“A Bolha Ao Vivo”: tudo sobre o novo lançamento de Vitor Kley

“A Bolha ao Vivo em São Paulo”: novo trabalho audiovisual de Vitor Kley encerra a era A Bolha em grande estilo

O roxo é a cor dos sentimentos ambivalentes. Afinal, nenhum outro tom une qualidades tão opostas: fruto da mistura entre azul e vermelho (lembrou das suas aulas de artes?), ele carrega o feminino e o masculino, a fé e o esoterismo, a realeza e a superstição. É a cor das fusões, das misturas — talvez até das poções mágicas.

O roxo é também a cor dos hits. Eva Heller, teórica das cores, descreve o roxo como uma cor “sonora” — que faz barulho, traz atenção para si e representa o que está na moda. Não é especialmente apreciada por todos; afinal, é chamativa e não-convencional. Segundo Heller, “quem se veste de roxo tem que saber por que motivo o faz”.

Esta é justamente a cor da roupa eleita por Vitor Kley para nossa entrevista — mas não me surpreendo com essa escolha quando ele entra na chamada de vídeo. Afinal, quem acompanhou o trabalho do cantor gaúcho nos últimos anos está acostumado a vê-lo de púrpura, lilás ou violeta. Essa seleção inusitada tem uma justificativa: o roxo é a cor da identidade visual do “A Bolha”, álbum lançado por Vitor em 2020, nos primeiros meses da pandemia. Após sonhar que seu próximo trabalho tinha que ser roxo e ouvir de um radialista que aquela seria a cor do ano, Kley a elegeu como símbolo absoluto de seu projeto. “Faz três anos que ando de roxo para todo o lado”, ele brinca.

Após ser lançado, o “A Bolha” conquistou público e crítica ao ser trabalhado com dedicação pelo artista e sua equipe. Foram anos de inúmeras apresentações, turnês pelo Brasil, Portugal, Inglaterra e Itália. No ano de lançamento, a faixa “A Tal Canção pra Lua”, um dos destaques do disco, foi indicada ao Grammy Latino, na categoria “Melhor Canção em Língua Portuguesa”.

O novo lançamento: “A Bolha Ao Vivo em São Paulo”

Timing perfeito

Em 2022, Vitor produziu uma performance documentada do “A Bolha” na Audio, em São Paulo, para criar material audiovisual. Arrebatado pelo resultado, o produtor Rick Bonadio sugeriu que eles investissem no formato. Surgiu assim o “A Bolha Ao Vivo em São Paulo”, lançamento mais recente de Kley e que pretende arrematar esta era de sua carreira em grande estilo.

Segundo Vitor, o timing para a produção deste “ao vivo” — que ele chama, nostalgicamente,  de DVD — não poderia ser melhor. Ao longo dos últimos anos, o cantor e sua equipe acumularam toda a experiência necessária para produzirem o melhor show possível. “Normalmente, as pessoas gravam o ‘ao vivo’ e depois saem em turnê com aquilo que foi montado para o DVD. Fizemos meio que o contrário: já estávamos em turnê com o ‘A Bolha’, mas resolvemos registrar isso agora, porque estava sendo muito legal”.

O resultado é um álbum fluido e sincronizado, de uma performance espontânea e natural — o que Kley ressalta como um dos pontos altos do trabalho. “Quando você está há um tempo tocando e viajando, o que é o nosso caso, já experimentou diversas situações: vários formatos de palco, arranjos, timing das músicas, convenções, falas… Então, chega na hora de gravar o DVD e você realiza a coisa sem perceber. É natural fazer aquilo. Acho que esse é o grande barato do ‘Ao Vivo’: quando as pessoas o assistirem, em casa, conseguirão ver que o show está na nossa mão, que estamos tranquilos, só botando para fora”.

Faixas inéditas

O lançamento da gravação foi estrategicamente dividido em três partes, distribuídas ao longo de outubro. Cada uma delas contou com aproximadamente 7 faixas, sendo uma destas, inédita. Tudo foi pensado para envolver ainda mais os fãs e permitir que cada parte fosse apreciada sem pressa.

A primeira música inédita revelada foi “O Dia de Amanhã”. Composta em homenagem a um primo de Vitor, a faixa é classificada por ele como “uma música pessoal, mais orgânica, com um pé nos anos 90 ou 80”. Na sequência veio “Mal Te Conheço”, uma canção pop descomplicada e de letra entusiasmada, que ele define como um pop chiclete sobre romance. Por fim, veio “Meu Quesito É Saber Viver”, um rock “mais vulnerável, mais libertador”.

Participações especiais

Essa variedade de temas e sonoridades está também na escolha das participações do “Ao Vivo”. Além de sua banda — que Vitor, sempre atencioso, faz questão de ressaltar —, e os produtores Rick Bonadio e Bruno Martini, o DVD conta com artistas como Samuel Rosa, Jorge & Mateus, L7NNON e Priscilla Alcantara.

O critério para essa seleção? Montar um dream team. Cada convidado foi escolhido pensando na sintonia com a música, para que as canções chegassem no seu máximo potencial. “Quisemos pegar os maiores nomes do sertanejo, do rap, também a Priscilla, que está em uma fase maravilhosa e com quem tive uma convivência musicalmente muito bonita. Sobre o Samuel, não tenho nem palavras para falar sobre ele — o cara é um Deus, um príncipe, acho ele um fenômeno, sou muito fã. É muito doido chamá-lo de amigo, conversar com ele pelo WhatsApp”, conta Vitor.

“Além de serem grandes artistas, existe uma conexão entre eles e minha música. Quando escrevi ‘Porta Retrato’, vi que ela era sofrida, sobre um término, e tinha uma onda country rock. Eu e o Simão, que a compôs comigo, já pensamos no Jorge & Mateus — e nossa intuição estava certa. Da mesma forma, quando ouvi ‘Ponto de Paz’ gravada, pensei que ter o L7NNON na faixa seria demais. Um cara super boa vibe, que se cuida e que tem uma mensagem motivacional. Foi demais conhecê-lo e estar mais perto dele. Foi o time perfeito, sou muito privilegiado e honrado de tê-los no mesmo projeto.”

Um olhar sobre a carreira

O DVD é também uma oportunidade para que Vitor celebre sua carreira. Por isso, o setlist contou com “Farol” e “Dois Amores”, duas velhas conhecidas dos fãs, que ressurgiram juntas no show após anos longe dos palcos. Sobre este “momento flashback”, Vitor explica: “Farol era uma música que eu tocava nos shows mas parei, porque não conseguia controlar a emoção naqueles momentos. Meu pai estava passando por uma fase difícil e, por isso, às vezes eu chorava, trazia uma energia que não era a que eu queria transmitir naquele momento. É uma música bem emblemática para os fãs, muitos tatuam a frase de abertura [‘O mesmo céu que chove é o mesmo céu que faz sol’ ]”.

Ele prossegue: “‘Dois Amores’ toquei por muito tempo, mas parei em 2015. Achava que era um pouco boba, porque foi composta por um Vitor moleque, lá em 2010, sobre um romance de colégio. E aí a toquei recentemente e percebi que é uma música boa. Foi bom trazê-la de volta nesse momento especial, a platéia não acreditou quando começamos a tocá-la”. 

No espírito da releitura da sua carreira, Kley também revisitou vídeos de seus primeiros momentos em um estúdio de gravação, em 2009 — antes mesmo que ele decidisse pela profissão “músico”. Essas memórias estão no que podemos realmente chamar de DVD: os saudosos mini DVD-R, filmados por um amigo da família quando durante a gravação do álbum “Eclipse Solar”. Após converter estas filmagens para arquivos MP4, o cantor conclui: “ouvindo os discos ali, pensei ‘cara, que sonzera, o som da bateria, eu cantando afinadinho’… é algo bem legal.”

A mensagem de união e universalidade

Vitor quer incluir mais fãs em sua bolha. Por isso, o “Ao Vivo” transmite a experiência de um real show de Vitor Kley. “Temos uma cenografia, entre aspas, ‘simples’, mas isso é para viabilizar que a levemos para todo o país. Na nossa concepção de trabalho, não adianta ter uma grande cenografia para o DVD não poder levá-la aos shows. Então, achamos uma cenografia bonita e também eficiente. Com isso, conseguimos levar exatamente a experiência que foi gravada para o público.”

Apaixonado por se apresentar ao vivo — coisa que faz desde que começou a tocar em bares, na adolescência —, Vitor encara a vida nos palcos como seu “diamante”: “é o que amamos fazer, e a energia é incrível. Eu penso que aquele show pode ser a única oportunidade de alguém da plateia estar conosco. Então, não podemos economizar: tem que ser uma experiência incrível, e o DVD está assim.”

A simbologia da fusão, própria da cor roxa, está também na mensagem fundamental deste novo álbum. Ao apontar seu maior orgulho sobre o trabalho, Vitor conclui: “é sobre ter a união de várias pessoas, várias participações, e ver todo mundo surfando no mesmo mar. Ter estas pessoas nesse projeto passa uma mensagem de união. A minha filosofia, assim como da minha família, é essa: respeitamos todo mundo, de todas as tribos, e somos curiosos para entender as outras pessoas. Poder juntar tanta gente é um sinal de que a música é universal, o amor é universal. Essa é uma das coisas que eu mais busco como músico e como artista: unir as pessoas e fazer música com parcerias que parecem inusitadas, mas cujas energias se conectam. “

Os planos, agora, são de excursionar com o show “A Bolha Ao Vivo” pelo Brasil. Em seguida, Kley promete surpreender com novas produções. Tudo em seu devido momento: “O tempo é muito precioso. Sabermos trabalhar nossa ansiedade, esperar a hora certa das coisas… e às vezes, quando achamos que é a hora certa, ainda esperar um pouco mais, nos deixa cada vez mais fortes e mais certeiros nas coisas.”

Ouça “A Bolha Ao Vivo em São Paulo” em todas as plataformas de streaming.

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