Senta que lá vem papo bom com The Raulis
Então que um dia estávamos nos preparativos pra ir numa baladinha, eu e Vitória resolvemos colocar uma música pra animar nosso momento. A Vi escolheu colocar a SurfCumbia do The Raulis! E eu nunca tinha ouvido falar nisso! Fiquei intrigado e decidi ouvir enquanto escolhia o look e botava uma make na cara. Mentira, nós não usamos maquiagem.
Eu diria que é uma ode a Alicia Keys. Que mulher, não? Uma vez ela saiu da academia, sem maquiagem, de boné e turbante, pra ser fotografada pro álbum dela, o “Here”. A fotógrafa, Paola Kudacki, disse que era isso, que a música era raw (crua, limpa) e que a imagem deveria ser também! Portanto, a Alicia fez as fotos sem make mesmo, e disse que nunca se sentiu tão forte, empoderada, livre e honestamente bonita! Leia mais aqui.
A Vitória lembrou de um dia que ela estava passeando na Av. Paulista num domingo – vulgo melhor passeio de São Paulo – e ouviu uma banda chamada The Raulis tocando. Eles tinham um ritmo diferente, uns looks autênticos e do nada um cara botava uma máscara de pomba na cabeça e ficava dançando de uma forma fofa e esquisita.
Colocamos “Sem Querer Sonhar” pra tocar na nossa TV que está com os auto-falantes estourados e nos surpreendemos com o dito “SurfCumbia” que a banda nos presenteou! Perdemos (ou ganhamos) 4 minutos dançando na sala e ficamos com o refrão colados no cérebro por alguns dias!
Num outro dia, meu amigo Isma estava aqui em SP e queria fazer alguma coisa na noite paulistana. Levei ele pra ver o bloco do Fuá no Al Janiah, um bloco tradicional aqui de SP que toca no Bixiga.
O Al Janiah é um, de acordo com o site deles, “espaço político e cultural, com um bar e restaurante de culinária árabe no bairro do Bixiga onde política, arte, cultura, música e cinema se expressam criticamente por meio de eventos, cursos, teatro, lançamentos de livros, exibições de filmes e exibições fotográficas. Tudo isso envolto pelos deliciosos sabores e aromas das bebidas e comidas da casa”.
O Fuá tem um moto político bem forte e de acordo com o instagram deles, o bloco é um “Bloco carnavalesco e democrático, onde as minorias são a maioria.”.
Chamei a Vitória pra ir com a gente e ela topou! Eu, ela e o Isma dançamos muito e conversamos muito também. Certa feita que em algum momento mencionamos a banda The Raulis, e não é que o Isma conhecia eles também? Fiquei de cara, por que a banda não é tão popular assim! Ao sabermos disso, Vitória e Isma trocaram figurinhas e decidimos procurar saber se iria ter algum show deles por aqui. E ia!
Semana passada, dia 29/10, eles fizeram um show no Estúdio Bixiga, um espaço secundário da famosa balada Mundo Pensante (meu lugar preferido aqui em SP, sempre tem a melhor música e o melhor público, cheio de gente bonita e do bem, eu acho) e eu, a Vi e o Mateus fomos assisti-los! (o Isma não tava mais aqui, uma pena, teria adorado a companhia dele conosco).
Era um show pequeno, pra algumas pessoas e quando chegamos os integrantes da banda estavam pela balada, dançando com a galera, tomando uma cervejinha ou conversando com o DJ que animava a galerinha até que eles subissem no palco.
Eis que uma luz negra se acende, e dá brilho pra toda a parafernalha colorida que tava no palco. Chega um cara com uma guitarra, um carinha num synth (eu acho) e o outro nos teclados e a festa começa! São eles o Arthur, o Gabriel e o Rafael! Duas dançarinas vestindo roupas neon e máscaras de vaca animam o rolê todo!
Achei muito fofo que elas desceram do palco e dançaram com a galera, fizeram rodinhas e pintaram o povo com tintas que brilham na luz negra. Esse tal de SurfCumbia é uma praga! Não tem como ficar parado, juro pela deusa. Tentei resistir (mentira, nem tentei) mas não consegui, dancei a noite toda! A banda é quase 100% instrumental, tirando a collab que fizeram com o Samuel Samuca em “Sem Querer Sonhar” onde eles acrescentam o vocal na faixa “El Rato Con Asas” (daí a piada com o pombo).
Então é uma daquelas noites quentes, típicas da América Latina, onde a galera dança a noite toda com uma blusa de alcinha e uma cerveja gelada na mão, sabe? Só no ritmo da banda…
Entrevista com The Raulis
No final do show, eu criei coragem (virei a cerveja que estava na minha mão…desculpa galera, sei que não é nada profissional, mas eu precisava vencer a timidez), peguei o gravador de som do meu celularzinho e entrevistei o Arthur, o guitarrista e porta voz da banda.
Eduardo [escutai]: Eu tenho ouvido o som de vocês no spotify e visto essa definição que vocês dão pra banda, de SurfCumbia, de onde saiu isso?
Arthur: Cara, saiu de muito som que a gente tirou junto e foi desenvolvendo. A gente começou com uma banda de Surf Music e aí a gente foi começando a pesquisar “guitarrada”*, depois ritmos latinos, especialmente do peru que a gente gosta muito. Conhecemos várias bandas que a gente se identificou bastante. Aí a gente foi misturando: já era surf music, aí depois foi colocando essa Cumbia, essa malemolência e aí pronto.
Eduardo [escutai]: E a estética que vocês trazem pro palco? As cores, as luzes, o neon, o figurino. Tem alguma direção de arte, algum conceito por trás disso ou é só a pura expressão de vocês?
Arthur: A gente gosta muito da estética tropical, do colorido, do impacto que uma luz pode trazer para um espetáculo. A gente tem experimentado essa coisa da galera dançando, interagindo, foi a primeira vez que a gente fez isso hoje, a gente tem testado várias coisas! Mas sempre nessa pegada pra frente, colorida e LSD total (risos).
O jornal Diário de Pernambuco usou a seguinte frase pra definir a vibe da banda “O resultado é uma sutil atmosfera convidativa à dança” e eu não posso deixar de concordar! Botar The Raulis pra tocar, é certeza de dar uma dançadinha ao menos. Recomendo ouvir lavando a louça, é ótima pra fazer uns passinhos enquanto enxágua um prato. Ou então, coloca pra tocar enquanto você se arruma pra ir pra uma festa, garanto que você já vai chegar com a cintura molinha.
O que é guitarrada?
* Guitarrada é um gênero musical instrumental brasileiro surgido no estado do Pará, oriundo da fusão do choro com o carimbó, cumbia, merengue, mambo, bolero o movimento iê-iê-iê. (fonte, wikipedia).