Crítica | Fontaines DC, “Romance”

Disco novo da banda irlandesa trilha caminhos inéditos, mas ainda carrega o melhor que eles sabem oferecer

Os primeiros álbuns do Fontaines DC formam uma gostosa sequência de acertos: partindo do obscuro disco de estreia em 2019,Dogrel, até o místico, folclórico e bem-arquitetado Skinty Fia, de 2023, a banda de post-punk irlandesa conseguiu ir muito além desse gênero e suas argumentações mais óbvias. Na verdade, esse é um dos destaques que, merecidamente, coloca-os como um dos nomes interessantes para se acompanhar do rock hoje em dia.

A relação dos integrantes com a Irlanda, onde a banda foi formada, sempre rendeu letras que são influenciadas e passam pelos conflitos do país a aspectos de cultura e linguagem, e a sensação de estar longe de “casa”. Esses temas, além de recorrentes, costumam ser explorados com jogos de palavras e construções poéticas sensíveis na caneta do quinteto, que costuma revezar na autoria e na predominância de influência em diferentes faixas, o que permite sentirmos um gostinho “a mais” dos traços de personalidade que constroem um coletivo.

Fontaines DC (reprodução)

É nessa mescla temática que situações rotineiras e sentimentos universais ganham novas camadas e formas de serem contadas ao mundo. Isso sem contar o empenho da banda em criar atmosferas sonoras que, assim como suas composições, transitam entre o sujo e o pesado, entre o delicado e o leve. Sem nostalgias à parte, mas algo que o The Cure, por exemplo, sempre conseguiu fazer muito bem. Mas fãs desde o Pixies a Lana del Rey também podem encontrar no trabalho do Fontaines um quê de novidade.

Em Romance, disco lançado em agosto deste ano, essa roupagem do grupo encontra novos ares. Um som mais puxado para o pop e temas que vagueiam por experiências em  relacionamentos românticos e amizades, e percepções autocentradas são alguns dos aspectos que norteiam a obra, acompanhada de clipes surrealistas e escolhas estéticas que são o toque final para trazer coesão a conceitos abstratos.

Alías, pop, aqui (e, convenhamos, em muitas das situações na qual o termo é usado para falar de uma sonoridade que parece mais “comercial”), não deixa de lado o que já é característico na banda: canções ótimas como o single Starbuster, Bug e Horseness is the Whatness carregam consigo a inventividade lírica de sempre. 

 A própria faixa de abertura reposiciona o tema tão recorrente do pertencimento proposto pela banda sob uma nova perspectiva, e a abertura, que leva o mesmo título do álbum, consegue criar uma atmosfera que parece estranhamente acolhedora, tenebrosamente colorida, que acompanha não apenas a sonoridade, mas também as artes das capas dos singles e do disco, o styling dos integrantes, e por aí vai. É como se passear numa gruta escura fosse uma experiência animadora e reconfortante. 

Fontaines DC (reprodução)

Em faixas como Here’s The Thing e In The Modern World, por exemplo, essa estranheza audiovisual, já marca registrada de outros trabalhos, é um grande complemento para as letras. Ambos os clipes contam com personagens esquisitos, “outsiders’, que se deparam com o sobrenatural em situações boas e ruins do cotidiano.

No fim das contas, essa virada de estilo também permite a visualização do interesse do grupo de experimentar novas formas de criar e novas formas de se explorar temas que, não raro, esbarram na vulnerabilidade humana. Porém, essa nova experimentação de possibilidades que torna o trabalho mais recente do Fontaines uma unidade menos impactante do que era possível ouvir em Skinty Fia.

Romance, mesmo sendo até mais curto em duração, desacelera talvez demais em certos momentos, com uma ou duas canções que soam um pouco inacabadas e passam despercebidas às primeiras audições. Bem, isto não chega a ser um demérito — ao se arriscar em testar novas caras, a banda também se propõe a errar, e isso não atrapalha o projeto todo. É crescer e mostrar que o grupo ainda tem muito a dizer e, tomara, a produzir.

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Fontaines DC se apresenta no Lollapalooza Brasil 2025 na sexta-feira (28), mesmo dia dos headlinrs Olivia Rodrigo e Rüfüs du Sol.

88/100

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