“Nenhuma Estrela” reafirma o protagonismo de Terno Rei no indie brasileiro

O quinto álbum de estúdio do Terno Rei se destaca pela maturidade sonora

Terno Rei, banda paulistana formada por Ale Sater (voz e baixo), Bruno Paschoal (guitarra), Greg Maya (guitarra) e Luis Cardoso (bateria), já é um dos principais nomes da cena musical de bandas brasileiras surgidas na última década. Em atividade desde 2010, fizeram a sua estreia com o disco Vigília (2014) em um som mais experimental e cru. Essa Noite Bateu Com Um Sonho (2016) já indicava o potencial da banda. Violeta, de 2019 — considerada por muitos a obra-prima da carreira do Terno Rei —, elevou o grupo a um outro patamar e provou que eles eram acima da média. Gêmeos, de 2022, não sofreu com a pressão de ser o sucessor do registro de maior sucesso da discografia até então e acrescentou novas camadas às produções feitas pelo quarteto.

Nenhuma Estrela, o quinto e mais recente trabalho do grupo, é uma demonstração da evolução sonora da banda ao longo dos últimos 15 anos e mostra o porquê merecem estar na posição de destaque que ocupam. Com 13 faixas, o disco traz arranjos sofisticados e dá continuidade a uma sequência do direcionamento estético que a banda tem feito nas últimas produções, mas criando uma identidade própria para o novo registro. Seguindo a tendência do álbum anterior, o violão é um dos elementos centrais da construção sonora. Aqui, ele não só está presente como tem destaque em 10 das 13 músicas existentes — o maior número em comparação com as produções anteriores.

“Nada Igual” é um ótimo single principal. Com uma pegada mais roqueira e animada, embala os ouvintes com um refrão agradável e fácil de se pegar cantando ao longo do dia. Em “Relógio”, o destaque fica para a primeira participação especial em um álbum do Terno Rei – e ela não poderia ser mais simbólica: Lô Borges, cantor e compositor mineiro que, ao lado de Milton Nascimento, assinou o clássico Clube da Esquina (1972), frequentemente citado como o melhor disco da música brasileira.

Embora as faixas iniciais sejam competentes e mantenham a qualidade já esperada do quarteto, é na segunda metade que o projeto realmente cresce. Mesmo com a maioria dos singles concentrados até a faixa seis da tracklist, são os momentos posteriores que revelam maior inventividade e ajudam a definir a identidade de Nenhuma Estrela. A bateria de Luís Cardoso — também conhecido como Loobas — ganha muita força e se sobressai pelo groove sofisticado, preciso, marcante e cheio de personalidade, especialmente em “Pega” e “Coração Partido”.

Aqui, os sintetizadores oitentistas — muito presentes na sonoridade do grupo e protagonistas em Violeta (2019) — também aparecem, mas de forma mais pontual, como em “Peito” e “Tempo”. A última, por sinal, traz um som mais eletrônico inédito na discografia da banda, com uma bateria de pad e um baixo sintetizado. Nela, entra também a segunda e última participação especial do álbum: o duo mineiro Paira, formado por André Pádua e Clara Borges. A escolha por esse estilo pode causar estranheza à primeira escuta, mas se torna coerente ao conhecer o único EP da dupla, EP01. A faixa colaborativa expande o território musical do Terno Rei sem perder a identidade construída ao longo dos anos.

No quinto capítulo de sua jornada, Terno Rei fundamenta o status que tem ganhado, lapidando um som que é cada vez mais seu — ao mesmo tempo em que se permite experimentar e abrir novos caminhos. A banda usa, sim, da sua zona de conforto construída e conquistada com os discos anteriores para agradar aos fãs “jogando em casa” em certos momentos, especialmente na primeira metade — e não há nada de errado nisso. Mas eles não se restringem a apenas isso: preferem seguir em movimento, ajustando o foco sem perder de vista o horizonte sonoro que construíram até aqui.

80/100

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