Com “Breach”, Twenty One Pilots revisita suas origens e apresenta o último ato da história de Dema

Em seu intervalo mais curto entre discos em toda a carreira, o Twenty One Pilots retorna apenas 16 meses após o lançamento do bem-sucedido Clancy (2024), álbum com o qual a banda veio ao Brasil pela primeira vez com uma turnê fora de festivais, trazendo a experiência de Dema e Trench (2018) para três cidades brasileiras em janeiro deste ano. Intitulado Breach (2025), o novo trabalho serve como um ponto final da saga que marcou a fase mais ambiciosa da discografia do grupo, reunindo referências sonoras e líricas de toda a trajetória de Tyler Joseph e Josh Dun. Mais do que concluir uma história, o álbum funciona como uma catarse artística, celebrando sua trajetória ao lado de sua dedicada base de fãs.

Iniciada em 2015 com o álbum Blurryface, a narrativa do Twenty One Pilots apresenta o personagem que dá nome ao projeto, uma personificação dos medos e inseguranças enfrentados pelo vocalista Tyler Joseph. O que começa como a história de um único personagem se expande em Trench (2018), transformando-se em um universo mais complexo, onde somos apresentados à cidade murada de Dema, governada por nove bispos liderados por Blurryface, aqui identificado como Nico, e aos banditos, fugitivos que escaparam do sistema opressor de Dema e encontraram refúgio no continente de Trench.

Scaled and Icy (2021), lançado durante a pandemia, surge como o trabalho de estética mais distinta dentro da discografia, com uma sonoridade mais colorida e otimista. Essa mudança reflete não apenas a busca por escapismo da dupla em um momento difícil, mas também se integra à narrativa, sendo interpretada como uma propaganda criada por Dema para manipular seus cidadãos por meio da imagem do duo.

Além de refletir em vários dos temas explorados pelo duo ao longo de uma década e trazer o desfecho iniciado em Clancy (2024), Breach (2025) representa, acima de tudo, a ideia de ciclos. Assim como a conclusão da lore construída pela banda, o álbum reforça que todo fim também carrega em si um novo começo. Neste capítulo final, o Twenty One Pilots revisita suas origens: tanto a sonoridade, como nas faixas “Tally” e “Downstairs”, quanto alguns trechos de outras músicas remetem especificamente ao primeiro álbum lançado oficialmente por Tyler Joseph e Josh Dun como duo, Vessel (2013). Exemplos disso são a inserção do verso “entertain my faith”, da faixa “Holding on to You”, em “City Walls”, e o fato de “Intentions”, que encerra o disco, ser uma espécie de versão invertida de “Truce”, última faixa de Vessel (2013). Além disso, a faixa inicial do álbum, cujo clipe encerra a narrativa, também se conecta ao início dessa jornada, que teve seu ponto de partida com o clipe de “Heavydirtysoul”.

Em termos de sonoridade, Breach (2025) se diferencia de seu álbum irmão por ser mais ousado e versátil, explorando uma ampla gama de estilos. O nu metal aparece de forma intensa em faixas como “The Contract”, enquanto “Center Mass” se destaca por seu caráter maximalista, funcionando como uma fusão caótica e vibrante entre elementos de jazz e pop punk. Outra mudança marcante no disco é a ausência do ukulele, um dos instrumentos de maior destaque na discografia do Twenty One Pilots até então. Em contrapartida, os riffs de guitarra, antes discretos no repertório da dupla, ganham protagonismo na contagiante “Robot Voices”, uma faixa com estética indie pop criada em colaboração com a banda independente Blanket Approval. Além desta, “One Way” também integra a parte mais pop do disco.

Apesar de agridoce, o final mostrado no vídeo de “City Walls” é realista, uma vez que todos esses elementos narrativos funcionam como alegorias para questões como saúde mental, depressão e ansiedade. Somada a isso, “Intentions”, descrita por Tyler Joseph como uma reflexão pessoal sobre o desfecho escolhido para a história, contribui para reforçar mais uma vez que a vida é composta por ciclos que podem conter quedas e superações, fins e recomeços, além de mostrar que, embora não exista uma resolução definitiva, sempre há espaço para reconstrução e crescimento.

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