Literalmente do nada, num ótimo primeiro momento para ver como o ano pode ser para a música, Rose Gray foi avistada. Logo na terceira semana de janeiro, a artista colocou no mundo Louder, Please, seu registro de estúdio de estreia que encanta desde já pela energia solar e pela confissão em voz alta do amor que ela tem pela música.
Gray explana pelo desejo em sentir a música ao seu redor uma equação de como a vida pode ser leve e instantaneamente eufórica, sem desperdiçar o apreço pelas coisas “mundanas” que estão ao nosso redor — o subir da lua que nos faz refletir sobre o cair do sol, amigos, uma praia, uma viagem, beber ou apenas o ato de curtir uma boa música que dita a sensação de todo um momento.
As músicas do álbum de estreia da britânica parecem ser as peças que ela gostaria de escutar. Isso, aliado a estética do projeto, principalmente a visual (que parece ter a função de gerar calor e proximidade), e a ode nostálgica clubber cheia de um frescor contemporâneo, dão vida a uma totalidade terna e coesa vista. “Free“, a número dois na tracklist, é lindamente repleta de sintetizadores puros que indiciam o ouvinte a gritar o refrão com clamor. A construção de ritmo é animadora. “Switch” se embebeda dessa mesma construção por meio de um lirismo ágil e puxante.
A conjuntura do conceito do disco quando ampliada e mixada com as produções não é totalmente inovadora e fora de um tipo de esfera que já não tenhamos visto, mas no entorno do que torna o Louder, Please real, o mérito maior é termos peças extremamente divertidas e ternas; como se o calor mais o momento quase etéreo da capa invadisse todo o espaço.
“Just Two” aplica muito do que uma música de discoteca precisa ter em seu cerne; as batidas que esperam o corpo se acostumar com o ambiente e a leve explosão que combina tudo. Enquanto isso, “Wet & Wild” combina toda essa bagunça em uma linguagem intensa de uma ótima música pop.
Esse ato de entrelaçar montes grudentos que vão e vem e no fim agarram o ouvinte, explica para o mundo uma artista concentrada em desenhar um ótimo europop que decide estourar pela efervescência do colapso do calor ou apenas a vontade de pedir para aumentar a música. Quando ela decide ir para um cenário que se afasta (o suficiente para vermos as possibilidades) da discoteca pop e caminhar para uma elegante bolha experimental e eletrônica, a história se deságua em vertentes mais atmosféricas e muito bem-vindas; Louder, Please, faixa que encerra o álbum, demonstra isso e cria, no último segundo, um espaço novo e super fino.
Além de ser fresh o suficiente para embalar algumas pistas de dança e ir de encontro a um tipo de som que vem ganhando uma cena muito maior, é notável ver o quanto o disco tem suma importância para sua criadora. É possível ouvir os respiros criativos que tornam o projeto o que ele é: divertido e para festejar o que se é ou foi, não o que virá, só o agora importa, e ele pode ser tocado apenas no volume ideal.
Em várias as tentativas, o Louder, Please é sem dúvidas, um esforço pop delicioso. Ainda que algumas vezes ele cante em tons repetíveis e não somáveis, é impossível não sintonizar o disco, desculpe o trocadilho, num volume mais alto.