apresentação avassaladora.

Todas as bandas utilizaram seu tempo de set da melhor forma possível, e o que para alguns seria um momento de descanso entre as atrações principais acabou se tornando uma experiência tão marcante quanto a das atrações internacionais. No primeiro dia, Project46 e Krisiun surpreenderam quem não era íntimo de sua qualidade sonora, e o fechamento com Ratos de Porão foi um lembrete de que o Brasil tem uma cena punk poderosa há muitos anos. A falta de iluminação durante a apresentação da banda de João Gordo fez o vocalista ironizar a situação, principalmente pelo fato de que, enquanto faltava luz em seu palco, o palco ao lado tinha iluminação de sobra enquanto a equipe montava a apresentação do headliner dos dois dias.

A banda sueca Amon Amarth foi responsável pelos momentos mais inusitados, transformando seu momento em uma celebração da cultura viking que engajava os fãs como se fossem jovens em um show de diva pop. O carisma do vocalista Johan Hegg era cativante, e suas interações com o público geraram gritos por qualquer coisa dita por ele. Outro destaque do dia foi Mudvayne, e a banda estava afiada não só na sonoridade, mas principalmente nos vocais. Com uma performance que fazia pessoas da plateia se perguntarem: ‘como ele aguenta cantar tanto assim?’. A banda deu uma aula de vocais de forma dominadora, sendo apenas um dos vários exemplos no festival de vocalistas que seguram muito no gogó sem demonstrar esforço algum.

A leve chuva do primeiro dia, felizmente, não apareceu no segundo, e a sequência das apresentações surpreendeu por ter sido impecável. O início feminino com The Mönic e Poppy foi a melhor preparação para ambos os palcos, porque, de um lado, havia uma banda nacional que possui um dos discos mais interessantes do rock do ano passado, “Cuidado Você“, e, do outro, uma nova queridinha dos fãs de artistas pop que também gostam de um som pesado. Logo no início do festival, os ‘mosh pits’ chamaram a atenção de quem assistia dos setores de cadeira. Não havia qualquer filtro para que eles acontecessem, e todos os sons serviram de trilha sonora para as rodinhas, que em alguns momentos chegavam a quatro ou cinco espalhadas pela pista.

O domingo também foi o dia de um dos melhores e mais surpreendentes shows do festival: P.O.D.. Não houve qualquer artista tão determinado a deixar uma boa impressão quanto o quarteto californiano. A interação com o público, os vocais, o som pesado, os efeitos no palco… tudo o que a banda trouxe para sua apresentação no festival foi o suficiente para deixar alguns de queixo caído, especialmente as várias mãos que se levantaram quando o guitarrista Marcos Curiel perguntou ao público quem estava vendo o primeiro show da banda na vida. Os hits ‘Youth of The Nation’ e ‘Alive’ relembraram as pessoas de quem estava no palco, mas todo o setlist foi tocado com a mesma intensidade, marcando tanto quanto os sucessos.

A banda nacional Papangu mostrou a diversidade de sua música com as combinações de sons regionais e rock, o que, no pensamento de alguns, poderia ser algo que não se conecta, mas foi um argumento logo derrubado diante da aula de criatividade que a banda deu ao misturar, ao vivo, os sons que definem sua personalidade. Sua presença no KNOTFEST foi uma prova que os artistas nacionais devem ser referência em versatilidade, tanto no estúdio quanto nos palcos.

Era impossível não notar os diversos fãs de Babymetal usando camisetas do trio japonês, e, durante a apresentação delas no palco, os picos de animação se superavam a cada música. O momento da noite foi definitivamente a apresentação da clássica ‘Gimme Chocolate!!’ e a fusão com o eletrônico que acontece em ‘RATATATA’. Vale lembrar da ótima participação de Seven Hours After Violet, que fez bonito e usou o momento como uma introdução para quem ainda não os conhecia. Além disso, o inesperado cover de ‘Prison Song’, música do System of a Down (banda da qual o guitarrista do Seven Hours After Violet também faz parte), com a presença do baterista do SOAD, John Dolmayan, foi marcante tanto para quem assistia quanto para quem fez parte disso.

As últimas horas do palco Maggot Stage foram reservadas para duas queridinhas da cena nacional. A Ego Kill Talent, que, de uns tempos para cá, tem apresentado evoluções que cravam cada vez mais o espaço da banda no rock, e a Black Pantera, que fez um show mostrando que a organização ainda teve alguns problemas com a iluminação do palco secundário, mas não se deixou abalar por isso e calou qualquer dúvida que alguém poderia ter sobre sua escolha para fechar a noite naquele lado. Além do nível elevado do trabalho (com destaque especial para a bateria frenética de Rodrigo Pancho), o lado político da banda se fez presente, e os membros deixaram claro o quanto a importância de sua existência no rock deve ser sempre exaltada.

O show mais peculiar do festival ficou a cargo de Till Lindemann, peculiar para aqueles que não têm noção do quão teatral suas apresentações podem ser. Com figurinos combinando e foco no vermelho, o vocalista do Rammstein, em turnê solo, capricha na estética de uma forma que remete a turnês de cantoras pop, mas os fãs de sua banda original sabem o quanto Till usa o palco como uma extensão de sua persona artística como ninguém.

A primeira apresentação de Bad Omens no Brasil fez o público sentir que valeu a pena esperar tantos anos pela presença deles aqui. A banda pode ser discreta em suas interações com o público nas redes sociais, mas, no palco, o vocalista Noah Sebastian fez questão de dizer várias vezes o quanto estar ali era um grande momento para eles. O show de luzes diferenciado no palco aumentou o desejo por uma futura apresentação solo, mas, durante o set, eles souberam adaptar e aproveitar bem a sonoridade das músicas. Entre algumas canções, o telão exibia inserções com monólogos para que o público sentisse a experiência.

A fusão entre rock pesado e, em outros momentos, bases com toques eletrônicos criou uma atmosfera contagiante, com um show à parte de lanternas de celulares em “Just Pretend” e o coro em “Glass Houses” sendo dois picos de energia. Bad Omens ainda chamou Poppy ao palco para cantar a colaboração entre eles, “V.A.N.“, dando um gostinho para aqueles que não conseguiram chegar a tempo de ver a cantora naquele dia.

Não é errado dizer que um dos momentos mais esperados do KNOTFEST em 2024 ia além da presença do Slipknot. O baterista brasileiro Eloy Casagrande era a pessoa mais aguardada entre todos os artistas do festival. Fazendo dois shows diferentes, o noneto focou em um setlist com hits no primeiro dia, “Before I Forget”, “Psychosocial” e “Duality” fizeram o Allianz Parque tremer, mas quem estava presente no domingo ganhou o melhor show da banda. A nostalgia em uma apresentação focada nos vinte e cinco anos do primeiro disco foi algo muito especial.

Corey Taylor fazia questão de dizer que aquele show era algo para o Brasil, e, dada a conexão do país com o membro mais recente da banda, é impossível não sentir o quanto todos viviam um momento marcante. A agressividade da música do Slipknot é completamente diferente da personalidade dos integrantes, que têm um carisma encantador até para o roqueiro mais bruto. Em vários momentos, Eloy era exaltado pelo público, e durante o solo em “Only One” ficou claro que no palco estava um dos maiores bateristas dos últimos anos.

Com algumas decisões estranhas sobre o lugar onde ficava o Maggot Stage e o setor VIP (que deixava um buraco vazio muito grande para o artista que via do palco) e falhas na iluminação, o saldo da edição de 2024 do KNOTFEST Brasil não é perfeito. Mas, apesar disso, o festival entregou ao seu público exatamente o que ele queria e merecia quando pensamos em escolhas de artistas, horários de shows e a vontade que as bandas tinham em fazer das apresentações algo que ficasse na história do evento.

Os fãs do Slipknot tiveram duas ótimas noites e, de presente, ainda levaram várias outras bandas na memória, pois vários cantos do rock foram explorados durante esse fim de semana. A força dos festivais no Brasil ainda é grande, principalmente aqueles focados em um público determinado a reviver ou viver experiências pela primeira vez. Sabendo disso, o KNOTFEST possui uma direção clara sobre o que funciona, tendo apenas que seguir a receita do que já deu certo em suas próximas edições.

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