Catto explora melancolia em “CAMINHOS SELVAGENS”

Primeiro disco de inéditas desde o projeto “Belezas” traz introspecção e poesia para o plano central.


“Depois de cinco anos cantando o repertório de Gal, vir com um trabalho próprio é necessário.” Foi com essa definição que Catto nos anunciou, em seu camarim na véspera de um dos últimos shows do projeto Belezas São Coisas Acesas por Dentro (2023), que o novo disco estava à espreita.

Agora, CAMINHOS SELVAGENS vem para os trilhos da vida da artista como o principal plano de um trabalho original e intenso, visceral, dramático e competente. Em oito faixas, Catto canta sobre solidão, perdão e amor com um tom atmosférico e maduro que há muito não se via na música nacional.

Se em pontos altos do disco como a faixa que leva o nome do projeto, “CAMINHOS SELVAGENS”, trazem uma orquestra poderosa e impactante, “MADRIGAL” deixa claro o que Catto pretende com esse disco: “Eu quero que você me adore”. E se para ser adorada é preciso ser vista, é em canções como “EU TE AMO” e “LEITE DERRAMADO” que a artista se rasga com letras vulneráveis e melodias afiadas. O fim da última canção é uma explosão soft rock contida, mas que entrega a mensagem: “o fim desse mundo era eu e você”, enquanto o arranjo se estende quase desajeitado até um fim abrupto.

Com referências cinemáticas e arranjos oníricos que abrem o disco e remontam à clássicos de Lana Del Rey (na faixa “EU NÃO APRENDI A PERDOAR”), guitarras bem marcadas e baterias cruas que nos lembram Rita Lee (como na incandescente “1001 NOITES IS OVER”) e uma mistura de outros artistas que flertam com um som western, rock e intimista, a voz hipnotizante de Catto amarra tudo com a proeza de quem está no domínio de seu discurso, sua arte e sua vida.

CAMINHOS SELVAGENS é uma espécie de disco-renascimento, essencial não apenas para a discografia da artista, mas para entender e se fisgar ainda mais por uma das figuras mais inebriantes da música brasileira. A melancolia de Catto é trabalhada com maestria, não se limitando a uma tristeza branda e clichê, mas ricocheteando com a intensidade de quem conhece a fúria e a beleza de uma vida vivida intensamente: com a poesia, a sensibilidade e algumas tragédias.

88/100

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