Dani Cruz sempre cantou com o corpo inteiro. Quem já a viu no palco sabe: sua música é feita de balanço, entrega e presença. Agora, com Canto de Sol, seu primeiro álbum autoral — lançado nesta terça-feira, 29 de abril —, a artista potiguar dá um passo definitivo na direção do que ela chama de “bem viver cantado”.
Depois de anos se dividindo entre o samba e a cena alternativa de Natal (RN), Dani entrega um disco que traduz o que ela é hoje: plural, intuitiva, política e sensível. As referências se cruzam — há semba, ijexá, samba-funk, forró, salsa e guitarras baianas —, mas o resultado tem uma assinatura só dela. “Eu canto o que eu quero viver. Cada música desse álbum é um desejo que eu lanço ao mundo. É como se cantar fosse um jeito de profetizar o bem.”
O disco nasce da parceria com o produtor musical Jubileu Filho e traz colaborações com as artistas Khrystal, Juliana Linhares, Gracinha e Daniela Fernandes. Com arranjos ricos e letras que transitam entre o cotidiano e o ancestral, a obra convida o ouvinte a entrar num espaço onde a maresia encontra a poesia, e onde a leveza é um gesto de resistência.
Romanceira de agora
A canção Romanceira-Facão, um dos singles lançados para esse trabalho, reverência Dona Militana, a maior romanceira do Brasil, nascida em São Gonçalo do Amarante/RN. A faixa não é apenas uma homenagem: é uma afirmação de continuidade, uma forma de atualizar a figura da mulher que canta histórias para manter viva a memória de um povo. “Romanceira, hoje, é quem segura a palavra. É quem segue cantando quando tudo pede silêncio. É quem transforma dor em beleza, sem abrir mão da força.” Essa relação com o legado oral, com o corpo que conta e canta, atravessa todo o álbum. E talvez por isso ele soe tão urgente — porque é, ao mesmo tempo, novo e ancestral.
Um disco que dança e pensa
Canto de Sol é dançante, mas não no sentido óbvio. Ele faz o corpo balançar, mas também para e respira. As letras falam de desejos simples: tomar um banho de mar, viver um amor calmo, dançar na rua, sentir o cheiro da comida, o som do tambor. “É um disco feito pra curtir a cidade, pra andar no vento. Ele tem a cara de um sábado bonito.”
Essa combinação de doçura, identidade e presença faz do trabalho de Dani Cruz uma das estreias mais bonitas da nova geração da música potiguar — e um convite a conhecer uma artista que não cabe em rótulos, mas transborda em verdade.