A edição de 2023 do Festival GRLS! passou longe das projeções negativas

Cercado de todo tipo de comentário, a segunda edição do Festival GRLS! conseguiu apenas somar em praticamente tudo que se propôs

Não teve outra: assim que o line-up da edição de 2023 do Festival GRLS! saiu, após anos da estreia, os comentários negativos foram alarmantes. Entre expectativas diferentes, os nomes das imponentes mulheres confirmadas eram apenas pequenos demais ou pequenos demais em comparação ao elenco da primeira versão.

O que mais fora observado era o quanto aquelas mulheres eram desconhecidas ou simplesmente não estavam a altura, sendo deixado de lado todo talento e fãs que elas movem. Para alguns as artistas eram consideradas meros nomes, mas para outros, o coração dos que as consumia e gostava, palpitava. No fim, o resultado nos dois dias do festival trouxe muita felicidade, liberdade e boas energias.

Não foi preciso de muito ao ir de encontro com o que o festival proporcionou em dois dias. As atrações fizeram apresentações insanas e o evento em si captou todas as projeções negativas e se desvirtuou de um ideal que talvez nunca tenha sido.

Quem foi a responsável por os caminhos foi a baiana Rachel Reis, que em um show quente mostrou vários atributos para cativar novos ouvintes. Em seguida, Lexa trouxe um baile funk dançante e que, sem dúvida, iria reverberar no evento.

Margareth Menezes entrou e o coro de “ministra, ministra” foi entonado forte. Desempenhou um dos shows mais potentes de todos, com regalias que iam de tirar os espectadores do chão até compartilhar mensagens valiosas: “Nós queremos uma sociedade diferente, cada um que está aqui é um soldado dessa mensagem. Não fiquem calados e façam a diferença onde vocês estiverem para lutarmos pelo mundo que a gente quer”, afirmou.

Sendo a atração do meio da programação do primeiro dia, Mariah Angeliq adorava falar em português com o público, sempre agradecendo a presença de todos. Era notável que a cantora é do tipo que não faz tempo feio seja para um público cheio ou com menos cabeças, e sua simpatia é seu melhor atributo pra dar gosto ao show.

O fim de tarde do dia 4 era o momento perfeito para o setlist de Duda Beat que já parecia animada logo no primeiro passo. Duda fez questão de entre músicas verbalizar sobre o quanto a ideia de um festival que prestigie mulheres é importante, e a cada vez que falava o público aplaudia e gritava. Seu show foi potente para dizer o mínimo, e com suas batidas regionais e eletrônicas, Duda se mostra cada vez maior a cada boa impressão que causa enquanto passeia pelos festivais do Brasil.

JoJo, entregou um espetáculo vocal incrível em uma apresentação inspirada. As transições entre cada música não davam tempo para que a plateia tivesse um segundo de paz, e essa decisão deixava tudo cada vez mais energético.

Com um primeiro dia se encerrando com bastante pessoas, pós-show, não houve outros tipo de comentário: Sandy no Festival GRLS! foi de aquecer o coração, mesmo no meio da noite. A sua estreia no palco como artista solo foi carinhosa, bela e cheia de nostalgia. Canções como “Lenda” e “Quando Você Passa” levaram a plateia a cantar em plenos pulmões no Centro Esportivo Tietê.

Quem abriu o domingo, 5, foi DAY LINS, mesmo sendo sua estreia, ela sabia exatamente como se portar perante um público que ansiava pelo o que o dia aguardava — e para quem já a conhecia, vê-la era motivo de orgulho. O mesmo se reflete para Majur, que sabe como centralizar forças maravilhosas quando o assunto é nos fazer adentrar por entre suas canções, mesmo que você não as conheça. E ela aproveitou para anunciar que um novo álbum chega esse ano.

Sob uma escaldante temperatura, lá pelas 14h35, Manu Gavassi subia no palco para ser recebida por um público que cantava em coro as canções das peças escolhidas a dedo no especial “Fruto Proibido”. Um dos pontos altos com certeza foi durante a performance de “Esse Tal de Roque Enrow”. Sem conseguir explicar direito com palavras, Rita Lee estaria orgulhosa. A energia contagiou de tal forma que mesmo o calor não foi capaz de impedir a plateia de pular e cantar em plenos pulmões.

A partir daí, parecia que uma chave viraria e tudo que seguiria criaria um sentimento desesperado e incapaz de fazer com que o público não tirasse o pé do chão. Esse declive se deu acima de tudo por um nome que, agora pós-festival, merece afeto: Blu DeTiger.

A nova-iorquina mostrou-se grata com a plateia, que respondeu muito bem ao som repleto de uma guitarra deliciosa e bateria ardentes. Ensinou aos leigos um dos versos da ótima “Elevator” e então “I go up, go down in my elevator” morou com a galera. Quando ela questionou se alguém conhecia “Style”, de Taylor Swift, a única reação era olhar pro amigo do lado e falar: “Não acredito!”.

DeTiger saia de cena (infelizmente) e a opção para manter os elétrons ativos era virar para trás e curtir os sons dos DJs e artistas que comandavam o palco da Heineken no domingo: além da agitação enquanto se esperava pela próxima atração principal, a ativação trouxe a ideia perfeita para pegar algo para comer ou beber e assistir aos nervosos sets. Tudo executado com destreza por quem estava no comando.

Talvez a curadoria desses “side shows” possa ser considerado um dos pontos mais positivos de toda a festa. Nomes como Negra Li, que por sinal merecia estar no palco principal, Peroli, Pathy Dejesus, Valentina Luz e outros, souberam como cativar dançantes e curiosos, independente do tamanho do lugar que se apresentavam.

Alcione assumia o próximo bloco, e em um show repleto de samba imortal, uma das maiores potências da música brasileira levantou com classe um público carinhoso. Dava para ver muitas pessoas apaixonadas, por alguém do lado, por si mesma ou claro, pela musa. Entregando as vozes para a noite, o show de Anavitória foi regado a brisa pré-chuva com relâmpagos mágicos no céu. A sonoridade das meninas ecoava com uma energia surreal pelo Centro.

A quantidade de público era grande para conferir Tinashe. Com ela encerrando a 2º edição do festival e provando ser um talento extra forte, o que sobrou foi a vontade de mais. Sob uma chuva forte e regada de muito simpatia, dança, vocais e fascinantes canções que estavam na boca de basicamente toda plateia, a passagem de Sweet T foi, no mínimo marcante, e talvez, o maior ato de todo o evento.

O Festival GRLS! vai voltar em 2024, isso já foi confirmado, e o que fica de respaldo para a edição de 2023 é que: além de ter ensinado e gerado comentários que vão muito além de todo o cenário envolvendo o setor de entretenimento artístico, foi uma celebração deliciosa.

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