Ficar seis anos sem um material novo, hoje, musical e mercadologicamente falando, é algo impensável. Mesmo para o Of Monsters and Men, que, em 14 anos de carreira, lançou apenas quatro álbuns de estúdio, é muito tempo. Porém, dado o teor de sua discografia, esse silêncio ficou longe de ser angustiante — foi, na verdade, reconfortante.
A trajetória da banda é uma síntese do que foi o indie na década passada. Seu álbum de estreia, My Head is an Animal (2011), condensou a ascensão meteórica que o gênero teve nos anos 2010. Já Beneath the Skin (2015) consolidou a banda junto a um gênero que também se consolidava e pendia para o mainstream — época que, inclusive, convergiu com os tempos áureos do Lollapalooza, que se calcou na missão de disseminar o estilo. No entanto, Fever Dream (2019) resumiu a bagunça em que essa vertente se tornou, em um cenário onde outros gêneros de natureza igualmente independente e underground começaram a tomar a cena.
O baque desastroso do terceiro disco, somado ao período de pandemia, pode ter sido responsável pela quebra de padrão que vinha se formando — um disco a cada quatro anos. Mas, ao ouvir All is Love and Pain in the Mouse Parade, toda essa espera se fez necessária — tanto para nós, ouvintes, quanto, principalmente, para eles.
Fica nítido que esse registro mostra um grupo ainda recalculando a rota. Porém, mesmo com o vício de voltar ao que era, aqui há quase uma reencarnação deles neles mesmos. Tudo o que tornou a banda islandesa tão característica ainda está presente, mas o amadurecimento vindo de 14 anos de trajetória é evidente. O teor mitológico sai de cena, e uma obra mais pé no chão e adulta nasce. É como se o brilho nos olhos tivesse se apagado, mas o amor pela música permanecesse.
Não espere os vocais bem-intencionados, a melodia fantasiosa ou, muito menos, a dinâmica milimetricamente dividida entre Nanna Bryndís Hilmarsdóttir e Ragnar Þórhallsson. O álbum deixa claro que, por mais que tentem, não é o mesmo Of Monsters and Men de antigamente — mas, de maneira inteligente e honesta, eles são ainda mais lúcidos ao entender que seu público também amadureceu.
Os singles “Television Love” e “Ordinary Creature” sintetizaram os rumos que a banda buscou tomar a partir desse registro. Há lampejos do que o grupo já foi outrora, mas tais características aparecem mais lapidadas, com uma instrumentação mais voltada à orquestra, letras mais soturnas e humanas, e até tímidas batidas eletrônicas que, de forma extremamente sutil, flertam com os maiores nomes islandeses na música: Björk e Sigur Rós.
Usar a terra natal como atmosfera foi um dos grandes acertos. Um dos motivos para Fever Dream ter dado tão errado foi justamente a distanciação do que a banda já havia sido — um afastamento que veio ao mesmo tempo em que ultrapassavam as fronteiras da ilha ao norte da Europa. Nesse sentido, All is Love and Pain in the Mouse Parade funcionou como um exercício de se recolher em sua própria insignificância — não de forma autopiedosa, mas buscando entender seu lugar e caminho no mundo.
Mas, justamente por isso, o álbum ainda parece tentar se encontrar. Em alguns momentos, ele se perde nas estradas que traça, como na gigantesca “Fruit Bat” e na indiferente “Kamikaze”. Ainda assim, o saldo final é mais positivo que negativo. Nessa tentativa de emular o Flautista de Hamelin, Of Monsters and Men guia esse desfile de ratos por sua própria história, numa investida para entender seu lugar no mundo e na música. E, como todos sabemos, muitas vezes, a jornada é mais importante que o destino final.