A história de uma garota chamada Sorte: o tocante livro de Britney Spears está entre nós

Dedicado aos fãs, livro de memórias de Britney Spears vai fundo ao mostrar o outro lado da história

Cercada de maneira obsessiva pela mídia desde sua adolescência, a garota do interior dos Estados Unidos que sonhava em cantar e dançar teve toda sua vida e intimidade escaradas nas capas de revistas de celebridades — quando ainda se liam esse tipo de revistas — ao redor do mundo. A vida de Britney Spears sempre foi um livro aberto. Mas nem mesmo o excesso de atenção da mídia foi capaz de impedir que sua liberdade fosse dilacerada por sua própria família.

No aguardado “A Mulher em Mim” — The Woman In Me, em seu título original —, que estreou como o livro de celebridades mais vendido de todos os tempos, Britney Spears revela o outro lado da história sobre os momentos mais conturbados de sua carreira, da relação com o amigo de infância Justin Timberlake ao casamento com o pai de seus dois filhos, o alpinista social Kevin Federline, e ainda revela detalhes da tutela abusiva a que foi submetida por longos treze anos, um dos assuntos mais aguardados por seus fãs.

E é justamente para eles — os fãs — que Britney dedica o seu livro de memórias. “[…] acho que a minha conexão com os meus fãs os ajudou, subconscientemente, a perceber que eu estava em perigo”, conta a artista em um trecho onde aborda o movimento #FreeBritney, que chamou a atenção do mundo para a sua situação. Mais do que ser privada de sua liberdade e autonomia, Britney Spears era submetida a tratamentos médicos invasivos, dietas restritivas por longos períodos e não podia manter relações afetivas sem o aval de seus algozes.

Durante o livro, Britney nos leva aos bastidores da sua vida, da infância conturbada às aventuras da adolescência e os percalços da vida adulta, de maneira objetiva e sem exageros. Digo, para alguém que sofreu absolutamente tudo o que ela enfrentou, era esperado que suas palavras fossem mais duras, até raivosas. Contudo, é justamente o lado benevolente da artista que prevalece. Apesar de reforçar suas dores, Britney nos conta que segue esperançosa no mundo, no arrependimento de seus tutores e em si mesma.

Britney Spears reforça que busca por sua identidade roubada finalmente acabou, vide o título do livro — cuja frase foi emprestada da canção “I’m Not a Girl, Not Yet a Woman”, uma balada sobre as angústias da juventude onde ela canta sobre “estar tentando achar mulher em mim”. A faixa está no seu terceiro álbum de estúdio, Britney (2001), que também conta com o hit “Overprotected”, sobre uma garota que se sente excessivamente protegida e quer tomar as rédeas da sua vida.

Mas essa não foi a primeira vez que o tema da liberdade apareceu em seu trabalho. Em seu disco anterior, Oops!… I Did It Again (2000), Britney já cantava sobre a “história de uma garota chamada Sorte” que, apesar de toda sua fama, riqueza e beleza, era profundamente solitária. No videoclipe de “Lucky”, Britney observa a vida da estrela de Hollywood interpretada por ela mesma, quase como se estivesse prevendo — e lamentando — seu futuro próximo.

Ao tomar o controle de sua vida, Britney Spears contribui mais uma vez com o mundo que tanto a prejudicou e “muda de vez a conversa sobre saúde mental”, como disse a Forbes. Mais do que uma superestrela vencedora de múltiplos prêmios e artista incomparável, ela segue sendo uma mulher que luta diariamente por sua vida e liberdade. E ainda que fragilizada, muito mais resiliente do que todos nós.

Publicado no Brasil pela Buzz Editora, “A Mulher em Mim” está a venda nos principais sites e você já pode adquirir sua cópia física ou digital.

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Como muitas das pessoas que esperavam por esse livro, eu sou um grande fã de Britney Spears. De membro ativo das comunidades dedicadas à ela no Orkut (alô, 6844 e Zone!) e colaborador de fansite (oi, X-Britney!), me tornei tradutor de seu site oficial, o Britney.com — descontinuado depois que a tutela se agravou. O ano era 2009 e nós ainda estávamos muito distantes de toda a verdade. Hoje, ao ler sua versão da história, um ciclo se encerra. É aliviante saber que ela sabe que nós sempre estivemos aqui.

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