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Aaron Bruno, do AWOLNATION, nos ensina a viver no presente

Líder da banda americana compartilha seu ponto de vista filosófico sobre a vida em entrevista exclusiva ao escutai

É raro ter a oportunidade de conversar com alguém que esteja disposto a compartilhar suas maiores crenças sobre como encarar a vida logo de primeira. Aaron Bruno, vocalista e líder da banda de rock americana AWOLNATION, definitivamente é uma raridade. 

Em um papo descontraído e, em certos momentos, beirando o discurso filosófico, o cantor abriu o coração e dividiu com o Escutai partes da sua vida, seu método de criação, e como lida com sentimentos de glória e de derrota. 

Leia a conversa na íntegra abaixo: 

Júlia: Liricamente e ritmicamente, “Jump, Sit, Stand, March” soa muito como uma música de protesto, mas você diz que é o oposto, certo? Como assim?

Aaron: Eu a vejo mais como uma música de dança. Há muita semelhança entre o que pareceria um protesto e o que parece uma cadência de uma dança ou um pouco de uma cantiga de ninar ao mesmo tempo. Esse ritmo meio que veio para mim. E, se você notar, eu estou dizendo tudo, certo? Eu estou dizendo, “bem, pule, agora sente, agora levante, agora marche”. Então, estou dizendo um monte de contradições.

E acho que o ponto é, não sei se você já se sentiu assim, mas às vezes parece que todo mundo está te dizendo para fazer algo diferente ao mesmo tempo e você está sendo puxado em todas essas direções diferentes, dependendo das notícias que você consome, da plataforma de mídia social que você olha. E acho que essa é a minha maneira de expressar que, às vezes, eu meio que quero ser deixado em paz. E acho que todos poderíamos concordar em só parar e dançar uma música lenta romântica.

Júlia: Eu concordo totalmente. Uma coisa que realmente me chamou a atenção é que a música foi inspirada por uma citação de C.S. Lewis, certo? Eu queria saber exatamente qual era essa citação e como você chegou até ela? O autor foi importante para você em algum momento da sua vida?

Aaron: Eu li isso em algum lugar recentemente. E eu nunca disse isso. Não sei se isso é verdade. Se eu acidentalmente fiz isso…

Júlia: Pois é, vi vários lugares dizendo que a música foi inspirada por C.S. Lewis. E eu fiquei tipo, “ah, foi?”

Aaron: Eu não acho que… Bem, isso não é verdade para mim, mas acidentes felizes também podem acontecer.

Júlia: Sim. E a arte é muito interpretativa.

Aaron: Então, peço desculpas se roubei algo dele sem saber. [risos]

Júlia: Vamos lá, “Panoramic View” e “Jump, Sit, Stand, March” soam muito diferentes, mas sinto que suas mensagens são bastante semelhantes de certa forma. Como você as compara?

Aaron: Bem, tento não comparar, sabe, se não precisar. Mas, sabe, “Panoramic View” é a música que escrevi para minha família, que eu estava tentando começar na época, sem sucesso. Quero dizer, minha esposa e eu estávamos tentando começar uma família, e estava demorando mais do que eu esperava. Sabe, anos atrás, comecei a pensar que, se eu me tornasse pai, como eu abordaria o medo, basicamente. Então escrevi uma música sobre como eu faria isso, o que eu diria a um filho ou filha, e acabou sendo meninos gêmeos, surpreendentemente. Então é uma carta estranha… eu também estava pensando, brincando, com a ideia de viagem no tempo. Eu estava brincando com a ideia de escrever uma carta para o meu eu mais jovem. E o que eu diria como alguém que já passou por algumas coisas a mais do que, sabe, a versão de 12 anos de mim.

Então, acabou sendo todas essas coisas em uma. Mas, sabe, a mensagem por trás disso, suponho, é se apoiar na fé quando o medo vem até você e não desistir de algum tipo de sistema de crença que te ajude a seguir em frente. Sabe, não perder a esperança, seja essa alguma religião que você tenha, música em geral, terapia, meditação ou qualquer coisa entre essas.

Júlia: Perfeito. Então, como você disse, ambas as músicas têm origens e inspirações muito diferentes. Como é o seu processo criativo em geral?

Aaron: Bem, em geral, felizmente, pode vir de muitos lugares diferentes. Eu tenho um piano velho. Às vezes, eu simplesmente me sento e deixo minhas mãos caírem onde elas parecem querer cair e vou a partir daí. Há momentos em que estou apenas andando aleatoriamente durante o dia e uma ideia surge na minha cabeça. Há momentos em que pego uma das minhas guitarras e começo a tocar algo ou ouço um novo som de sintetizador ou até mesmo ouço um pássaro cantando lá fora e isso me leva a algum lugar. Mas eu tenho um alto grau de abertura para estar aberto a todas as possibilidades. E mais importante, estou aberto a escrever uma música ruim. Estou aberto a ter uma ideia que penso, “oh, uau, isso é ótimo… na verdade, isso é péssimo”, e jogar aquela música no lixo e continuar.

Eu acho que você sempre pode escrever uma música melhor. Sabe, não estou dizendo que posso escrever uma música maior do que algumas das que tive sorte de se tornarem maiores do que eu jamais sonhei. Mas você sempre pode escrever algo melhor para si mesmo ou melhorar. Então, tento não ser muito teimoso ou me apegar demais ao passado.

Júlia: E isso não fere o seu ego se você escrever uma melhor?

Aaron: Não, porque eu só estaria ferindo a mim mesmo. Então, se eu escrever uma música melhor, bem, eu só superei a outra música que acabei de escrever.

Júlia: Entendo. O que você espera que as pessoas sintam e aprendam com o álbum The Phantom Five?

Aaron: Espero que um pouco de esperança, sabe. Eu tô vendo suas coisas de Star Wars ali atrás e talvez o mesmo sentimento que tiveram com “Uma Nova Esperança”. Diante de muito medo, muita incerteza em nosso mundo, a música é a coisa em que sempre me apoio. Então, quando todos nós ficamos em lockdown há alguns anos, e é inevitável não falar sobre isso, porque foi uma grande parte da escrita de muitas dessas músicas. Mas estou tentando seguir em frente e não desanimar ninguém e revisitar esse período, sabe, de ficar trancado em nossas casas e tudo mais. Mas eu queria pensar, “qual é a parte positiva que pode ser tirada de qualquer uma dessas situações ruins?’

E acho que a comunhão da música é o que é. E descobri que estava ouvindo muita música antiga que me levava de volta a um tempo inocente, me levava de volta à primeira vez que me apaixonei, me levava de volta à primeira vez que, sabe, estive em uma briga ou qualquer outra coisa e a emoção disso, ou a primeira vez que peguei uma onda surfando e tudo mais. Eu meio que revisitei essas emoções de antes de os adultos entrarem na sala e tomarem conta de todas as nossas vidas. Então, fiz um álbum que espero que tenha um pouco desse sentimento, uma perspectiva nostálgica, talvez com o copo meio cheio, sobre um mundo bastante frustrante.

Júlia: Sim, essa é uma bela mensagem. Me fala um pouco sobre como você e Emily Armstrong decidiram colaborar?

Aaron: Eu considerei um monte de cantores diferentes para aquela parte da música “Jump, Sit, Stand, March”, o segundo verso, e meio que cheguei a ela porque ela era alguém que eu sempre gostei muito como cantora. Temos algumas semelhanças na maneira como cantamos. E a verdade é que eu simplesmente acho ela incrível. Ela disse sim, foi muito fácil e foi muito divertido. Ela é simplesmente maravilhosa.

Júlia: Sim, ela parece retribuir o sentimento. Agora, eu sei que isso já foi muito comentado, mas, como fã da série, eu realmente queria perguntar, como foi ter “Sail” aparecendo em Fleabag?

Aaron: Esse foi um dos meus principais momentos de uso dessa música e, sabe, coisas comerciais como essa ou entretenimento. Eu tinha sido informado de que estava na série, mas esqueci. Minha esposa e eu assistimos à série e as pessoas continuavam nos dizendo “ei, a série Fleabag é incrível”. E era incrível. E quando é que vem a nova temporada? Tem uma nova temporada? Acabou? O que está acontecendo com isso? Eu nem sei. De qualquer forma, eu fiquei impressionado com aquela parte, não estava esperando. Aí minha esposa e eu nos olhamos meio “uau, isso é incrível”. Foi engraçado. Foi leve. 

Mas não foi apenas um grande momento na série e hilário. Não posso me relacionar com os sentimentos que ela sentiu…

Júlia: De TPM.

Aaron: Exatamente. Mas me senti muito honrado que eles escolheram minha música para isso. E a maneira como cortaram para combinar com o ritmo da paranoia dela, olhando para as pessoas, foi muito legal. Tive uma sorte incrível de ter algumas dessas músicas usadas e coisas diferentes e incríveis como essa. Por exemplo, minha música “Run” foi usada no trailer do filme “Han Solo: Uma História Star Wars” e nem mesmo a parte que a maioria das pessoas conhece. Foi apenas o instrumental. E me senti como, “ei, eu sou parte do legado de Star Wars para sempre”, sabe?

Júlia: E você tá certo.

Aaron: Eu tenho a Força agora.

Júlia: Definitivamente. Do lado sombrio?

Aaron: Ainda não sabemos. A ser determinado.

Júlia: Muito válido. Então, AWOLNATION já existe há 14 anos. Para onde você se vê indo no futuro?

Aaron: Não me preocupo com isso. Eu não faço ideia. Só espero ter feito o melhor álbum que eu poderia fazer agora, neste momento. E se for o último álbum, ficarei muito orgulhoso disso. E se for, sabe, o começo de um novo capítulo, isso seria ótimo também.

Júlia: Ótimo. E essa é, na verdade, minha última pergunta. Você planeja vir ao Brasil em breve?

Aaron: Não diretamente em breve, mas o próximo ano seria um ótimo momento para nós virmos. Então estamos tentando resolver tudo isso agora.

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