Ela é uma das maiores estrelas da música pop de todos os tempos, e sua discografia — que também pode ser considerada como fundação do que escutamos e vemos hoje — reflete muito bem isso.
Esse texto tem o grande e complicado desafio de avaliar cada um dos 9 álbuns de estúdio lançados por Britney Spears ao longo dos seus mais de 20 anos de carreira e que resultam em mais de 150 milhões de cópias vendidas mundialmente. Não é para qualquer um.
Vale destacar que essa avaliação é pessoal mas no exercício de enxergar o impacto e a percepção geral sobre cada um dos lançamentos, levando em consideração o contexto na vida da Britney e como estava o mundo na época de cada lançamento. Are you ready?
9. Britney Jean (2013)
‘Britney Jean’, lançado em meados de 2013 chegou com a promessa de entregar uma sequência de hits dançantes e com a pegada eletro-pop que tanto esperávamos (quase como uma evolução do ‘Femme Fatale’, que falaremos em breve). A expectativa era ainda maior por se tratar de um álbum com produção de Will.I.Am, que no ano anterior havia apresentado ao mundo “Scream and Shout” — e por ser obviamente uma das principais, se não a principal, cabeça do Black Eyed Peas.
O resultado de tanta expectativa? Deserto. Literalmente. Indo desde a enorme expectativa criada com o anúncio do álbum e da residência em Las Vegas em plena madrugada no deserto de Mojave até à péssima sequência de tentativas de emplacar novos grandes sucessos.
“Work Bitch” é com certeza a única exceção dentre todas as faixas do álbum (ou será que escutamos tanto que acabamos aprendendo a gostar dela?), que conta com instrumentais que parecem não acompanhar os vocais e que força ao extremo músicas que nem os fãs conseguem passar pano (tudo bem aí “Chillin With You”?).
Falando em “Chillin’ With You”, que facilmente entra na lista de uma das piores músicas já lançadas pela equipe da Britney, a faixa conta com a participação de Jamie Lynn Spears, irmã da princesa do pop.
O fato é que ‘Britney Jean’ não é um reflexo do momento musical da Britney ou sobre grandes composições ou instrumentais. O álbum hoje é um sinal claro de alerta sobre o quanto a curatela que Britney esteve submetida por 13 anos estava sendo abusiva. Um disco que ao ser reproduzido hoje mostra uma entrega fria, sem sentido e porcamente executado — culpa do Team B e não dela, diga-se de passagem.
8. …Baby One More Time (1999)
Agora que já falamos da pior parte de toda a discografia, começamos a entrar de vez naqueles álbuns que realmente fazem sentido e que contribuíram com a história do pop.
Lançado em 1999, ‘…Baby One More Time’ foi o grandioso debut de Britney no mundo da música. Depois do avassalador lançamento do single em 1998 e com idas à Suécia, terra do pop, para gravar as demais canções do disco, Britney conquistou o mercado fonográfico com o seu jeitinho inocente e o pop chiclete que já tinha sido emplacado com boybands como Backstreet Boys e Nsync.
“Crazy” e “Sometimes” reforçam a característica de boa moça, mas que tinha toda presença de palco possível. Era um misto de puritanismo com atitude, deixando o mundo boquiaberto com o sucesso avassalador. Mérito aqui à “Born to Make You Happy”, “From The Bottom of My Broken Heart” e “Autumn Goodbye”, clássicos quase nunca lembrados e que complementam o DNA clássico e gostoso do BOMT.
Ainda hoje ‘Baby One More Time’ segue como o maior sucesso da carreira de Britney, mas que ficou datado como clássico anos 90. O que de certa forma não é ruim já que nos álbuns seguintes a cantora, dançarina, performer e faz-tudo provou que havia chegado para ficar.
7. Femme Fatale (2011)
Quem foi que disse que farofa é coisa ruim? O melhor do eletro-pop fica em 7º lugar nessa lista com ‘Femme Fatale’, o sétimo álbum da carreira de Britney Spears. Escutar o FF faz com que você não queria pular faixa alguma, com sucessos que entraram na lista de clássicos como “Till The World Ends”, “I Wanna Go” e a esquecida no churrasco “Hold It Against Me”.
Para os mais ligados aos charts e os comentaristas da Billboard no Twitter, o ‘Femme Fatale’ teria o potencial de entregar muitos sucessos que não foram lançados como single — destaque aqui para “(Drop Dead) Beautiful”, “Gasoline”, ‘Up n’ Down”.
O álbum tem participação especial de Will.I.Am em “Big Fat Bass’, o que o provavelmente o credenciou para ser produtor do ‘Britney Jean’, e de Sabi (por onde anda Sabi?). Nicki Minaj também dá as caras no remix oficial de “Till The World Ends”, que foi composta por Ke$ha. Talento, coesão e aclamação.
A turnê do álbum foi a responsável pela segunda vinda de Britney ao Brasil para duas apresentações por aqui, uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro, que posteriormente seguiram seus caminhos para outras cidades da América do Sul.
É bom, é gostoso e talvez não merecesse o sétimo lugar, mas foi o que deu pra hoje.
6. Circus (2008)
Há quem diga que o ano de 2008 foi marcado pelo retorno de Britney aos palcos após o período mais turbulento de sua vida. ‘Circus’, lançado no dia do seu aniversário de 27 anos(!) chegou para marcar como um dos seus álbuns mais conceituais — indo desde a faixa título, as performances de divulgação e até a aclamada The Circus Starring: Britney Spears (ou simplesmente Circus Tour).
O álbum entrega um pop chiclete e bem mais comportado do que os dois trabalhos anteriores de Britney, mas que não deixa de lado a força dominatrix com “Womanizer” e indo até o lado maternal com “My Baby”. Mas estamos falando de Britney Spears, e como é que vamos deixar as polêmicas de lado? E é aí que entra um dos seus singles mais subestimados e que conseguiu causar nas rádios americanas (e sendo até censurada em algumas delas): “If U Seek Amy”, que soletrado em inglês ganha a sonoridade de “Fuck-me”.
O fato é que o disco se torna uma miscelânea de hits perfeitamente pops e que, inclusive, dão a oportunidade do ouvinte de relembrar “Radar”, música produzida pela icônica dupla Bloodshy & Avant e que deveria ter se tornado um single em ‘Blackout’ — mas que devido a todo caos, foi inserido como bônus track do ‘Circus’.
Obrigatório para quem escutar o álbum completo: ir atrás das bônus track japonesas “Quicksand”, “Trouble” e “Amnesia” — músicas que poderiam muito bem fazer parte da tracklist oficial e com potencial de single. Juro. (Particularmente sinto um ódio por não ter elas no álbum internacional).
Destaques para escutar e apreciar: “Kill The Lights” e “Mannequin”.
5. Britney (2001)
O que dizer de um álbum que já começa te dando um tapa na cara chamado “I’m a Slave 4 U”? O ‘Britney’, lançado em 2001 é por muitos considerado como o disco que definiu quem Britney Spears é na música pop. E se falamos de pop chiclete, aqui ela entrega uma evolução bem mais madura da até então menina mulher, no famoso momento “I’m Not A Girl Not Yet A Woman”.
O terceiro álbum de estúdio de Britney não foi um mega sucesso nos charts, impactado principalmente por um boicote que a cantora sofreu durante negociações sobre qual empresa seria a responsável por conduzir a divulgação daquela que na minha opinião é a melhor turnê de todos os tempos na carreira da cantora: a Dream Within A Dream Tour.
Mas quem disse que aqui estamos falando só de charts? O Britney é sobre arte, sobre música pop de qualidade e hits que entraram para a história. Além dos que citei no início, o disco teve como singles “Overprotected” (que posteriormente ganhou um single remix – Darkchild Remix), “I Love Rock’n Roll”, “Boys” e “Anticipating” (apenas em alguns países).
Resumo da obra? Uma transformação musical e de identidade sem esquecer das suas raízes abençoadas por Max Martin, mas aberta para a maturidade que ainda estava por vir.
4. Oops I Did it Again (2000)
I think I did it again… em 20 segundos de música ela já te arrebata com um dos maiores sucessos da história da música de todos os tempos — e aqui sem fã-clubismo. ‘Oops… I Did It Again’ talvez seja a carteira de identidade de Britney Spears.
A maior de todos os tempos. Para sempre. O álbum fica no quarto lugar dessa lista por entregar, ou melhor, presentear o mundo com uma atualização do que até então conhecíamos como pop chiclete que ela introduziu com gosto em ‘Baby One More Time’.
Escutar o segundo álbum de estúdio de Britney hoje pode parecer datado pelas batidas que foram replicadas ao extremo por outros artistas da época e que chegaram até o Brasil com versões sampleadas e interpretadas pela antiga girl group SNZ (Escute depois “Retrato Falado”). O disco também foi o responsável pela primeira vinda da cantora ao Brasil com a Oops World Tour, durante o Rock In Rio 2001.
Passando de “Oops”, temos outros grandes sucessos que marcaram a época e se tornaram hits atemporais como “Stronger” que na minha opinião é mais maduro e literalmente forte do que o álbum que o recebe. É como se a música fizesse mais sentido sonoro no Britney (álbum), do que no Oops.
Outro single e que desde aquela época ilustrava como era a vida de uma grande superstar, mas que apesar de amada e cercada pelo público, chorava à noite sozinha ao som de “Lucky”. “Don’t Let Me Be The Last To Know” também virou single, mas talvez um dos mais apagadinhos e esquecidos quando olhamos as demais baladinhas lançadas pela cantora.
Destaque aqui para “What U See Is What U Get” e “Don’t Go Knockin On My Door”, que apesar de perfeitas, muito provavelmente não se tornaram singles por uma similaridade instrumental, entrando na mesma categoria do que citei sobre as batidas datadas.
Para fechar vamos de carteirada? ‘Oops I Did It Again’ é o segundo álbum feminino na primeira semana de todos os tempos nos EUA — o recorde foi recentemente superado pela Adele e o ’25’. Enfim, mais de 20 milhões de cópias vendidas mundialmente.
3. Glory (2016)
Hora de um belo salto temporal. Da menina inocente que explorava territórios nos anos 2000 para um álbum maduro, glorioso e pleno lançado em 2016. O ‘Glory’ chegou às prateleiras como o mais recente trabalho de Britney durante a reta final de uma série imensa de shows em Las Vegas.
Com uma performance que não promete mas que entrega segurança, Britney leva ao público do Video Music Awards daquele ano “Make Me”, seu novo lead single com participação especial do rapper G-Eazy. O single, que apesar de bem recebido pela crítica e pelos fãs, começou a apresentar vestígios conturbados da tutela da cantora com uma versão cancelada do clipe da música — o que muitos dizem ter afetado significativamente o lançamento do álbum.
Apesar disso, foi possível ver uma Britney aparentemente bem mais envolvida com o trabalho geral do álbum, mais presente na composição das faixas e com vários produtores compartilhando a seriedade da cantora nas sessões de estúdio.
Falando do segundo e último single oficial do ‘Glory’ foi lançado 4 meses após “Make Me”. “Slumber Party”, que ganhou aos 45 do segundo tempo uma participação especial de Tinashe entrega o famoso hit que não foi apreciado por muita gente.
O fato é que o ‘Glory’ começou a ser apreciado pelos fãs nos anos seguintes, inclusive durante o movimento #FreeBritney, o que fez com que em 2020 ele fosse relançado com uma nova capa (e decente – muito provavelmente barrada em 2016) e com faixas inéditas. Um agradecimento da cantora aos fãs pela mobilização.
Desse relançamento destacamos “Mood Ring” (que até então era faixa exclusiva japonesa — como sempre os japoneses ganhando mimos!) e “Swimming in the Stars”, que merecia muito um videoclipe.
Passando a régua no Glory, é obrigação escutar, além das citadas anteriormente, “Invitation” (que Britney diz ter se inspirado em Selena Gomez), “Man on the Moon”, “Better”, ‘Change Your Mind (No Seas Cortes)”, esse último um hit orgânico por aqui.
2. In The Zone (2003)
Se o ‘Glory’ é a maturidade, o ‘In The Zone’ foi a virada de chave entre a garota pop para a mulher que sabe muito bem o que quer. E como consagrar esse título? Que tal começar o álbum com um single que conta com a participação especial de Madonna.
Em “Me Against The Music”, Britney e Madonna voltam a provocar a indústria com insinuações pós o icônico beijo do VMA 2003. Com um violão tocando ao fundo em todo o instrumental, você sente logo de cara que a partir dali você irá conhecer um lado diferente de Britney. Mais sexual, mas direta ao ponto e porque não dizer, à procura de prazer com as suas próprias mãos em “Touch of My Hand”.
Se falamos que Oops era como uma identidade de Britney Spears, podemos afirmar que “Toxic” chega como uma segunda via do documento. Moderno, atualizado e contemporâneo, entregando sensualidade em um hit que tem uma mistura de samples indianos com o melhor do pop, composto por Bloodshy & Avant e inicialmente oferecido para Kylie Minogue (obrigado Kylie por não aceitar).
E se sexo era até então um assunto tabu e polêmico na carreira da artista que era frequentemente questionada sobre sua virgindade, “Breathe on Me”, “Early Mornin” e ‘Touch of My Hand” vem para botar um ponto final nesse assunto. Levando o tesão não só para as músicas como para a The Onyx Hotel Tour, com direito a performance simulando sexo e beijo na boca no palco. O famoso ao vivaço.
Mas tudo se renova e transita para uma nova vibe do álbum com a sua balada mais famosa de todos os tempos, que seria direcionada ao ex-relacionamento Justin Timberlake. “Everytime” marcou o álbum e segue até hoje sendo considerada uma das faixas favoritas dos fãs. “Shadow” é outra baladinha gostosa do ITZ mas que literalmente fica à sombra de “Everytime”.
Diferente de tudo o que Britney já havia feito em seu currículo musical, o ‘In The Zone’ coloca nas caixas de som uma variedade de músicas que misturam o R&B, Hip-hop e a música pop no famoso conceito urban. Aquele estilo bem subúrbio nova iorquino que fica claramente retratado em “Boom Boom (I Got That)” e “Outrageous” — o fatídico single em que Britney quebrou o joelho durante as gravações do clipe, impondo assim um encerramento forçado na era, cancelando dezenas de datas da tour.
O disco encerra com algumas faixas que parecem um aproveitamento solto de faixas mais pop (e que não emplacam tanto como as músicas anteriores do álbum), como” The Hook Up” e “Brave New Girl”.
1. Blackout (2007)
I see you, I just wanna dance with you. É ela, Britney Bitch no seu álbum mais aclamado, em um dos períodos mais sombrios de sua vida. A energia que circunda o ‘Blackout’, marcado principalmente pelas suas batidas electro pop com sintetizadores que até então não haviam sido explorados decentemente no passado conquista. Conquista e te leva para um canto da pista de dança que com certeza você nunca havia visitado antes.
Quer uma prova disso? Pegue seus melhores fones de ouvido e escute em sequência “Gimme More” e “Get Back” (faixa que foi bonus track de qual país? Isso mesmo, Japão). Uma combinação surreal com a marca registrada do Danja como produtor. “Get Back” é uma faixa tão, mas tão potente que inclusive chegou a ser cogitada como lead single do álbum.
Mas o Blackout não para por aí. ‘Piece of Me” é um f*da-se para os paparazzi, os curiosos e o mundo. Britney Spears só quer curtir a vida, parar de ser perseguida e dançar como se não houvesse amanhã.
O álbum continua sua sequência de sucessos indo para Radar, que apesar de na época ser a favorita dos fãs para se tornar single, acabou sendo reposicionada para o ‘Circus’ (2008), como comentado anteriormente. No lugar, recebemos “Break The Ice”, o primeiro videoclipe de Britney em forma de animação, representada por uma espiã com ares de Toxic e que termina com uma mensagem esperançosa — mas que nos deixou no mesmo ponto de ônibus que os fãs da segunda parte do clipe de “Telephone”: um To Be Continued que nunca veio.
E aqui não tem espaço para ficar triste (literalmente, com “Why Should I Be Sad”, dando algumas belas alfinetadas no ex-marido da cantora), o ‘Blackout’ é uma pista de dança promíscua, divertida e elétrica. Tudo aquilo que ela viveu em 2007 e que muitos de nós só fomos compreender depois. Get naked, get naked, take it off, take it off…
O ápice, o suprassumo. O que muitos tentaram e não conseguiram, ela conseguiu. The legendary Britney Spears entrega uma pista de dança tão boa quanto Madonna e suas confissões do pop.
Conclusão, se é que dá para chegar em alguma.
A discografia de Britney Spears é uma das mais versáteis da indústria musical, passando por diferentes ritmos, estilos e características temporais tão bem executadas que dão a ela o título de princesa do pop e a reverência que merece.
Uma artista que não precisa provar mais nada a ninguém, que entrega o que os fãs querem e que serve de inspiração para toda uma nova geração de cantoras mundo a fora.
Se alguém ainda tinha alguma dúvida, fica aqui a prova de que it’s Britney bitch.