Poucas bandas conseguem despertar um sentimento coletivo tão poderoso quanto o Guns N’ Roses. E ver a banda abrir a etapa brasileira da nova turnê — “Because What You Want and What You Get Are Two Completely Different Things” — na Arena Opus, em Florianópolis, foi a prova viva disso. Mais de 28 mil pessoas transformaram a noite de segunda-feira (21) em uma celebração quase ritualística, um encontro entre gerações que seguem acreditando no poder da guitarra, da performance e, claro, do caos controlado que só Axl, Slash, Isaac e Duff sabem entregar.
O que mais me impressionou foi a entrega. Axl Rose, aos 63 anos, ainda é um frontman que segura o público no grito, mesmo com a voz já mais marcada pelo tempo. Slash, por outro lado, parece imune aos anos — cada solo seu em “Sweet Child o’ Mine” ou “November Rain” é uma lembrança viva de por que o rock ainda pode ser arrebatador quando há alma e técnica na medida certa. Duff McKagan mantém o groove firme, e o novo baterista, Isaac Carpenter, trouxe um peso moderno e preciso, renovando a base sonora sem perder o DNA original.
O setlist foi um presente para quem cresceu ouvindo o Guns N’ Roses e para quem os descobriu agora. Entre clássicos como “Welcome to the Jungle”, “Don’t Cry”, “Patience” e “Paradise City”, houve espaço para surpresas — uma homenagem a Ozzy Osbourne com “Sabbath Bloody Sabbath” e o cover inédito de “I Wanna Be Your Dog”, do The Stooges. É curioso como a banda consegue equilibrar o peso da nostalgia com lampejos de reinvenção, sem soar como um tributo a si mesma.
A estrutura do evento foi outro show à parte. Segundo informações repassadas para a imprensa foram dez carretas de equipamento; cinco mil metros de cabos, 400 metros de painel de LED e um palco de 50 metros de largura por 17 de altura — tudo para sustentar um espetáculo digno da história do grupo. A Opus Entretenimento e a Mercury Concerts conseguiram entregar uma produção que dialoga com o padrão das grandes turnês mundiais. Florianópolis virou, por um dia, o centro do rock mundial — e isso movimentou hotéis, bares, restaurantes e, claro, os corações de quem esperou anos para viver esse momento.
Assistir ao Guns N’ Roses em 2025 é presenciar um pedaço vivo da história do rock ainda pulsando. Poucas bandas com quase quatro décadas de estrada conseguem soar tão afiadas. Desde Appetite for Destruction (1987) — o disco de estreia mais vendido da história dos Estados Unidos — até os tempos de Chinese Democracy, a banda sobreviveu a egos, separações e décadas de reinvenção da indústria musical. E mesmo assim, lá estão eles, de novo no palco, tocando como se ainda tivessem algo a provar.
Não é só um show; é um lembrete do porquê o Guns N’ Roses ainda importa e se sustenta não só por nome mas por qualidade. Quando “Paradise City” encerra o set, fogos estouraram, o público cantou junto e o mundo pareceu, por alguns minutos, menos cínico. O rock pode ter mudado, o tempo pode ter passado — mas a chama, essa, ainda está lá. E em Florianópolis, ela queimou mais forte do que nunca.