Exatos três anos atrás, Lorde se consagrava com o “Melodrama” como um dos melhores discos do ano, talvez da geração. O segundo trabalho de estúdio da neozelandesa foi lançado no dia 16 de junho de 2017 e pode ser descrito com a mais pura euforia íntima que vai ecoar em nossos corações por anos.
Depois de um tempo, o registro continua sendo memorável, por justa causa. Vamos falar sobre a gigante exposição de sentimentos que o disco traz em meio a uma narrativa envolvendo uma festa. São 4 tópicos diferentes que servem para separar o que o disco traz de melhor: um turbilhão de emoções pessoais, mas produzido para ser universal. Afinal, todos nós possuímos nossas próprias barreiras e evoluções.
A entrada
Sentimentos eufóricos e potentes são apenas algumas coisas que sentimos ao nos adentrar em algo novo, e “Green Light” descreve muito bem essa amplitude de emoções ao se mixar com diferentes nuances a ideias de se deixar ir, e mais a frente, tentar buscar pela famigerada luz verde. Achar então essa aprovação é refletido com uma intensidade e humanização enorme na canção, já que querer partir pra outra é muitas vezes duro, mas necessário. É muito pra digerir, mas é uma baita transformação.
A bebida (“Sober”), a ideia de simplesmente tentar não ligar (“Homemade Dynamite”) e se machucar com isso (mesmo estando ciente), são apenas algumas das explorações dinâmicas que as faixas contam com seus versos, batidas e conjuntos de diversos ricos discursos que somam em emoções individuais, mas que fazem sentido como se fossem uma coisa só. Levando então, para a compreensão de todos os sentimentos, mas de tal maneira para mim, e de tal maneira para você.
A pista de dança
Embarcar em uma nova história com bagagens de momentos anteriores é complicado, ainda mais quando não se equilibra o que deve ser equilibrado (e até excluído). É por isso que entrar na pista de dança novamente pode ser algo excitante, a tal ponto que as batidas do seu coração possam lhe guiar (“The Louvre”). Escolhida por muitos como a melhor do disco, quiçá da carreira, a faixa é a mais envolvente, ainda mais quando se entende o seu interior, que esboça com nitidez e simplicidade a tentativa de se festejar de novo. Tentativas ocasionam em erros. Erros ocasionam escolhas que muitas vezes podem dar errado. E tá tudo bem não dar certo, e ali você ter medo em tentar mais uma vez ou deixar de lado. Até que um dia seja necessário fazer isso novamente em meio aos traumas que você tenha passado. Mas se achar é uma conquista onde é possível dançar até a noite cair (“Liability”).
A festa tá acabando e está chegando a hora de cair pela primeira vez na realidade que aguarda lá fora. Isso vai ser desapontante, pois vai nos fazer enxergar as verdadeiras imagens de tudo, e que aquele casal que fazia as batidas do coração da menina Lorde serem transmitidos fazendo todos dançarem, agora é apenas a união de dois corpos jovens e tristes (“Hard Feellings”). A adrenalina e a dúvida entre ir ou ficar, se foram. Agora é a hora de se estabelecer deixando as febres do término de lado e ir para longe. “Te amei todos os dias por três anos”, mas basta, e então, ela aceita e nota que dias melhores a esperam em meio a uma geração que não ama (“Loveless”).
O caos
O fim de noite chegou, foi rápido. É óbvio que o melodrama vai novamente tomar conta do nosso corpo (“Sober II (Melodrama)”). Com esse final repentino, vem o medo de ter que encarar as coisas que tememos. A entonação que a canção molda em seus quase 3 minutos de duração mostra um fim de festa em que o alívio do Melodrama aconteceu por horas, ou até dias. E quase como se ao fechar os olhos, fosse possível sentir tudo que se passou. Pode não parecer, mas é uma das faixas mais poderosas do trabalho.
A jornada de cura segue e as vezes se dar conta do que lhe faz falta é preciso para se entender o que está se passando consigo mesmo. Não que sentir falta seja algo bom, não é, mas notar que certos planos do passado não deram certo é a melhor forma de desintoxicar, e falando em alto e claro som é ainda mais eficaz (“Writer In The Dark”).
De tudo que aconteceu no relacionamento exposto na obra, não dá pra negar que houveram bons momentos. Relembrar os laços que foram criados e que são gostosos é positivo em seu melhor aspecto. A nostalgia é um sentimento puro, saudosista, te traz felicidade. Logo, relembrar cenas e visões seja (talvez) o suficiente pra tentar tirar o gosto amargo da boca (“Supercut”).
As memórias ungidas aos novos começos
Relembrar é viver, então tentar ligar os fatos que não deram certo é uma forma de poder deixar de lado aquilo que não se deve continuar a nutrir (“Liability (Reprise)”). Aqui , Lorde recita a letra da canção como para si mesma, em mais uma tentativa de entender por tudo que passou até agora. Uma poética maneira de celebrar novos começos.
Se nos encontramos nessa jornada inteira através daquela luz verde, por que não ir em busca do tal lugar perfeito que nos fará sentir em paz? A canção que encerra o disco pode servir como a maneira de achar os tais lugares perfeitos. Ou simplesmente cair novamente em uma festa, e então dançar e se sentir bem com isso, mesmo que a noite esteja sem graça (“Perfect Places”). O importante no fim é você se dar conta de qual é o lugar que te faz se sentir bem consigo mesmo em meio ao caótico turbilhão de emoções que a vida provoca.
Percepções
Quem aqui vos escreve sobre as experiências que a Lorde viveu e transcreveu de forma esplendorosa dentro das 11 faixas, possui o disco como o seu favorito. Além de que são apenas algumas palavras em meio a um oceano de diferentes experiências, então, o que é pra mim, pode não ser para você. Ou sim. Depende.