Wicked: For Good chega aos cinemas no último dia 20 retomando — e expandindo — a história iniciada em 2024. Cynthia Erivo (Elphaba) e Ariana Grande (Glinda) reassumem seus papéis com a mesma precisão emocional da primeira parte, algo notável considerando que ambos os filmes foram rodados simultaneamente. Desde já, afirmo: cada minuto das quase duas horas e meia é plenamente justificado.
Logo no início, o Mágico de Oz (interpretado por Jeff Goldblum) dispara uma reflexão que ecoa por toda a narrativa: “a verdade não são os fatos, mas aquilo que as pessoas concordam que os fatos são”. E é sob essa lógica que For Good opera — um filme que, mesmo deixando lacunas, entrega uma evolução narrativa admirável. Aqui, o universo de Wicked se adensa: personagens que antes orbitavam à margem finalmente ganham corpo, como o Espantalho (Jonathan Bailey), o Homem de Lata (Ethan Slater) e o Leão Amedrontado (narrado por Colman Domingo).

Ainda assim, a obra tropeça levemente no início. O longa abre com uma pressa quase ansiosa em revisitar momentos do capítulo anterior, como um recap disfarçado de narrativa — funcional, mas desnecessário. Passado esse solavanco, For Good regula o ritmo e encontra sua cadência: apresenta novos fatos, estende camadas e equilibra humor e melancolia em momentos como No Good Deed e The Girl in the Bubble. Wicked é direto de compreender não por ser simples, mas pela forma elegante e clara com que se articula. Quanto mais se pensa nele, mais densidade aparece — dilemas morais, contradições humanas e escolhas difíceis que revelam um mundo onde ninguém é apenas aquilo que parece. Algumas perguntas, porém, permanecem no ar — não por profundidade, mas por falta de resolução. Cabe ao espectador preenchê-las ou aceitá-las como lacunas.
O relacionamento entre Elphaba e Glinda, por sua vez, ganha robustez e encerra-se com a força emocional que o público espera. O mesmo não se pode dizer de alguns personagens secundários. Madame Morrible, por exemplo, e sua conexão com o Mágico, permanecem pouco exploradas, quase reduzidas a um impulso raso de poder — um espaço narrativo que merecia mais substância.
A decisão de Jon M. Chu de não revelar quem interpreta Dorothy é outro acerto. Ao preservar a protagonista clássica de O Mágico de Oz, ele reconhece que certas narrativas não precisam ser reescritas. A Dorothy de Judy Garland permanece intocável em seu tempo e lugar, e as breves aparições da personagem aqui servem apenas como pontos sutis de composição — o suficiente, nada além.

Mesmo com suas lacunas, o que For Good esclarece é potente: emociona, provoca e convida à identificação. Na sessão de pré-estreia — da qual o escutai esteve presente — houve lágrimas, gargalhadas e suspiros (muitos) nas cenas românticas entre Elphaba e Fiyero, que reacendem um calor quase inesperado dentro da trama.
No fim, Wicked: For Good rejeita reducionismos: não existe a heroína imaculada nem o vilão irremediável. O filme dialoga diretamente com nosso tempo — política, fé, manipulação e o risco de uma causa se sobrepor à verdade. Wicked funciona como uma metáfora precisa do mundo contemporâneo, em que, vez ou outra, somos mais Glinda do que Elphaba — ainda que a gente relute em admitir.
E é justamente por isso que Wicked: For Good merece ser revisto. Há sempre algo ali para repensar, rir e, inevitavelmente, sentir.